Do "em si" ao "para si" existe a tal da Fenomenologia do Espírito.
Esta longa estrada está coalhada de armadilhas; nem todos a completam de maneira adequada a ponto de ser recebido por um comitê de boas-vindas após cruzar a fronteira da existência material.
Seria preciso viver 94 anos?
Acho que não.
9+4= 139 é força; 3 x 3; a perfeição da trindade elevada ao quadrado
4 é a carta do imperador; a autoridade serena de quem descansa em apenas uma perna olhando com maturidade para o passado.
1 é o mago
3 a trindade
13 a transformação, muito mais do que a morte pura e simples!
Caymmi é mistério.
Desde o momento em que se viu no espelho pela primeira vez, Caymmi já deve ter visto o mundo; inteiro completo e parte de si e dele parte também; componente e proprietário tudo ao mesmo tempo!
Acho que sua longevidade tenha sido muito mais uma dádiva concedida a nós pela providência do que uma mera necessidade na "história das coisas".
Gil é brilhante e pouco entendido, embora muito admirado.
João (e só há um!), menos entendido ainda é guardião do mistério em sua primeira emanação; goza o status de objeto de estudo e motivo de admiração metafísica.
Dorival no entanto, é o sagrado hierofante.
O príncipe da canção.
O Buda nagô
Tudo bem, há Donga, Nazareth, Chiquinha Gonzaga e outros.
Pré-profetas decerto; Caymmi no entanto é o nosso revelado.
Caymmi Akbar (o maior de todos)
Cantaria um muezim baiano do alto de um terreiro ecumênico.
Fazer música é esculpir o silêncio e, neste ofício, ele foi o nosso Michelangelo!
Econômico e preciso, ele dominou as quintas e o acalanto - as duas únicas características universais da musicalidade humana.
Como seria a obra de Villa-Lobos se Caymmi tivesse chamado-lhe a atenção?
O passamento deste mestre não me causou as lágrimas imaturas que verti quando da morte de Gonzagão; hoje choro ao escrever, estas lágrimas literais.
Baiano que sou, conheci sua arte como background musical anônimo na minha infância; depois veio Toquinho, Baden, Gil, João e finalmente Ele.
Toquinho foi a infância musical rica e prazenteira
Baden foi uma religião
Gil foi a filosofia
João foi a arte
Caymmi, a síntese de tudo: natura naturante!
Bendita seja a determinação da providência de ter-nos permitido compartilhar de sua arte
Benditos sejam todos, que mesmo sem entendê-lo completamente, o vêem como nosso profeta.
Todas as leis, despidas de complexidade, manifestas em canções onde de nada vale o equipamento hi-fi dos audiófilos iletrados e sim os ouvidos da alma!
Salve Caymmi, 94 anos do nosso iluminado.
P.S. Quebro o descanso programado e anunciado porque assim não poderia deixar de ser;
A temporada de neve foi maravilhosa e daqui a pouco estarei aqui falando de snowboard, vinhos e restaurantes de Santiago. Até lá, somente o luto por nosso Buda Nagô.
Abaixo, um pequeno tema em sua homenagem
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