junho 02, 2007

Blue moon (...you saw me standing around...)

A festa estava bombando.
Sob a segunda lua cheia de maio, o sistema de som tocava Blue Moon.
Era a senha para uma aproximação mais incisiva entre flertantes, para uma pausa para o toilette ou um petisco.
Ela, que sempre me pareceu muito experiente tanto em boemia quanto em assuntos do coração, olhou para o lado e entrou em catatonia: era ele!
Só podia ser ele!
Aquele por quem tinha buscado por toda sua, até então, breve vida.
Ele por sua vez, num canto e, prá falar a verdade, um pouco distraído, irradiava um brilho incomum entre os convivas daquela noite.
Mal teve tempo de perceber a aproximação dela e uma clareira entre todos já tinha sido aberta.
Ela o circundava, hipnotizada, sem conseguir tirar os olhos que pareciam estar ligados a ele por um elo invisível mas extremamentre poderoso.
Aos poucos ela foi se aproximando e, sem quaisquer palavras, concordaram em se afastar dos outros para uma comtemplação recíproca mais demorada.
O ritmo e a incisividade da aproximação dela, o despreendimento demonstrado, a sua robustez e a linguagem animal com a qual ela havia sinalizado não deixavam dúvidas ao nosso herói: vai rolar a festa!
A surpresa veio quando ele percebeu que ela não conseguia chegar perto o suficiente para tocá-lo; mantinha-se a uma distância mínima com uns olhos de maluca, sem piscar e tampouco sem olhar para outro lugar. Uma sensação de vazio o preencheu enquanto voltava a escutar o barulho da reunião da qual tinha se afastado. Olhou-a nos olhos mais uma vez enquanto ela dançava em torno dele um balé bizarro e geométrico. O brilho de sua excitação então se apagou e ela foi se afastando aos poucos até sumir por entre as sombras.
Ele refletiu sobre o ocorrido e chegou à conclusão de que nada de sincero e verdadeiro poderia realmente ter acontecido entre eles naquela noite: ele era apenas um vaga-lume e ela, uma instintiva mariposa.
Pouco tempo depois amigos dele o informaram que ela tinha se machucado sériamente ao reproduzir o episódio frente a um interlocutor um pouco mais agressivo: uma guimba de cigarro!
Não se fez de rogado; para demonstrar ausência de ressentimentos, à luz do dia, no dia seguinte, foi ao hospital visitá-la levando um punhado de pólen como mimo.
Ela o olhou com seus olhos sem pálpebras, mexeu as antenas e, quando parecia que ia sacar a enorme lígua para degustar o presente, sinalizou inquisitiva para a enfermeira que assistia à visita:
Quem é este aí?

Era mais um caso para a já imensa galeria do museu dos amores impossíveis!

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