
Kátia Queiroz Mattoso, que posteriormente viria a escrever o excelente " Da Revolução dos Alfaiates à Riqueza dos Baianos no Século XIX" , faz a apresentação descrevendo o livro como um álbum que revive uma Bahia quase perdida, mas que não queremos esquecer ( o incrível, para mim, é ter visões desta Bahia quando ouço as músicas de Dori, notadamente do CD Brazilian Serenata).

O baixo meretrício que dava a fama (má) ao lugar, me era invisível e eu freqüentemente me sentia em uma outra época (boa) ao caminhar pelos becos que levavam à repartição de meu pai.
O livro foi um reencontro com estas imagens que eu colorizava mentalmente e às quais, também mentalmente, adicionava o cheiro de lixo, frutas, mofo e urina que emanava das ruas, bueiros e das portas entreabertas.

Da janela do consultório de um médico oportunista se ouviam os gritos dos clientes das damas locais que, acometidos por alguma uretrite incapacitante, tinham então o seu encontro marcado com o "beniquet": uma cureta usada para RASPAR a uretra do desavisado portador do gonococo que agora tinha três evoluções possíveis: reincidir na gonorréia, desenvolver uma estenose e urinar em gotas ou pior, as duas coisas.
Memories, memories.
Um livro de Verger complementaria essas memórias: Retratos da Bahia, pela editora Corrupio.
Fotos mais recentes mostram o baiano típico numa Bahia viva entre os dois momentos de globalização que a encurralalam entre o pós-guerra e a onda atual.
Sobre eles, livro e autor, Jorge Amado escreveria:

Naquele tempo era francês e não sabia do encantamento que o prenderia à Roma Negra de Bastide (outro francês)....
Você verá um Retratos da Bahia que vem se completando por 34 longos anos de vivência intensa e amor pela cidade. Um retrato profundo e denso de seu povo, de suas alegrias, suas festas e suas crenças, onde as gentes da Bahia são sempre a primeira personagem do drama, da sátira ou da farsa que se representa nos diferentes momentos da vida. O pano de fundo é a belíssima arquitetura baiana, suas igrejas, fortes, sobrados ou bairros populares. Seus arvoredos sagrados, que, com sua sombra, dão força à límpida água das quartinhas e seu mar....
Bom, eis que chega às minhas mãos esta semana, o excelente: Retratos de um tempo, por Antônio Risério e Floro Freire. Trata-se de uma reconstrução visual da Bahia antiga através de intervenção gráfica por computação sobre documentos iconográficos da época; alguns destes documentos são fotos do primeiro livro do qual falei: "Bahia - Velhas fotografias - 1858 a 1900 por Gilberto Ferrez".
A reconstituição, feita em DVD e disponível a partir do site Retratos de um tempo, merece ser conferido pelo valor estético e documental da obra que explica de forma agradabilíssima o que todo baiano (de nascimento e coração) tem que saber sobre sua terra: Um kit completo de baianidade erudita!

Chega um Governador geral e a cidade toma corpo expandindo-se pelo horizonte do voyeur que adentrava a baía de todos os santos como uma cidade que, nos dizeres de um deles, escreve, na paisagem, o seu nome por extenso!

Compre o DVD e assista com a família. A Bahia que lhe parece bela vai ficar mais linda ainda. Se você tem uma veia poética poderá se surprender com os poemas e histórias que pipocarão na sua cabeça ao assistir as imagens da forma como estão apresentadas.
É um destes trabalhos que, pelo seu valor real, tem preço praticamente simbólico.
Morpheus saúda a iniciativa que teve seu lançamento há quase um ano (29/03/2006) com apoio do Governo do estado e que agora aparece neste hebdomadário caótico (que só nasceu em novembro passado!).
Incontidamente, peço-lhe que repare:
O casarão baixo estava na esquina onde hoje se encontra o Teatro Castro Alves: compare com a imagem que este local tem agora e imagine-se andando por lá...
Que viagem hein?

Infelizmente... o post tem que acabar! pois, como diz o sub-título do blog, tempori fugit.
Incluí na na coluna direita uma scrollbox do metafilter, um dos primeiros e mais populares dentre os blogs do mundo: notícias variadas de sites do mundo inteiro; cheque e tente se perder no mundaréu de posts bizarros.
Morpheus loves such a thing!
E prá finalizar, mesmo: Paco e McLaughin em Frevo rasgado de Gismonti!
Toda vez que eu acho que estou tocando bem, alguém me manda um link como este vídeo: visto as sandálias da humildade!
Mais por vir,
Inté.
Manellis
Um comentário:
Pois e' muito bem....Sem duvida tocam super bem ou melhor dizendo super herois da guitarra.
Porem vejo a musica por um outro lado. Um desafino, uma voz diferente, uma maneira de tocar estranha (ate' errada se quiser)....Tem que ter um algo mais. Imperfeiçoes sejam bem vindas !
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