março 10, 2007

Etanol, Etilistas, Estilistas e listas de espécies em extinção!

Pense rápido!
O que há de comum entre:
- O encontro de dois mandatários de estado que mal falam suas respectivas línguas-maternas,
- O fracasso da democracia entre os ignorantes,
- O uso irracional das melhores terras agricultáveis de um país pobre e mal-nutrido (eu disse mal-nutrido e não faminto!),
- A escravidão e a indigência em pleno século XXI
- A extinção de espécies animais em seu último refúgio numa bolha de mata atlântica remanescente em Alagoas?
Respondo: o blefe, a ignorância e a falta de visão.
Este post abre com um tópico meio charadístico mas isso se deve a um flash de memória quase fotográfica que me ocorreu estes dias quando vi nos jornais as manchetes tratando da visita de Mr. Bush à nossa Pindorama.
No dito flash, eu me recordava da minha chegada a Ribeirão Preto (Ribeirão, Ribeirão!/ terra da cana e dos cafezais/ Deus há de me ajudar/ que aqui não volte nunca mais!) há exatos vinte anos. À parte o calor de 44º C , a umidade de 20%, a fuligem da queima da cana e o pó vermelho que cobria tudo sob o comando de rajadas de vento quentes como um bafo de dragão, nada parecia abalar o meu entusiasmo por começar minha especialização em uma unidade da USP.
Sabia, de notícias, que Ribeirão era rica e isso se podia ver ao chegar à cidade pela grande circulação de carros novos e caminhonetes (bijouterias preferidas pela oligarquia rural) e estava ansioso para entender aquela "pujança" econômica. Chegava então o dia de conhecer o campus da faculdade de medicina cujo caminho cruzava uma língua de canavial que se interpunha entre a cidade e o Hospital Universitário.
Um detalhe que poderia passar despercebido a muitos me impactou profundamente: a cor da terra! A terra era vermelha escura e exalava uma aparência imediata de fertilidade. Úmida e escura ela se deixava ver à beira da via e apartir daí não mais, econdida que estava sob um tapete de canavial que todos de nossa geração (da minha, é claro!) aprendemos a imaginar como lindos com a bucólica indulgência de estudantes infantis de maus livros de história!
A fome não estava ainda na agenda nacional mas eu, embora nordestino, soteropolitano e urbanóide convicto, enxergava na cor daquela terrra e no emprego que a ela se dava, um bruto contraste com a luta do "australopitecus nordestinus" para cultivar seus solos pobres castigados sob sol inclemente e pelo primitivismo tecnológico.
Eu pensava: quantos hectares desta insensatez são necessários para encher um tanque que me permita ir desta cidadezinha àquela outra? Haveria uso melhor para esta terra?
Claro que sim:
Alimentos!
Aqui acaba o flaaaaaaaash!
Passaram-se 2 anos e eu saí de Ribeirão deixando Palocci como candidato à prefeitura.
Eu não sabia de nada, hein?
De lá prá cá elegemos um louco megalomaníaco, um filósofo e um torneiro, que ainda não sabe a diferença entre uma fatura e uma duplicata como alardeava o louco!
Diante do fracasso de resultados que foi a retomada da democracia, como idiotas vingativos, reelegemos estilistas, ex-prefeitos com passagens pela cadeia e cantores bregas. Mantivemos também Severinos, Genoínos e Inocêncios (paradoxa ironia marca, por vezes, a a relação entre a etmologia dos nomes e as pessoas nomeadas , não acha?)
Não temos jeito mesmo!
Mas a coisa não deu errado só aqui. Fora o Chile, que se entregou à democracia após a reforma econômica, descobriu-se que entregar a democracia a ignorantes é como levar um cego para escolher tintas, o único parâmetro que ele pode usar é o cheiro! que não é necessariamente o que interessa.
Faliu toda América latina que como desgraça adicional ainda foi seduzida pelo apetite do hemisfério norte pelo sucedâneo anestésico da Erithroxilum coca.
Darwin dizia que a natureza não dencansa no seu ímpeto de experimentar novas soluções; essa característica dá origem a coisas maravilhosas como o Café tipo Bourbon e a outras como o câncer e presidentes de republiquetas.
A democracia faliu então o Darwinismo político prevê agora a ascenção do populismo ou de outros empirismos políticos!
Somos tão insignificantes que isto nunca chegaria a ser uma preocupação para o grande irmão do norte exceto pelo fato do populismo latino americano ter agora um verniz Castrista e potenciais aliados no oriente médio, distante e na China!
E não tem jeito, quer saber de uma coisa?
Arma atômica é como TV a cores, todo mundo um dia vai ter uma!
A não ser que o mundo acabe antes.
Eis então que chega este paspalho para visitar o nosso sob o pretexto de interesses econômicos e na ecologicidade do álcool.
A mesma pergunta de vinte anos atrás me vem à mente: quantos hectares de terras ótimas teremos de cobrir de cana para permitir que uma família americana percorra a Route 66 em seu Cherokee?
Podemos acusar o paspalho do norte de tudo, menos de falta de persistência!
Enquanto o álcool brasileiro lhe parecer um pretexto plausível pode ir se preparando para comer rapadura nas três refeições!
Como se não bastasse toda intragável soja que plantamos para alimentar seus porcos!
Com relação a isto consolam-me algumas pesquisas que atribuem à carne de animais assim alimentados o poder de causar-lhes câncer, ou como prefere a imprensa francesa: uma longa doença!
Um pequeno ponto de lucidez, no entanto, foi visto no céu:
Enquanto idiotas do mundo inteiro comemoravam a adesão do grande paspalho do norte à causa ambiental e a sua visita ao Brasil, um jornal inglês, certamente não por motivos corretos, denunciava em primeira página as condições de trabalho dos cortadores de cana: escravidão em pleno século XXI.

Lembro bem destes cortadores cuja realidade conheci há 20 anos atrás. Pareciam neandertais com armaduras de lona trabalhando sob o sol de 44 graus em jornadas absurdas e ganhando uma miséria sob o conforto do alcoolismo endêmico. Quando o tédio ameaçava sua sanidade, começavam uma briga no canavial e, com a mesma destreza com que cortavam a cana, se cortavam e se mutilavam arranjando assim um pretexto para mudar de ala no hospital do inferno.
Pô, só falta agora a mata de Alagoas!
Alagoas é genial, nos deu o Marechal Deodoro, Zagalo, Graciliano Ramos, Djavan, Collor e Heloísa Helena!
Quem é seu preferido?
Quer mais?
Vá procurar em outro lugar!
Mas Alagoas tem também a Mata do Murici, escolhida por espécies raras de animais como seu último lugar na Terra. A mata do Murici está sob séria ameaça do crime ambiental: posseiros, fazendeiros e pequenos agricultores não estão nem aí para aautoridade do único guarda florestal que patrulha a área e que já foi ameaçado de morte várias vezes.
Fecha-se aqui um ciclo vicioso no ponto sobre o qual agricultores indigentes ou semi, queimam um cartucho ambiental para cultivar lavouras de subsistência em cima de um santuário animal num país imenso que neste exato momento encontra-se mesmerizado pela hipótese de poder vir a contribuir com o pretexto do grande paspalho do norte de diminuir sua (deles) dependência energética a países hostis.
Perplexize-se!

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