junho 05, 2007

De legere

Como seria bom se os livros fossem vendidos junto com uma cápsula que contivesse o tempo necessário para lê-los. Infelizmente não é assim, o tempo fugidio não deixa de correr nem mesmo como bônus enquanto você, nos corredores da livraria, ainda não escolheu o que vai comprar para ler.
Sobre o ler e a leitura muito já foi dito.
Schopenhauer aconselhou-nos a não dar tanta importância para leitura e sim para “o pensar”; segundo ele, a leitura é equivalente ao mancar com a muleta alheia e deveria ser empreendida apenas para a aquisição dos mecanismos básicos do raciocínio; depois disso, o resto seria por sua conta e a leitura deveria ser relegada apenas aos momentos ociosos nos quais você estivesse, por assim dizer, impossibilitado de pensar.
João Cabral (nosso poeta enxaquecoso que odiava música!), por sua vez, dizia não ter tempo de ler os novos, somente os clássicos. No seu entender, a vida é muito curta para darmos-nos ao luxo de ler coisas mal escritas ou pouco interessantes.
Um outro autor, não me lembro quem, disse que os livros, enquanto não lidos, são apenas objetos. Metamorfosearão-se em livros apenas quando forem tratados como informação.
Da minha parte, vejo a leitura como um pouco de tudo isto, ferramenta, diversão, escape etc.
No entanto, como quer que seja considerada, uma coisa é certa: é necessário tempo!
Tempo para comprar, tempo para ler, tempo para interpretar e para fazer bom uso.
Um tempo a ser consumido solitariamente numa espécie de onanismo intelectual que provoca nos amigos e familiares uma desagradável sensação de desagregação.
Freqüentemente, mal se dão conta que o bom leitor (ovelha desgarrada) voltará do seu retiro com um assunto novo para as futuras conversas ou até mesmo com ímpetos renovados para prática de um esporte, idioma, hobby ou quem sabe...de uma boa polêmica!
A boa leitura, lúdica e informativa deve ser praticada, para sua máxima eficiência, em momentos de paz orgânica.
Eu explico!
Considero como “paz orgânica” aquele estado de deaferentação somática no qual o seu cérebro não está a receber do seu corpo nenhuma sensação desagradável tipo: fome, sono, dor etc.
Bem pensado, estes momentos de paz orgânica são muito pouco freqüentes no dia-a-dia moderno e acho que reside aí a origem de tanta coisa e gente desinteressante e pouco lida, mesmo dentre os ditos “formadores de opinião”, no nosso meio.
Ora, se a verdadeira liberdade consiste em pensar o que se quer, dizer o que se pensa e fazer o que se diz, é necessário ler!
Leia enquanto tem tempo!
Enquanto tem saúde
E ainda há tempo de influenciar alguém ou de fazer planos para o uso do novo que foi aprendido.
Leia para fugir!
Para alimentar seus sonhos e
Espichar os limites da sensação de ter vivido!
Leia para viver novas vidas!
Para homenagear as pessoas que contaram as grandes histórias da humanidade
E também para descobrir, sob seu ponto de vista, onde os conceitos que eles criaram apresentam falhas!
Aí estará, no mundo, o que o perplexiza, o que lhe parece inaceitável, o que o irrita.
Descarte o livro ruim o quanto antes!
E, se você se animou com estas exortações,
Ao acordar, diagnostique o status de suas baterias mentais,
Olhe para o seu dia como quem examina a programação de uma emissora de TV,
Decida qual vai ser o horário nobre da sua jornada.
Será que hoje ele vai poder ser gasto com vocêzinho?
Ok!
Então,
Que livro você vai ler?


P.S. Neste vero momento, Morpheus anda lendo uma coletânea de entrevistas conduzidas por Clarice Lispector publicada pela editora Rocco.
São 42 conversas -19 delas inéditas em livro-, publicadas entre 1968 e 1969, na revista "Manchete", e em 1976, na "Fatos e Fotos: Gente"

Entre os entrevistados temos Vinícius, Tom, Rubem Braga, Niemeyer, Nélson Rodrigues, Elis, Neruda, Carybé e outros.
Clarice faz uma condução pouco ortodoxa, às vezes entrevistando a si própria!
Pergunta sempre sobre o processo criativo dos entrevistados, o que não deixa de der uma coisa muito interessante quando o entrevistador é alguém que faz parte do mundo da criação.
Bom hein?
Um pouco ingênuo, talvez.
Mas, ainda assim, bom.
Superpõem-se aqui os signos Clarice e Claridade.
Visite o site da Rocco dedicado a ela e conheça um pouco mais.

P.P.S.: Nunca dê livros de presente! Informe o tema ao ex-futuro presenteado da forma mais sedutora possível. Se você assim bem o fizer, conseguirá o objetivo de induzir a leitura sem gastar um centavo com um presente que, na maioria das vezes, é encostado tão logo o ritual da oferta se dissipa.

P.P.P.S. (p* não vai acabar não?): E agora, realmente para encerrar, uma dica de site dedicado ao conhecimento onde voccê pode encontrar vídeos e aulas sobre quase qualquer assunto que ou seus filhos possam estar precisando conhecer: Teacher Resources

Chega!

Um comentário:

Sheilla Liz disse...

Gostei muito de passar aqui e ler seu texto. As vezes eu achava que tinha desperdiçado parte de minha vida lendo, enquanto que na verdade essas foram minhas "horas nobres".Gosto também da parte que fala sobre ler para fugir ou estender os limites da percepção da vida, enfim... adorei 'desperdiçar' meu tempo aqui. Abs

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