março 18, 2007

Infelizmente, para poucos!

A IMPORTÂNCIA DE ABEL CARLEVARO PARA O VIOLÃO

Há exatos dez anos topei pela primeira vez com registros sonoros originais de Garoto o nosso Aníbal Sardinha, ou Garoto do Banjo como podem querer muitos; fascinado que fiquei por Lamentos do Morro, procurei por onde pude a partitura da canção para que, mesmo que não pudesse tocá-la perfeitamente, pelo menos pudesse também admirá-la no papel. Procurei aqui e ali, fui a São Paulo onde tentei infrutiferamente contactar Ronoel Simões, amigo de Garoto e detentor de vários registros domésticos do nosso fundador do Violão Moderno Brasileiro.
Não sou do métier musical e como se diz, não sei onde dormem as cobras; mas, numa conversa totalmente fora de propósito, um amigo meu me sugeriu procurar Edson Sete Cordas, fundador e integrante do grupo baiano de chorinho "Os Ingênuos". Para minha surpresa, Edson não só tinha a partitura como também se recusava a me fornecer uma cópia antes que eu estudasse um pouco para poder executar de forma minimamente eficiente aquele mantra violonístico que acabava de ser gravado por Raphael Rabello em versão solo e em dueto com Armandinho. Pois bem, lá ia eu para casa de Edson 2 vezes por semana e após mostrar proficiência na execução de verdadeiros abacaxis como: Segura ele (de Pixinguinha), Vôo da mosca (de Jacob), Desvairada (Garoto) e Choro da Saudade de Augustín Barrios eis que Edson me entrega, em liturgia, a partitura desejada. Comecei a estudar com afinco na mesma medida em que crescia minha admiração pelo violão de Raphael até que depois da minha primeira execução sem falhas, Edson abriu sua estante com inúmeras partituras e métodos e puxou o método de Abel Carlevaro: aluno, discípulo e analista do violão de Segóvia;
Abel Carlevaro desenvolveu toda uma metodologia de ensino e um apuradíssimo senso didático. Sua técnica e sua abordagem sistemática sobre a parte mecânica do instrumento e sobre postura e toda a parte fisiológica do instrumentista o tranformaram num autor clássico.
Carlevaro foi, junto com Jaime Florence (Meira), a grande referência de Raphael que, segundo Edson, o referenciava constantemente em busca de aprimoramento e manutenção de qualidade de execução; pesquisou e racionalizou os diversos aspectos técnicos envolvidos na performance do violão de forma a permitir aos estudantes do instrumento uma busca gradual e conscienciosa do aprimoramento mecânico. Para tal fim, demonstrou e analisou cada elemento mecânico separadamente em seu célebre livro Escuela de la Guitarra - Exposición de la Teoria Instrumental, complementado por exercícios específicos publicados em seus quatro Cuadernos de técnica.
Certamente, antes de seu trabalho, existiam já diversos métodos e estudos dedicados ao desenvolvimento técnico do violonista. Porém, vemos aqui pela primeira vez uma explicação lógica e detalhada, apresentando soluções claras para os mais variados problemas. Em épocas anteriores, cada estudante necessitava despender um longo período de tentativas e erros para encontrar os mesmos tipos de soluções que Carlevaro apresentou "de mão beijada". Naturalmente, em muitos casos o estudante não chegava sequer a obter tais soluções, e desenvolvia portanto uma técnica defeituosa e problemática.
Agora que já se sabe um pouco sobre este uruguaio, venho felicitar o Helder Bello, mantenedor do site violão erudito, pela disponibilização dos quatro cadernos de Carlevaro, um inestimável recurso para os amantes alfabetizados do pinho!

Visitem o site e confiram, quem sabe você não chega a tocar como Raphael!

P.S. Se não aperecer nos próximos dias é porque estarei conferindo o material!

Um abraço,

Manellis

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