agosto 09, 2007

URBANIDADE


Não existem pedras no meu caminho!!!

Ele é de asfalto, faixas, placas, semáforos...

A única árvore está na sala, ao lado do sofá.

É sempre a mesma, natalina, de frutos coloridos e luzes piscando,

Sufocada de arcanjos, querubins, sinos, claves, papais-noéis...


Em casa, além de nós,

As coisas vivas

São as bactérias, os fungos, os vírus...

Velhos cosmopolitas.


As plantas que lá chegam, têm embalagens, vêm bem vestidas, cheias de laços.

Coitadas... Pensam que vão à festa!

Em poucos dias estão secas, definhadas e sepultadas.

São descartáveis.


Minhas frutas chegam mortas, resfriadas, empacotadas,

Vêm em bandejas e têm etiquetas coladas,

E, às vezes, já chegam retalhadas,

Como se maquinofaturadas fossem.

São apáticas, lacônicas...


Meu céu, assim como minha sombra é de gesso.

Meus astros são redomas multiformes e me espetam os olhos.

Não têm fases e duram menos que eu.


Minha água é limpa, é clara, é cara.

É sem vida, cheia de cloretos, sulfetos, brometos...

Corre apenas ao girar da torneira.


Durmo sob ededrons, estando no trópico e ao lado do mar,

com portas e janelas trancadas.


Não sinto o sol, nem as chuvas,

Não vejo a lua, nem os crepúsculos,

Ocultados em construções hostis.

Minha aurora é de persianas abertas.

E as primaveras..., são verões, são outonos, são invernos.


Tudo é digital, mas sem identidade própria!


É... Não há pedras, nem árvores, nem folhas, nem pó, nem pé-de-fruta, nem brisa, nem tempo...


E no meio do caminho tem uns ônibus,

Não consigo chegar em casa!



É... Esse foi meu dia de fúria!!!

Depois desse dia, resolvi mudar pra uma casa.

Hoje moro numa casa quase-no-campo, como costumo falar, onde posso fazer meus textos um pouco mais rurais.


Alexandre Figueiredo

3 comentários:

Unknown disse...

Grande Alexandre Papito!!!Tenho lido e aprendido com Manoel e agora vc nos brinda com esse texto muito interessante!!também estou indo morar numa casa.Só me falta o talento para escrever e tocar violão.Me resta então apreciar bons vinhos e outras cositas mais.
grande abraço Adriano.

Anônimo disse...

Belo texto Veira.
Que Deus continue a lhe proporcionar luz, serenidade, paz, traquilidade e harmonidade para continuar escrevendo e transmitindo a seus amigos um pouco da sua filosofia de vida.
Grande beijo.
Tia Bel.

Anônimo disse...

Vieira,
A empolgação foi muita e acabei digitando a palavra errada.
Retificando: harmonia
Desculpa
Tia Bel

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