Amanhã, 27 de setembro comemora-se em todo mundo católico o dia consagrado aos gêmeos Cosme e Damião. Eles nasceram na Arábia no terceiro século depois de Cristo, eram gêmeos e seus pais eram cristãos. Quando cresceram, foram estudar na Síria, e lá se tornaram médicos. Mas eles tinham um apelido muito interessante: “ANARGIROS”, que quer dizer, “desafeitos ao dinheiro”, pois eles não cobravam nada, nenhum centavo pelo trabalho deles - os políticos da área de saúde viriam, séculos avante, fazer muito mal uso desta perversão do bom médico, de se interessar mais pelo paciente que pelo pagamento.
O quadro acima (Fernando del Rincón - Museu do Prado - Séc 16) mostra-os curando uma perna gangrenada através de um transplante retirado de um cadáver (um mouro, um negro?).
Será que o pintor ironizava a nobreza européia, com pernas gangrenadas, a depender de pernas negras para andar?
Nunca saberemos!
Alguns relatos atestam que eram originários da Arábia, mas de pais cristãos. Seus nomes verdadeiros eram Acta e Passio. Surgiram várias versões, mas nenhuma comprovada com fundamento histórico. Em uma das fontes, explica-se que eram dois irmãos, bons e caridosos que realizavam milagres.
Sempre confiantes em Deus, oravam e obtinham curas fantásticas. Também foram chamados de "santos pobres". Muitos esforços foram feitos para demonstrar que Cosme e Damião não existiram de fato, que eram apenas a versão cristã dos filhos gêmeos pagãos de Zeus. Isto não é verdade, embora haja evidências de que a superstição popular muitas vezes fez supor haver em seu culto uma adaptação do costume pagão.
Perseguidos por Diocleciano, foram trucidados e muitos fiéis transportaram seus corpos para Roma, onde foram sepultados no maior templo dedicado a eles, feito pelo Papa Félix IV (526-30), na Basílica no Fórum de Roma com as iniciais SS - Cosme e Damião.
Alguns relatos afirmam que foram amarrados e jogados em um despenhadeiro sob a acusação de feitiçaria e inimigos dos deuses romanos. Em outra versão, na primeira tentativa de morte, foram afogados, mas salvos por anjos. Na segunda, foram queimados, mas o fogo não lhes causou dano algum. Apedrejados na terceira vez, as pedras voltaram para trás, sem atingi-los. Por fim, morreram degolados.
Cosme e Damião foram martirizados na Síria, porém a verdade é que é desconhecida a forma como morreram. Seu culto já estava estabilizado no Mediterrâneo no século V.
Depois de mortos, teriam aparecido materializados ajudando crianças que sofriam violências.
Ao gêmeo Acta é atribuído o milagre da levitação e ao gêmeo Passio a tranqüilidade da aceitação do seu martírio. A partir do século V os milagres de cura atribuídos aos gêmeos fizeram com que passassem a ser considerados médicos, pois, quando em vida, exerciam a medicina na Síria, em Egéia e Ásia Menor, sem receber qualquer pagamento. Mais tarde, foram escolhidos patronos dos cirurgiões (exclua-se os plásticos, os filargiros; he, he, he!).
No Brasil, em 1530, a igreja de Iguaraçu, em Pernambuco, consagrou Cosme e Damião como padroeiros. No dia 27 de setembro, quando é realizada a festa aos santos gêmeos, as igrejas e os templos das religiões afro-brasileiras são enfeitadas com bandeirolas e alegres desenhos.
No candomblé, são associados aos "ibejis", gêmeos amigos das crianças que teriam a capacidade de agilizar qualquer pedido que lhes fosse feito em troca de doces e guloseimas. O nome Cosme significa " o enfeitado" (o mesmo radical do kosmetos grego) e Damião, "o popular" (por sua vez, o mesmo radical do demos grego).
Saindo da hagiologia para voltar ao post digo que sem querer abordar as implicações raciais da tela, invoquei-a para lembrar que os santinhos não são apenas sinônimos de caruru, crianças e guloseimas; eles são também os padroeiros dos transplantes sendo que seu dia, 27 de setembro é usado também para comemorações do dia mundial da doação de órgãos.
