agosto 01, 2007

O choque anafilático de Santos Dumont

A medicina nem sempre teve o poder de resolução que nos disponibiliza hoje; no entanto, a cirurgia já existe desde o relato bíblico da extirpação da costela de Adão numa tentativa frustrada do criador de nos presentear com uma companheira para "toda" a vida. As esposas, infelizmente, não costumam mais ser para toda à vida mas as ex-mulheres são! Vagam de mãos dadas com advogados como tumores extirpados que querem destruir a nave mãe (ou pai!). Quanto mais ficam feias e envelhecem mais ficam sedentas de vingança. O grande lance é passar a incoveniência para frente, com o mesmo sorriso de quem vende um apartamento cheio de problemas a um incauto comprador, alegando por exemplo..."motivo de viagem".
Bem, mas à parte este nariz de cera que encerro aqui para que não roube a cena do meu post, eu começara a falar da antiguidade cirúrgica justamente para compará-la com a juventude da anestesia (anestesiologia, como ciência, bem entendido). Você já imaginou como, ao longo de milhares de anos, os bisturis incompetentes se justificavam ao parente do morto depois de um insucesso que se seguia a persuasivas promessas de sucesso e cura?
Pois é, eram os Deuses, os maus espíritos, Pasteur, com o microscópio de Lleuwenhoek, começou a acusar as bactérias e aí a coisa começou a ficar meio inacessível à compreensão dos leigos.
Aí chegou a anestesia...
As primeiras não funcionavam ou eram digamos...fortes demais!
Os cirurgiões acharam ótimo, pois diante de um insucesso previsível, era só prolongar a cirurgia e esperar o paciente "não resistir à anestesia". Na verdade eram eles, os cirurgiões que sempre foram meio "irresistíveis"!
A coisa foi ficando meio manjada e após pactos silenciosos, descobriu-se a figura do choque anafilático: uma entidade real e possível; uma espécie de alergia devastadora que pode causar choque imediato se não for prontamente atendida. No entanto, a verdadeira anafilaxia (rápida e devastadora) é muito menos comum do que se imagina embora tenha sido utilizada como bode expiatório dos mais variados tipos de problemas intra-operatórios (muitos de origem plenamente conhecida). Aí se esconde um pouco da maldade humana (eu chamo, no meu léxico particular, de "evasão glútea", ou seja, tirar a bunda da seringa!): a alegação de choque anafilático, principalmente nos casos de morte, deixa a culpa na costas do morto que fica este sim, com cara de bunda! (mesmo morto). Era assim, que num passado não muito distante, se encobria (com freqüencia) erros de medicação, overdoses, reações transfusionais, choque pirogênicos (por equipamentos mal esterilizados) etc.
A alegação de culpa exclusiva do piloto no caso do acidente do Airbus, não sei por quê me lembrou desta história toda. O cara já morreu, a caixa preta está realmente preta de tão carbonizada e a explicação dada absolve de uma forma parcial, mas muito efetiva, governo, companhia aérea, aeroportos, "top top tops" e assemelhados.
Pode ser um pouco de paranóia minha mas, dado aos antecedentes do país, não seria uma paranóia injustificada.
A polêmica sobre a invenção do avião seguirá séculos afora (Irmãos Wright X Santos Dumont), mas eu diria que estamos abrindo vantagem sobre os concorrentes no quesito catástrofe aérea, cê num acha?
Um amigo meu costuma dizer que a única certeza sobre explicações oficiais é a de que elas são falsas!
Saem hoje as revelações da caixa-preta, a serem divulgadas após análise dos deputados.
Tirem suas conclusões.
Como P.S. tardio vai abaixo a transcrição da caixa:
Hot 1 e Hot 2 são os comandantes. Eles eram Henrique Stephanini Di Sacco, 53, e Kleyber Lima, 54.
Hot 1: Está ok? Tudo certo?Hot 2 diz que está tudo OK na cabine e pergunta onde irão pousar.Hot 1: Eu acabei de informar.Hot 2: Eu não ouvi, desculpe, ela falando.Hot 1: Mas ela ouviu. Congonhas.Hot 2: É Congonhas? Que bom. Ela deve ter ouvido, obrigado.Hot 1: Lembre-se que temos apenas um reverso.Hot 2: Sim, nós só temos o esquerdo.
TAM 3054 reduz velocidade para aproximação e chama a torre.Hot 1: Boa tarde.Hot 2: Boa tardeHot 1: Torre de São Paulo, aqui é TAM 3054.Torre: TAM 3054 reduza a velocidade mínima para aproximação. O vento é norte 106.Hot 1: Eu vou reportar quando estiver ok.Torre: Autorizado.
[Ele voava a 6.000 pés. Os trens de pouso descem.][Check list final. Uma verificação indica que a aeronave passa por Diadema.]
Piloto avisa cabine de comando de que estava pronto para pousar.Hot 1: Aterrissando sem azul. Pista de chegada à vista, pousando.Um dos comandantes pergunta à torre sobre a condição da chuva, da pista, se ela está escorregadia.Hot 1: TAM em aproximação final a duas milhas de distância. Poderia confirmar condições?Torre: Está molhada e ainda escorregadiaTorre: Eu reportarei quando a 35 estiver liberada. 3054 na final.Torre responde que outra aeronave está começando a decolar.
Torre: TAM 3054. 35 à esquerda. Autorizado para pousar. A pista está molhada e escorregadia. O vento é 330 a 8 nós.Hot 1: 330 a 8, é o vento.Torre: Checado, 3054, 3054 Roger. O pouso está liberado. O pouso está liberado.
[Piloto automático desconectando. Som de três cliques indica a reversão do CAT 2 ou 3 para CAT 1, ou seja, para aproximação visual.]
Torre: Inibido a descida para mim. Tira o sinal.Hot 2: Um ponto agora. Ok?Hot 1: Ok.Torre: Ok. Retardar, retardar.
[Som do movimento do acelerador. Barulho do motor aumenta. Som de toque na pista.]
Hot 1: Reverso 1 apenas. Spoilers nada.Hot 2: Olhe isso! Desacelera! Desacelera!Hot 1: Eu não consigo, eu não consigo. Oh, meu Deus! Oh, meu Deus!Hot 2: Vai! Vai! Vira! Vira! Vira!
[Som de batida. Pára som de batida.]
Torre: Ah, não.
[Som de gritos. Voz feminina. Som de batida.]

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails