Sempre achei, desde criança, que o apelido de "Fúria" para o escrete espanhol é meio tiração de sarro.
Os caras adoram futebol, prometem grandes performances, entram em campo e após desempenhos pífios são eliminados precocemente... voltam furiosos!
Que decepção!
Um gol de pelada de enésima categoria e já começou a fúria.
Pois então...
Lá vai a Copa e com ela a minha defunta paixão pelo futebol se manifesta como uma incorporação num centro espírita.
Mesmo julgando ser imune, já me peguei várias vezes em regozijo pelo empate italiano, pela derrota dos Franceses, dos Espanhóis...
Torcer contra a Argentina então... nem se fala.
Hoje estava numa típica viagem ao passado quando lembrei de tantas outras copas e suas emoções. Uma lembrança fresca e nítida encerrou o escaneamento: a copa de 74!
Tinha 7 anos na copa de 70 e vivi uma euforia emprestada por ocasião do tri.
Em 74 seria diferente: 16 seleções cujas escalações conhecia de cor.
O Brasil ia sem Pelé mas tinha ídolos como Leão, Luiz Pereira, Marinho Chagas e Rivelino...
O tetra estava no papo!
Infelizmente não foi bem assim.
Dois empates horríveis com Escócia e Iugoslávia (lembram-se de Tito?) e um 3 a 0 de fininho num Zaire estreante.
Um a zero na Alemanha Oriental (lembram?) e 2 a 1 na Argentina (viva!) pareciam embalar meus recém-nascidos ânimos de torcedor e patriota.
Aí veio a Holanda com seu carrossel, Cruyff, Neskens, Rep, Resenbrink e meu sonho acabou.
Perdemos o 3º lugar para a Polônia e voltamos para casa para lamber as feridas.
A MPB produzia pérolas e a ditadura, gritos abafados.
Os anos se passavam com a sensação de décadas!
Os quatro anos que nos separariam da copa da Argentina seriam longos e insuportáveis
Mas passaram e se diluem no meu diretório cerebral que aramazena grandes emoções.
Num momento qualquer desses 4 anos eu leria o livro Futebol Total do holandês Cruyff onde a seleção Holandesa era exaltada ao máximo mesmo com um vice-campeonato.
As partes reservadas ao Brasil eram crudelíssimas: nelas estávamos como um gigante moribundo que tinha sua era encerrada.
De fato, jogamos muito mal contra Holanda em 74; parecia que praticavam um outro esporte!
Nossos ídolos estavam atordoados diante de tanta correria e versatilidade.
Gagalo que já era atordoado, entrou em estupor.
Na próxima copa cederia o lugar para Cláudio Coutinho que viria a morrer prendendo a respiração ao perseguir um peixe depois de nos proclamar "Campeões Morais de 78" numa copa ganha pela ditadura Argentina e que alavancaria a imbecilidade de Galtieri de invadir as Falklands.
Quanta maluquice!
A Holanda ainda suspiraria em 78 voltando de vez em quando como aquela feijoada gostosa que nos aviva a memória no domingo à noite com suas exalações.
O tal do livro de Cruyff foi lido e relido por mim várias e várias vezes enquando compreendia que a boa e grande emoção verdadeira caminha de mãos dadas com decepção e tristeza de igual quilate.
A incerteza sobre qual vai nos abraçar é o mistério da magia do futebol.
Cruyff passou, amarelou e fugiu de 78 e posteriormente infartou como um bom fumante inveterado que era.
Passaram tb Platini, Paulo Rossi e Zidane.
Tiveram estes pelo menos a sensatez de não escrever livros-obituários do futebol-arte brasileiro.
Pronto.
A copa vai nos entreter pelos próximos dias confirmando a máxima astronômica que diz que quando a bola rola, seu repectivo planeta para!
Passar para a próxima fase é barbada.
Depois...
Um beta-bloqueador e umas doses de conhaque que eu não sou menino!
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