novembro 23, 2010

Tristes trópicos

Um baiano em trânsito.
Longe de casa há mais de uma semana...
Sou o próprio Arlindo Orlando
A sala de espera do Salgado Filho é minha última escala antes de voltar para a primavera baiana.
Para trás ficarão um congresso e uma tediosa estadia que enche de alegria o meu retorno.
Acomodado numa confortável poltrona  vigio o meu meu iPod pendente da tomada em procedimento de carga para que possa assistir alguns episódios de meu seriado favorito nas próximas horas de voo.
Antes de desviar o olhar agradeço a Deus por minha identidade cultural e pelo privilégio de ansiar sincera e sofregamente por meu retorno à Bahia, a Salvador, à minha casa.
A TV da sala de embarque está com o som desligado e o plantão de notícias não tem Closed Captions.
A apresentadora, em indefectível figurino, anuncia o que se seguirá.
Coloco meu intelecto a postos como quem retesa os músculos antes de uma prova de 100m rasos.

  • Um carro em chamas numa via expressa: mais um arrastão numa linha colorida na Cidade Maravilhosa
  • Uma foto de uma garota com olhar terno ao lado de um bichinho de pelúcia: mais uma vítima de uma bala perdida.
  • Duas senhoras aparentemente  ansiosas com a foto de um homem de meia idade no colo: alguém desapareceu.
  • Policiais em cortejo num cemitério: mais um PM morto por bandidos.
  • Tomadas aéreas em uma favela (comunidade): mais um conflito entre agentes do tráfico
  • Imagens borradas permitem supor uma silhueta de alguém que dá um depoimento: mais uma testemunha que fala com a condição de não ser identificada
  • Um político discursa diante de logotipos olímpicos: obras superfaturadas


O som não parece ser necessário.
Brasil: um país que dispensa comentários!

Um comentário:

Luis Cláudio Correia disse...

Grande Manellis,

que sensibilidade, o silêncio falou mais alto do que o ruído das notícias. Grande postagem.

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