outubro 01, 2008

Matéria e Pensamento

Os materialistas estão certos,
É tudo matéria!
Ou melhor, partículas!
Mas aí começa um paradoxo, há partículas sem massa!
Uma delas, o Bóson de Higgs - ainda não identificado, mas previsto - é o grande convidado da festa do LHC que sofreu uma panezinha mas já volta em 2009.
Tudo no universo é partículas; as com massa e as sem massa. O bóson de Higgs guardaria consigo a magia de gerar o campo que permite, digamos, a coisificação da matéria; a expressão material, palpável de tudo quanto existe. Alguns chamam-no de a partícula de Deus pelo seu poder de dizer faça-se isto, aquilo ou aquilo outro. Eu gosto de entendê-lo como o "olho" de Deus; ao se portar como um observador que confere realidade à coisa observada.
As conseqüencias de sua identificação ( ou mesmo da sua negação) serão importantíssimas para a nossa compreensão do universo e inclusive de nós mesmos, esta sopa na qual uma mente vive de inquilina num corpo nem sempre amigável e que dá-lhe prazer e sofrimento seguindo um protocolo que ainda não foi bem identificado.
Por silogismo, a partir do que se sabe hoje, somos nós, também uma sopa de partículas!
Especialmente arranjada, mas uma sopa de partículas.
Partículas com massa e partículas sem massa bem entendido!
A quem pertencceria a primazia sobre a composição da nossa mente?
Ao arcabouço particular material ou imaterial?
Até que ponto dependeria um do outro?
Até onde sei, estas questões nunca foram colocadas e creio mesmo que muita gente possa achá-las um tanto quanto bizarras; mas acho que são pertinentes.
Será que uma matriz de bósons de Higgs - com seu poder de conferir materialidade aos seu arredores - é a nossa verdadeira teia existencial?
Enquanto divago sobre estas abobrinhas quântico-filosóficas vou me distraindo com o mais novo livro de Steven Pinker:
Do que é feito pensamento
Companhia das Letras
R$ 56,00
Um livrão de quinhentas e tantas páginas de um dos mais interessantes popstars da ciência cognitiva.
Neste livro, Pinker discorre sobre como o uso das palavras pode explicar a natureza humana; de que maneira criamos palavras, tentamos convencer os outros, flertamos, usamos palavrões, contamos piadas, escolhemos os nomes de nossos filhos, enfrentamos disputas judiciais?
A linguagem está em toda a parte como um verdadeiro componente do real ainda que desprovida de massa!
Como um bóson lingüiístico.
Usando um estilo informal e rigoroso ao mesmo tempo, com exemplos tirados do dia-a-dia e de citações de filósofos, escritores e astros do mundo pop, Pinker mostra através de uma dissecação elegante e bem-humorada de verbos, substantivos, pronomes, metáforas, discursos indiretos e neologismos, de que matéria é feito o nosso pensamento.
Um dos assuntos prediletos de Morpheus
Apesar de não ser desses leitores fundistas que devoram 500 págs numa sentada, fiquei sem conseguir largar o livro pelas primeiras 150 págs.
Recomendabilíssimo!

P.S. Se você entende um pouco de física, vá brincar no simulador online do LHC
P.P.S Abaixo, um brilhante texto de JOÃO PEREIRA COUTINHO, colunista da Folha (se reclamarem eu retiro!) no qual ele diz tudo que o Morpheus também pensa sobre a reforma ortográfica que vem por aí criada por gente que não entende nada sobre o que é uma língua!
Gente que merece ler Steven Pinker
Enquanto esta neo-imbecilidade ainda não toma forma, vou curtindo meus orgasmos lingüisticos toda vez que emprego uma palvra com trema.

Acordo ignora identidades culturais
Acordo ortográfico? Não, obrigado. Sou contra. Visceralmente contra. Filosoficamente contra. Linguisticamente contra.

Começo por ser contra com a força das minhas entranhas: sou incapaz de aceitar que uma dúzia de sábios se considere dono de uma língua falada por milhões. Ninguém é dono da língua. Ninguém a pode transformar por capricho. Por capricho, vírgula: por mentalidade concentracionária, em busca de uma unidade que, para além de impossível, seria sinistra.
A língua é produto de uma história; e não foi apenas Portugal e o Brasil que tiveram a sua história, apresentando variações fonéticas, lexicais ou sintácticas; a África, Macau, Timor e Goa, que os sábios do acordo ignoram nas suas maquinações racionalistas, também têm direito a usar e a abusar da língua. Quem disse que o português do Brasil é superior, ou inferior, ao português falado e escrito em Luanda, Maputo ou Dili?
Meu princípio filosófico: a pluralidade é um valor que deve ser estudado e respeitado. Não me incomoda que os brasileiros escrevam "ator" e "ceticismo" sem usarem o "c" ou o "p" dos lusos. Quando leio tais palavras, sei a origem delas; sinto o sabor tropical em que foram forjadas.
Mas exijo respeito. Exijo que respeitem o "actor" português e o "cepticismo" luso com o "c" e o "p" que o Brasil elimina.
Os sábios discordam. E dizem que a ortografia é simples transcrição fonética, ou de "pronúncia". Se ninguém lê "actor", com acentuação no "c", por que motivo mantê-lo? Sim, por que motivo manter esse "c" arcaico que só atrapalha a unidade da língua?
Lamento. Eu gosto do "c" do "actor", do "p" de "cepticismo". Eles representam um património, uma história. Uma pegada etimológica que faz parte de uma identidade cultural. Mas o "c" e o "p" não são apenas antiguidades de uma ortografia; como relembrou recentemente o poeta português Vasco Graça Moura, esses "c" e "p" abrem a vogal que os antecede e fornecem informação para pronunciar correctamente as palavras. Acordo ortográfico? O gesto é prepotente e apedeuta. Aceitar essa aberração filosófica e linguística, impensável para ingleses (ou franceses), significa apenas que a irmandade entre Portugal e o Brasil continua a ser a irmandade do atraso.

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