maio 29, 2007

Playboys e badguys

Tomei conhecimento esta semana, como acho que você também, de alguns detalhes do perfil do principal envolvido na operação navalha; à parte seu patrimônio pra lá de razoável, o nosso Bronson tropical que vivia numa casa enorme num condomínio encravado num núcleo de favelas numa cidade satélite de Salvador (onde abundam pernilongos durante todo o ano!) é descrito por seus propinados como um homem trabalhador (!) obstinado (!) e até mesmo pró-ativo. Ora, isso é lá qualidade de mal-feitor?
O cara tinha uma mansão mas não falava com vizinhos, tinha uma lanchona só para cortejar os propináveis, tinha uma quadra de tênis particular e mal jogava, parece com Bronson mas é paraibano e não fala inglês (ao menos com sotaque de mocinho!). Alíás, em contraposição ao termo poliglota, poderíamos classificar os nossos bandidos como “meroglotas” (quase- falantes de uma única língua)
Vivia viajando e, penso, se considerava um verdadeiro homem de sucesso perante sua entourage e família.
Do ponto de vista de um Jorginho Guinle, ele é o que se poderia chamar de um pobre-de-espírito.
Um lapso onírico me assaltou a imaginação estes dias e eu imaginei um tribunal em que bandidos como estes eram condenados à pena máxima não por roubar e corromper, mas por fazer mau uso do dinheiro auferido. Como parte da pena (que na sua totalidade deixo a composição a vosso critério, querido leitor) incluiria a leitura obrigatória e avaliada das biografias de pelo menos quatro brasileiros ilustres:
Jorginho Guinle
Vinícius de Moraes
Jece Valadão
Waldick Soriano
Não haveria margem para erro!
Após compreenderem o que este quarteto fez de suas respectivas vidas, eles seriam acometidos de uma terrível depressão para qual lhes seria negado todo e qualquer tratamento. Não consigo imaginar uma punição mais exemplar!
Só para ficar em Jorginho, listo abaixo algumas linhas (pedagógicas!) que poderiam ser o golpe de misericórdia na saúde mental dos nossos propinantes e propinados:

O nosso Jorginho parece nunca ter conhecido o valor do dinheiro: só sabia gastar!
Dois dias depois de ter passado a noite com a deslumbrante atriz Hedy Lamarr, considerada então a mulher mais bonita de Hollywood, recebeu dela uma cartinha dizendo que gostaria muito de ter, como recordação dos maravilhosos momentos que passaram juntos, um desenho de Picasso à venda numa determinada galeria.
O preço era US$ 70 mil (isso nos anos 40 ), e ele achou tão normal que pediu o dinheiro emprestado a um primo para poder comprar. Esse primo não emprestou, disse que ele estava louco, e Jorginho então mandou uma cartinha de volta dizendo que não havia comprado porque ela valia muito mais que isso.
Genial!
O mais famoso playboy do Brasil foi um “bon vivant” que na juventude seduziu muitas beldades. Namorou Marilyn Monroe, Rita Hayworth, Jane Mansfield e Veronica Lake, entre outras. A primeira vez que encontrou Marilyn, antes de ser famosa, foi em 1947. “Conheci na casa de amigos meus onde sempre havia várias moças dos estúdios (cinematográficos de Hollywood).
O nosso saudoso playboy passou a vida viajando pela Europa e Estados Unidos, onde participou de diversas festas e conheceu muitos atores e diretores de cinema famosos transformou-os em amigos e passou a trazê-los ao Brasil.Os primeiros foram, segundo ele, Joan Fontaine, Mary Pickford e Jeanette Mac Donald, para o festival do quartocentenário de São Paulo, em 1954. Para o Carnaval do Rio, trouxe Gina Lollobrigida, Zsa Zsa Gabor, Susan Hayward, Kim Novak e Rita Hayworth.
Em 1949, Rita já era famosa por ter interpretado “Gilda”.
Rita e Guinle se conheceram em Hollywood, quando ela ainda era casada com Ed Judson. Conforme o playboy, a atriz gostava de falar, de contar sobre sua vida e ansiedades. Tempos depois, eles se encontraram novamente. Foi quando Guinle a convidou para o Carnaval do Rio em 1962. “Entre um baile no Golden Room do Copa e uma festa havaiana no Iate Club que surgiu um breve romance.
Aconteceu num barco que estava a seco na garagem do Iate (Jorginho não precisava nem botar o barco na água!), e foi tudo muito bonito e romântico”, afirmou em entrevistas.O baixinho Jorginho não estava nem aí para sua estatura (física!): usava uns sapatos feitos especialmente para ele, que tinha um salto interno com o qual ele ganhava uns 8 centímetros. Continuava mais baixo do que suas namoradas, mas um pouquinho menos.
Embora preferisse atrizes de cinema, sua primeira mulher, Dolores, talvez tenha sido a mais bonita de todas elas.
Bonita é pouco: deslumbrante (e altíssima.!)
Jorginho era um profundo conhecedor de jazz; sua coleção de discos era famosa, e quando ia a Nova York, dividia seu tempo entre as festas e os jazz clubs. Além disso, estudava filosofia, mas não contava isso para quase ninguém. Era uma ótima companhia: leve, bem educadíssimo e sempre muito bem humorado.
Mesmo depois que perdeu tudo (e foi tudo mesmo, não sobrou absolutamente nada!) ele nada mudou. Nunca se queixou da vida com ninguém, e nunca deve ter entendido direito essa coisa estranha que é o dinheiro um dia acabar.
Shit happens,
Oh, Shit!
Os seus últimos anos foram movimentados (num sentido mais prosaico, infelizmente): morou com uma filha, com uma amiga. Corria o boato que um seu velho amigo lhe dava uma pequena mesada para seus também pequenos gastos.
Alguns bons restaurantes da cidade não cobravam suas contas, em nome dos velhos tempos, e por isso Jorginho, sempre elegante, só os frequentava sozinho e muito raramente.
Aos seus 88 anos de vida Jorginho nunca tinha trabalhado um dia sequer; ele nem imaginava o que era isso. Mas que ninguém ouse pensar que a falta de dinheiro em algum momento modificou o velho playboy no que ele levava mais a sério: a conquista das mulheres. Sempre com um risinho maroto, uma conversinha mole, quando elas viam, já era.
Em relação a elas, ele só tinha uma exigência: que fossem muito bonitas. Diz-se que ele nunca foi jamais visto acompanhado de uma mulher feia ou baixa (ou mesmo de profissionais como adoram nossos vilões do cerrado)
Talvez tenha sido o último de sua espécie.
Último moicano de um tempo que se acabou para sempre.
Agora só Bronsons et caterva!

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