julho 07, 2007

Beba com moderação!

Numa bela (!) manhã de trabalho (!!!), lá estava eu aguardando tranqüilamente minha participação num próximo procedimento, quando fui abordado por uma esbaforida auxiliar de centro cirúrgico: Dr. Morpheus, acuda, tem uma mulher se afogando nela mesma lá na sala de espera do ultrassom. Não entendi muito bem o que poderia ser aquele “se afogando nela mesma” mas fui ver assim mesmo. Troquei de roupa e me dirigi ao setor de ultrassom onde encontrei uma senhora portadora de insuficência cardíaca (o mesmo problema de ACM) por causa da doença de Chagas (o mesmo problema de muitos baianos) agonizando, afogada, no líquido que passa para dentro dos pulmões quando o coração não consegue mandar o sangue para frente. Acontece que a pobre coitada chegou para fazer um ultrassom ginecológico e, após se apresentar, foi imediatamente inserida na rotina de beber vários copos de água com o objetivo de encher a bexiga urinária e facilitar a identificação das estruturas pélvicas durante o exame. O ultrassonografista paralisado na porta do consultório olhava para tudo com seu aparelho na mão como que a me dizer:só sei lutar com esta arma!

Oh god, eu que não morro de amores pelas segundas-feiras e muito menos pelo trabalho com o qual fomos amaldiçoados (“...Ganharás o pão com o suor do teu rosto...”) assumi a disposição que se deve assumir perante o inevitável e arregacei as mangas para tentar por em marcha algum tratamento possível naquele ambiente. Cercado por gente pouco qualificada, procedi iluminadamente e consegui reverter o caos naquele que não era o dia da partida da desavisada paciente. O quadro da paciente se estabilizou e, ungido por um sorriso de náufraga resgatada, encaminhei-a para a UTI para um restabelecimento tardio supervisionado e em melhor “ambiente”. Parecia uma cena final de filme épico: a maca se distanciava em direção à UTI, a paciente acenava emocionadamente, algumas auxiliares choravam, o ultrassonografista (como Pilatos) no lavabo, lavava as mãos e, a meu lado, o maqueiro Xexéu, conhecido por seu alcoolismo histriônico, arrematava com espirituosidade o fim do episódio:

- O senhor vê, Doutor, se a gente bebe mais do que agüenta, qualquer coisa pode matar, até água!

Concordei e assenti com um sorriso de canto de boca; fui correspondido, ato contínuo, por Xexéu que parecia se sentir absolvido para, naquela mesma segunda-feira, dia da semana em que costuma celebrar uma abstinência simbólica e possível somente àqueles que não se consideram “viciados”, enfiar o pé na jaca e beber simbolicamente ao seu “Savoir Vivre”

C’est la vie, monsieur!


Este final de semana escutarei com atenção o disco abaixo. Clique na figura baixe o arquivo e ouça também o som daquele que se diz uma das verdadeiras influência de Tom Jobim quando da criação da Bossa Nova

Um comentário:

Anônimo disse...

Disco maravilhoso, Morpheus e Caeteno sabem das coisa.
toni

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