outubro 03, 2010

A Capelinha de Milão não é de São João

Bem galera...
Voltei!
Não sabia mais o que fazer e, entre beber vinho brasileiro escutando MPI (música popular italiana) ou fazer o contrário, fiquei com a segunda opção:
Vinte dias sob o sol da Toscana com direito ao bônus de me afastar, como um FHC auto-exilado, deste indigente "espetáculo" da democracia na companhia do meu iPod entupido de pérolas encontradas no sítio Umquetenha

Passear pela Itália, testemunhar tudo que de comum há entre eles e nós e ao mesmo formular uma série de hipóteses de como um país minúsculo governado por Berlusconi com a máfia de contraponto pode ser tão monumentalmente distinto é uma das tarefas mais complexas que um brasileiro pode se impor.
Algumas pontos sobre os quais meditei:
A Itália como país tem apenas 150 anos!
O litoral Italiano, pasmem, em extensão, é maior que o brasileiro!
Constroem túneis e estradas num piscar de olhos! (parecem ter sido asfaltadas no século passado e ainda assim não tem buracos)
Vendem coisas raras a preços altíssimos: tartufo bianco p/ex.
Vendem coisas comuns a preços também altíssimos: griffes italianas.
Consomem maciçamente travestis e granitos raros de países do 3° mundo: brasileiros p/ex (travestis e granitos)
Vestem-se bizarramente e são considerados elegantes!
As mulheres de lá ainda não conhecem o protetor solar!
Fazem do design uma palavra digna de ser escrita com "D" maiúsculo
Vinho, sorvete e café espresso são impressionantemente bons e comuns
Tem um léxico impressionante de palavras para expressar tédio, impaciência e frustração
São teimosos, nervosos e marrentos: os padeiros da toscana brigaram há séculos com os comerciantes de sal e, por isto, ainda hoje, fazem pão sem sal! (uma m* de pão diga-se passagem)
Qualquer galeriazinha, igreja ou museu com um quadro de Leonardo ou um mármore de Michelangelo recebe mais visitantes por ano que o Brasil!
A TV aberta deles, péssima, consegue ser pior do que a nossa!
É...
Difícil!
De qualquer forma, voltei!
A Europa é ótima!
Na segunda metade da primavera e na primeira do outono, bem entendido!
O resto do tempo é uma m*
Ou quente e abarrotado ou frio e abandonado!
Cê num cridita?
Confira!

Hoje desmantelei as malas e me joguei no chão da sala entre pacotes de cogumelos toscanos desidratados, tomates e peperoncinos secos, orégano da sicília, cantuccis, potes de manteiga e mel tartufados, garrafas de azeites toscanos, tijolos de parmigiano, pecorinos e grana padanos, pacotes à vácuo de blends especiais de café, garrafas de vinsanto, acetos balsâmicos (25 e 50 anos), barolos, amarones, brunellos e um digestivo fortíssimo chamado Bargnolino, livros oficiais dos museus, dois pequenos bronzes etruscos (réplicas) e uma infinidade de fotos.
Fiz base em quatro cidades: Parma, Viareggio, Siena e Florença; de lá fui a: Modena, Langhirano, Maranello, Marina de Carrara, Pietrasanta, Camaiore, Monterrigioni, Montalcino, Arezzo, Chianti in Greve, Cortona, Forti de Marmi, Lucca, Montepulciano, Pienza, Pisa, San Donato, San Gimignano, Volterra, Bolonha e Milão.
Ufa!
As cuecas foram sendo descartadas pós-uso durante a viagem (um luxo que me permito!)
Haja fôlego, apetite e paciência com o jeito meio brusco dos peninsulares!
Bem...
Com uma argentina descendente de italianos como companhia...
Posso dizer que estava protegido!
A hora do almoço chegou e fui para cozinha onde estava até minutos antes de começar este post para preparar uma típica refeição toscana; simples rápida e maravilhosa:

Antepasto:
Mozzarela de búfala, rúcula e tomates (frescos e secos) sob azeite de oliva, pimenta do reino e flor de sal dispostos artisticamente!

Prato principal:
Um prosaico tagliatele cozido (400g) precisamente al dente em água com 1% de sal temperado com duas colheres de sobremesa de manteiga tartufada sobre o qual despejei o seguinte molho:
40 g de porcinis toscanos reidratados
60 ml de azeite de oliva no qual refoguei:
  • 1 cebola roxa média cortada em fatias finíssimas
  • Um punhado de ramos de tomilho e folhas de sálvia da minha mini horta
  • Uma bolinha de roux (farinha e manteiga em ponto de pasta de dente) para espessar
  • Uma redução da sobra da água de reidratação dos cogumelos
50 ml de creme de leite de caixinha  para finalizar junto com 3g de sal

Sobremesa:
Cumbuquinhas de chantili temperado com menta seca coberto com lascas de morangos temperadas com aceto balsâmico 25 anos!

Bargnolino, espresso e cantuccis para finalizar

No vinho, uma concessão à querida França: uma Chandonzinha a 8°C!

Espero não perder o entusiasmo e voltar para contar mais coisas.

P.S. Uma grata surpresa foram os vinhos brancos que eu não conhecia: Falanghina, Greco di Tufo, Fiano de Avelino, Arneis, Catarrata e Vernaccia de San Gimignano. Seus bouquets e sabores não me saem da lembrança.

P.P.S. Não deixem de conferir o texto de Alexandre publicado durante o meu retiro!

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