Quando menino ouvia muitos dos mais velhos dizerem: "... a Bahia é a terra do já teve..."
Essa era a maneira deles protestarem contra as mudanças que representavam quebras inaceitáveis na linha evolutiva do urbanismo na cidade de Salvador.
Graças a decisões totalmente alheias ao bom senso, temo que tenha chegado nossa vez de proferir com ar de experiência o bordão dos antigos.
O texto abaixo é um fragmento de um e-mail encaminhado por uma turma boa da arquitetura baiana.
Retiradas as partes claramente opinativas fica o substrato informativo.
Marco da arquitetura moderna baiana, o Estádio Otávio Mangabeira ou Fonte Nova foi projetado, em 1941, pelo arquiteto Diógenes Rebouças, que naquela época era o maior representante desse movimento arquitetônico na Bahia, com assessoria dos arquitetos Lucio Costa e Oscar Niemeyer. O Projeto possuía
a forma de uma ferradura abrindo-se para o Dique de Tororó, e sua obra foi inaugurada em 28 de janeiro de 1951.
Rebouças, em 1968, como membro dos conselhos da Fundação do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia e do Estadual de Cultura, realiza o projeto de
ampliação desse Estádio.
Com a implantação aninhada perfeitamente à encosta e com a parte aberta da ferradura voltada para o Dique do Tororó, provocou a integração paisagística
a este conjunto tombado nacionalmente, fazendo com que, além do valor da edificação, co-existisse o valor da paisagem que deverá, também, ser afetada com essa demolição.
Rebouças projetou além do estádio, obras de grande importância para a nossa cidade das quais destacamos as realizadas entre o final da década de 1940 e o inicio dos anos 1950: a Escola-Parque (Centro Escolar Carneiro Ribeiro, cuja primeira fase foi inaugurada em 1950), a Penitenciária do Estado (inaugurada
em 1951) e o Hotel da Bahia, sua mais importante obra de arquitetura, desenvolvida em parceria com Paulo Antunes Ribeiro a partir de anteprojeto elaborado por ele (1951), dentre outros.
Foi também o coordenador do EPUCS (Escritório de Planejamento Urbano da Cidade do Salvador), entre 1948-1950, após a morte do engenheiro Mário Leal Ferreira.
É dele também o primeiro escritório de arquitetura da Bahia, pois, anteriormente, os projetos dos principais edifícios eram desenvolvidos fora do estado ou pelos engenheiros locais.
Por que demolir a Fonte Nova?
Apesar de haver uma solicitação de tombamento enviada em 2008 e 2009 pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia e pelo Núcleo Bahia do Docomomo Brasil, como também laudos técnicos constatando ser recuperável a sua estrutura, o Governo do estado determinou a sua demolição para dar lugar a uma nova arena, menor que atual, e um shopping.
A estrutura principal atualmente existente no estádio, com seus 88 pórticos do anel superior, toda a estrutura do anel inferior e as respectivas fundações, é perfeitamente aproveitável, como apresentado em laudo técnico.
Em países de desenvolvimento econômico e cultural mais avançado, como é o caso da Alemanha, para a reforma do estádio de Berlim foi aproveitado a estrutura, trazendo uma economia para o estado e evitando inclusive o impacto ambiental produzido pelo entulho.
No Brasil também outros estados optaram pela reforma ou adaptação de seus estádios adequando-os às exigências feitas pela FIFA para sediarem a Copa de 2014.
Segundo Argan: “Está em andamento um fenômeno de rejeição da história pelo pragmatismo que caracteriza o mundo moderno”. E mais: “ O critério de qualidade instaurado pela estética idealista com a definição de arte em termos de categoria do espírito traduziu-se na cômoda prática de salvar apenas as obras-primas, abandonando o resto ao seu destino”.
Mais uma vez a população perderá não somente o parque olímpico composto de piscina olímpica, pista de atletismo, campo de futebol como também um Ginásio de Esportes, como também, um bem singular de valor cultural, histórico, arquitetônico e paisagístico.
Lido e entendido, tire suas conclusões!
P.S. Não creio que fique feio e também não creio que não seja entregue no prazo; o preço porém...
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