Para surpresa regozijo e cansaço de morpheus, esta semana foi coalhada de doações de órgãos. Muito trabalho ma também a alegria de propiciar um resgate de almas que de outra forma continuariam no inferno da insuficiência orgânica.
Após um aumento nos transplantes após 1997 quando da implantação da política nacional de transplantes, o número volta a cair. Esta queda de origem multifatorial demanda uma avaliação pormenorizada e providências urgentes. Não fosse a bsoluta indigência em que se encontra a saúde pública no Brasil, Morpheus já estaria fazendo campanha; infelizmente vivemos um período de trevas e obscurantismo totalitarista que prefere transformar o "companheiro" em "técnico" a seduzir o bom técnico a virar "companheiro".
Para você que errou na escolha, um alento aristotélico: segundo prescrição formal de sua "Poética", ao fim de uma tragédia, o herói reconhece o seu erro (hamartia, em grego) e então começa a inversão do sentido da história (peripeteia - peripécia - em grego).
As pessoas que votaram errado estão reconhecendo seu erro enquanto os políticos continuam entregues às peripécias.
Seja otimista, afinal você só começou como pessoa após vencer uma congestionada corrida de espermatozóides!
Pense, conscientize-se e ajude a divulgar a mentalidade de doação de órgãos. Agradecerão pacientes, famílias e a medicina que tira também dos transplantes a tecnologia de ponta que precisa para evoluir.
A figura abaixo (um parque em Buenos Aires) fica de metáfora para lembrá-los de que a vida não acaba de uma vez; vamos afundando para o limbo, às vezes com órgãos viáveis que podem continuar nos corpos de outras pessoas as mesmas funções que realizaram tão bem para o paciente que agora está em estado terminal.
Bem e last but not least, aí vai um pouco mais de cultura de almanaque prá vocês:
Padroados:
¨ Farmacêuticos
¨ Faculdades de medicina
¨ Barbeiros
¨ Cabeleireiros
Protegem:
¨ Orfanatos
¨ Creches
¨ Doceiras
¨ Filhos em casa
¨ Contra hérnia
¨ Contra a peste
Emblema: caixa com ungüentos, frasco de remédios, folha de palmeira.
E realmente prá finalizar, Morpheus que não é beato nem nada, mas que acha que fé não é desperdício, finaliza com a oração dos santinhos para celebrar o dia mundial da doação de órgãos:
Amados São Cosme e São Damião,
Em nome do Todo-Poderoso
Eu busco em vós a bênção e o amor.
Com a capacidade de renovar e regenerar,
Com o poder de aniquilar qualquer efeito negativo
De causas decorrentes
Do passado e presente,
Imploro pela perfeita reparação
Do meu corpo e
Dos meus filhos
(...............................................)
nome dos filhos
E de minha família.
Agora e sempre,
Desejando que a luz dos santos gêmeos
Esteja em meu coração!
Vitalize meu lar,
A cada dia,
Trazendo-me paz, saúde e tranqüilidade.
Amados São Cosme e Damião,
Eu prometo que,
Alcançando a graça,
Não os esquecerei jamais!
Assim seja,
Salve São Cosme e Damião,
Amém!
[Ao alcançar a graça, fazer um bolo ou oferecer uma festa às crianças de rua, orfanatos ou creches.]
P.s: Morpheus lamenta no entanto, que as balas perdidas, o trânsito mal-educado, as estradas mal cuidadas, a violência urbana e a falta de assistência médica efetiva colaborem tão indevidamente para as doações no nosso país
3 comentários:
Caro Morpheus,
Compartilho de suas dificuldades em se encontrar (vc com Morpheus) nesses últimos dias...afinal foi f...com ph.
Mesmo assim, é sempre motivante participar do transplante. Minha esposa, que agora vai a todos os ambulatórios, está cada vez mais animada por perceber como os pacientes melhoram. Verdadeiro resgate...
Bem, já que ninguém é de ferro, hoje, antes de viajar a São Paulo, vou prestar minhas homenagens a Cosme e Damião em um dos tantos carurus que minha família oferece...Espero que tenham um bom transplante (houve doação hoje).
Se já saiu de férias, Boas férias...
Caro Manelli,
Excelente crônica! Uma boa pesquisa sempre é um elemento enriquecedor.
Continuo esperando a ficção!
Postar um comentário