Quando me falou de Sindrome do Albatroz pensei que fosse algo relativo ao poema de Baudelaire.
Nada a ver
Deco Gusmão falava de outro problema bem específico e que creio tenha validade externa para nomear outras circunstãncias típicas da vida conjugal, profissional médica, familiar etc.
Tem esposan albatroz
Sogra albatroz
Amigo albatroz
Cozinheira albatroz
Filho albatroz
Etc.
Uma tonelada de gente que deveria estar voando por aí e fica pendurada em nosso pescoço.
Francamente!
Como uma dedução complementar à do Pequeno Príncipe, não se é responsável apenas pelos que conquistamos mas também pelos que destruímos!
Querido colega, nadador e gestor além de excelente cirurgião, tomara mande mais coisas para este ermo rincão da blogosfera.
Agradece o Morpheus.
A statue of the Ancient Mariner, with the albatross around his neck, at Watchet, Somerset. The statue was unveiled in September 2003 as a tribute to Samuel Taylor Coleridge.
Ah ! well a-day ! what evil looks
Had I from old and young !
Instead of the cross, the Albatross
About my neck was hung.
A Síndrome do Albatroz foi descrita inicialmente para pacientes gastrectomizados que permanentemente se queixavam de sintomas inexplicáveis e sem fundamentação clínica, visto em indivíduos com alterações de personalidade. É inclusive descrita como uma variação da síndrome de Münchhausen.
O que me chama a atenção é a metáfora utilizada, uma vez que seu nome deriva de um famoso e importante poema inglês "The Rime of the Ancient Mariner", em que o marinheiro é condenado a carregar o albatroz que matou pendurado ao pescoço, enquanto toda sua tripulação morre em seu navio-fantasma.
Esse albatroz representa um peso morto, castigo que o marinheiro é obrigado a levar em penitência por seu crime. Ou seja, o cirurgião agora é obrigado a levar consigo um paciente que se queixa sem razão.
Interessante a síndrome ter sido descrita em uma época quando as gastrectomias eram as operações mais realizadas, sendo o tratamento definitivo para úlcera péptica. Muitos pacientes foram gastrectomizados por doença péptica nesse período.
Associa-se a isso a falta de recursos diagnósticos e terapêuticos da época, que os impedia de descobrir e tratar úlceras de boca anastomótica, coleções intra-abdominais e dumping.
Hoje em dia, muitos médicos extendem o conceito da "síndrome" para toda classe de pacientes, cirúrgicos ou não, que se queixam sem razão aparente. Inventaram, inclusive, uma metáfora nova, de que seria a doença um albatroz que sempre segue os navios, e nunca deixaria de seguir seu doente.
Meu medo é de a Síndrome do Albatroz ser na verdade uma síndrome dos médicos e não dos pacientes. Afinal, segundo o poema, quem está pagando sua penitência é o marinheiro, e não o albatroz.
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Dr. André Gusmão Cunha
Gastrocirurgia e Cirurgia Geral
Transplante Hepático - H. Português
Prof. Cirurgia UFBA
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