julho 14, 2007

As feias que me deculpem...

Aforismos são frases curtas de efeito rítmico e estético apelativos. Um aforismo bem cunhado é quase uma verdade inquestionável dada à ligação, insuspeita pra muita gente, entre a beleza e a verdade.
Um aforismo tem me vindo à cabeça sub-repticiamente esta semana por conta da abertura do Pan, coisas que já comentei em outros posts e da reabertura do Salão dos Espelhos do Palácio de Versalhes:

“MONSTRUM IN FRONTE, MONSTRUM IN ANIMO”

(ou seja: feio de cara, monstro na alma)

Este aforismo, invocado por Nietzsche em seu “Crespúsculo dos Ídolos”, e muito recitado por racistas de plantão da sua época, é muito sedutor pois guarda uma semente de dedução por analogia que é muito apreciada pelo cérebro humano.
Nós buscamos mecanismos analógicos de descoberta na poesia, na prosa e nas artes em geral de uma forma tão intensa que um autor, em qualquer campo que seja, será galgado à fama e ao reconhecimento póstumo pela exatidão e amplitude do paralelismo de eventuais analogias descobertas e uma aplicação prática relevante.

Foi com estas considerações na cabeça que assisti às imagens maravilhosas da abertura do Pan e meditei sobre como, ao permitir que nos enfeiássemos, passamos a ser um povo que passou a duvidar realmente do seu caráter como um todo. Será que este aforismo valeria para cidades, países e populações?
Uma coisa é certa, nossos vilões são feios, muito feios; vide a estampa dos nossos políticos com sua feiúra ululante, suas silhuetas disformes e sua ignorância manifesta mesmo quando estão em silêncio. Feias também são as nossas cidades, principalmente nas suas incubadeiras de violência, esquecidas pelo Estado em todos os seus aspectos.

Mas que Estado?

Instituição minada e sangrada gravemente e geralmente... por gente feia!
Poupem-me da citação de nomes pois seria difícil não cometer injustiças por omissão!

Pois é, foi assim que um dia, nossa capital nacional saiu do seu ninho de beleza na orla da baía da Guanabara e foi morar numa espécie de Versallhes do cerrado a muitos Km do alcance da crítica e do público (e de eventuais revolucionários!) pelas mãos de um presidente médico, cheio de boas intenções sob a benção estética do lápis de Niemeyer e até mesmo de uma sinfonia escrita por Jobim e Vinícius. Até o chorinho, arte freqüente entre os funcionários públicos do Rio, mudou-se em parte para lá.
Não espere, no entanto, ver um Jacob ou Pixinguinha brasilienses!

As vaias sofridas por Lula, em contraste aos aplusos à performance solo de Elza Soares (que teria dito a um irônico Ary Barroso no seu programa de calouros quando perguntada que cara era essa que ela tinha: "tenho a cara da fome! seu Ary") na abertura do Pan são, para mim a maior evidência de que a capital federal jamais deveria ter saído do Rio. O carioca é irreverente e imune a tietagens vazias; estas características certamente fariam bem o papel de controle político popular.
No Rio, as maracutaias ficariam evidentes mais rápido; mais rápido também seria a organização de manifestações populares. Se alguém quisesse comprar o silêncio dos circunstantes, teria que gastar tanto que o roubo não valeria à pena e por aí vai...
Mas, mais importante que tudo isto é imaginar que os fatores que levam o Rio a apresentar tantos sinais de degradação urbana (violência inclusive) poderiam não ser tão atuantes caso a presencialidade da capital estivesse lá e não estivéssemos sangrando moralmente e economicamente no cerrado.
Longe de punições, qualquer ser humano (os desumanos mais ainda!) se embriaga pela ilusão de poder absoluto.
É assim que os vejo: embriagados.
Pensam ser divinos!

Comungam com os bêbados (etílicos, bem entendido!) das quatro sensações divinas:

Se acham lindos e portanto, convincentes, sedutores

Se sentem poderosos,

Se fingem infalíveis e por isso mesmo inatacáveis

E, sobretudo, se acham invisíveis.

E é aí que eu me pergunto: por quê esculhambar um país e seu povo para obter sensações facilmente alcançáveis pela ingestão de uma garrafa de cachaça?

Em tempo, Brasília tem à disposição dos seus moradores, as lojas de cachaça mais sortidas e incrementadas que eu já vi!


P.S. Este final de semana escutarei com cuidado o disco abaixo. Clique na imagem e forme sua opinião. Retirarei o link na próxima semana.
















Aproveitem!

(For whenever a blue person feels happy, or almost!)

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