Joguei as notícias da semana pra cima, passei na peneira e sujei o chão de sangue mas sobrou uma digna de nota para os baianos de nascença e de coração:
Sai, pela editora Corrupio e Ediouro, a biografia de Mãe Menininha do Gantois a mais famosa Ialorixá da Bahia.
MÃE MENININHA DO GANTOIS, UMA BIOGRAFIA
Autoras: Regina Echeverria e Cida Nóbrega
Editora: Corrupio e Ediouro
Quanto: R$ 59 (320 págs.)
Imortalizada nas canções de Vinicius de Moraes e Dorival Caymmi , "Tatamirô" e "Oração para Mãe Menininha", Maria Escolástica da Conceição Nazareth (1894-1986), Mãe Menininha, ganhava sua vida antes do sacerdócio, costurando ou vendendo doces e vísceras em tabuleiros. Você encontrará a explicação de porque o terreiro se chamava Gantois (por causa do sobrenome de um belga, traficante de escravos e antigo proprietário da área onde fica o barracão da mãe-de-santo) e de como isto sugere o modo pelo qual a resistência pacífica dos negros, e, em especial, a capacidade de fazer alianças da ialorixá biografada, durante os anos de perseguição policial ao candomblé, inspiraram e se incorporaram à política nacional.
"O candomblé segurou a barra do negro no Brasil, ajudando-o a manter sua cultura, por meio do culto aos seus ancestrais. E ele até hoje deixou marcas, como a aliança, o conchavo e a negociação, na política brasileira", observa a Regina Echeverría
O livro, no entanto, vai além da imagem pública e midiática da ilustre filha de Oxum, sempre rodeada de políticos do naipe do hoje senador Antonio Carlos Magalhães, ou medalhões da MPB como Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia e Gal Costa.
Fascinada pela TV, mãe menininha assistia a tudo e associava o que via à sua vida no terreiro estendendo-se também a análises e a diagnósticos: Chacrinha era uma espécie de erê (estado posterior ao transe do orixá, caracterizado por humor alegre e infantil) e Mogli de Walt Disney uma representação de Oxossi. Legal hein?
Gil já a caracterizou como pop, era mesmo!
Resistiu a assumir as obrigações religiosas mas por fim capitulou aos 28 anos após ter se afastado do terreiro e dado luz a duas filhas após a morte de sua tia-avó a ialorixá Pulquéria.
"...primeiro foi Oxóssi, depois Xangô, Oxu, Obaluaê. Eles que me deram este cargo de felicidade, que estou ocupando até o dia que Deus quiser, e Oxalá...", conta ela em entrevista reproduzida no livro.
Representante notável do panteão de personalidades baianas, mão menininha representa ao lado de Jorge Amado, Caymmi, Carybé, Vergé, Família Veloso, Vinícius, Milton Santos, Anísio Teixeira, Mestre Bimba e tantos outros mais um arquétipo maior do tarô baiano; no seu caso, o da sabedoria intuitiva em ligação direta com a esfera com do divino.
Mãe Menininha era um exemplo a ser seguido de mulher afro-descendente, pois era uma pessoa muito à frente do seu tempo. A humildade, a doçura e o pulso firme, quando necessário, fez dela uma grande personalidade, nada abalando sua fé nessa religião e cultura de resistência, até hoje perseguida por uns e não compreendida por outros.
Boa leitura
P.S. Para os mais próximos segue o link para as fotos de Paris (Paisagens e obras de arte)
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