janeiro 14, 2010

Carpe diem

Segundo meu colega Ricardinho, o manellismo já é uma doutrina bem-configurada ainda que não passada decentemente para o papel. Para falar a verdade, espero por apóstolos que codifiquem meu pensamento uma vez que entre as qualidades básicas do bom manellista está a procrastinação e o laissez faire.
O texto abaixo, não poderia ser mais canônico.
Encerra os conceitos que me fazem, com frequencia, abrir um bom borgonha numa banal segunda-feira.

Leia com atenção e comece a praticar já!

O momento é agora

JOHN TIERNEY

Os cientistas sociais descobriram uma falha na psique humana que não será desagradável de corrigir. Talvez você nem precise de um grupo de apoio. Pode começar de uma simples resolução de Ano-Novo: divirta-se. Agora!
Depois disso, você só precisará de força de vontade para usar seus vales-presente, tomar aquela garrafa de vinho, usar suas milhas acumuladas e tirar as férias que sempre desejou. Se fraquejar, não ceda ao sentimento de culpa ou vergonha.
Reconheça o que você é: um procrastinador de prazer em recuperação. Pode soar estranho, mas essa é na verdade uma forma muito comum de procrastinação. Basta perguntar às empresas que, todos os anos, poupam bilhões com vales-presente não usados.
Psicólogos e economistas comportamentais levaram algum tempo para analisar essa condição. Recentemente, começaram a estudar o impulso de adiar para amanhã aquilo que poderia ser desfrutado hoje.
Por que, por exemplo, é tão difícil encontrar tempo para visitar atrações turísticas em nossos próprios quintais? Pessoas que se mudaram para Dallas, Chicago ou Londres visitam menos atrações locais em seu primeiro ano nessas cidades do que faz um turista que passa apenas duas semanas nelas, revela um estudo de Suzanne B. Shu e Ayelet Gneezy, professores de marketing na Universidade da Califórnia em Los Angeles e da Universidade da Califórnia em San Diego, respectivamente.
Quando não existe nenhum prazo final imediato, tendemos a adiar a visita ao zoológico porque supomos que teremos mais tempo no próximo fim de semana -ou no seguinte, ou no próximo verão. É o mesmo pensamento que nos leva a deixar um vale-presente na gaveta porque prevemos ter mais tempo para fazer compras no futuro.
Tentamos fazer uma análise de custo-benefício do tempo perdido versus o prazer ou dinheiro a ser ganho, mas não somos precisos nas estimativas do "desnível de recursos", como o chamam Gal Zauberman e John G. Lynch.
Esses dois economistas comportamentais descobriram que, quando se pede às pessoas que prevejam quanto tempo e dinheiro terão no futuro, elas presumem que o dinheiro será curto, mas esperam que tempo livre apareça como mágica.
Por isso, é mais provável que as pessoas concordem em assumir para o ano que vem um compromisso -como fazer um discurso- que recusariam se alguém lhes pedisse que encontrassem tempo para isso no próximo mês. Isso gera o que os pesquisadores descrevem como efeito "sim -que droga!": quando chega a hora do discurso, a pessoa descobre que está tão ocupada quanto sempre.
Uma vez que você começa a adiar prazeres, se fixar sua atenção sobre algum nirvana imaginário, isso pode virar um processo que se autoperpetua. Quanto mais tempo você espera para abrir aquela garrafa de vinho, mais especial a ocasião precisa ser para fazer jus ao vinho.
Se quer aproveitar ao máximo os créditos de milhagem, pode acabar perdendo-os. "As pessoas podem ficar focadas demais sobre um ideal", disse Shu. "Mesmo que saibam que é improvável que se concretize, ficam tão fixadas no cenário perfeito que bloqueiam outras possibilidades.
Ou preveem que se arrependerão mais tarde se aceitarem a segunda melhor opção, apenas para descobrir que a melhor opção ainda está disponível. Mas não se dão conta de que elas podem acabar com algo pior e lamentar não terem optado pela segunda melhor alternativa."
Como aplicar essas lições? Como evitar adiar o prazer? Uma estratégia imediata, disse Shu, é usar rapidamente qualquer vale-presente que tenha recebido no Natal. "O maior perigo é que ele acabe vencendo", disse.
Outra tática é fixar prazos. Determine que você vai usar as milhas aéreas até o verão, mesmo que não sejam suficientes para uma viagem de volta ao mundo. Em lugar de esperar por uma ocasião especial para desfrutar de algum prazer, crie uma.
Lembre-se do conselho dado no filme "Sideways - Entre Umas e Outras" ao personagem Miles, que guarda uma garrafa de Cheval Blanc ano 61 há tanto tempo que ela pode estragar.
Quando ele diz que está esperando uma ocasião especial, sua amiga Maya responde: "O dia em que você abrir um Cheval Blanc 61, isso será uma ocasião especial".

3 comentários:

Unknown disse...

Não procastine o prazer, ou podemos deixar para amanhã?

Luis Cláudio Correia disse...

Concordo 100%.
Por falar nisso, recomendo a leitura da Revista Muito, da Tarde do último domingo, que recomenda 10lugares excelentes para nós que moramos em Salvador aproveitarmos o verão.

Manellis disse...

Por certo, Barralzinho!
A procrastinação de um prazer é um pecado mortal para o manellismo e apenas perdoável quando se trata de arrumá-lo numa fila na qual esteja atrás de um outro ainda maior!

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