A abertura de Ana Karenina de Tolstói nos propõe um contrato filosófico:
"Todas as famílias felizes se parecem umas com as outras; por outro lado, cada família infeliz é infeliz à sua própria maneira."
Esquecamos agora esta obra-prima e voltemos para a nossa pindorama;
Morpheu perguntaria: O que é um país senão a proposta de uma família?
Será que nós, que já vivemos muito tempo sob o complexo de vira-lata, agora queremos nos individualizar com ziriguiduns, balacobacos, telecotecos e grandes catástrofes?
Salve o país da jabuticaba e do termo saudade!
Como a verdade é única, só existe diversidade no erro e a única exceção a esta regra seriam as idiossincrasias sociais que eventualmente justificam vias heterodoxas na busca de soluções.
Não creio que seja nosso caso, quanto tempo patinaremos no erro?
Se você está com medo de voar depois deste acidente saiba que, infelizmente, Congonhas é um arquétipo da brasilidade: um armengue perigoso turbinado pela ganância e irresponsabilidade de gerentes que não passam por riscos.
Morpheus trabalha no ramo de saúde e poderia, se quisesse escrever muito, falar de análogos a:
pistas sem grooving,
aviões pesados demais,
pistas curtas,
baixos coeficientes de atrito,
pressão por produtividade a qualquer custo,
baixa remuneração em regimes de alta demanda,
suprimentos e dispositivos de segurança obsoletos ou mal-funcionantes,
profissionais sobrecarregados em jornadas múltiplas ou extensões indevidas da jornada,
contratos de manutenção mal executados ou fraudados
gente cansada tomando conta de gente que precisa de atenção
etc, etc, etc.
Sim, poderia sobre isto vos falar com a autoridade de testemunha ou de vítima.
Será você ingênuo a ponto de achar que isto (síndrome de Congonhas) não acontece com o transporte escolar de seu filho, com o conteúdo dado nas escolas, com a segurança do seu condomínio, com a manutenção das estradas, com os hospitais e universidades públicas, com as barcas dos sistemas de transportes de passageiros nas linhas marítimas e, ou fluviais, na liberação de medicamentos, no presídio estadual, na cozinha do seu restaurante chic preferido etc, etc, etc ?
Se você não se deu conta, até hoje, que cada setor destes (e muitos outros) reproduzem à sua maneira os mesmos elementos do acidente com o airbus, você é um feliz alienado, como eu acho que às vezes gostaria de ser.
Receita de felicidade neste país é nascer burro, viver na ignorância e morrer subitamente.
A lucidez chega a ser uma maldição quando somos tripulantes desta balsa de medusa na qual o Brasil se materializa no momento.
Será que seria o momento de seguir o exemplo do compositor e nos embriagarmos com fumaça de óleo diesel até que nos esqueçam?
(Salve Chico)
A fumaça já está lá!
Encerro esta série de posts sombrios e indignados desejando a Marco Aurélios et caterva (Collor vive!) uma morte lenta e solitária assistida por um impaciente Caronte!
Just gimme a break!
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