junho 19, 2007

O auto do compadecido

A TV Câmara tem me surpreendido de forma positiva sempre que, por tédio, zapeio o dial da Sky. A última melhor surpresa foi a reapresentação de uma aula-espetáculo ministrada por Ariano Suassuna. Aos 80 anos de idade, este senhor impregnado de Brasil e de sonhos nacionalistas (quase um Policarpo lúcido) falou durante uma hora para uma platéia embevecida que contava entre seus membros os ilustres deputados Inocêncio e Aldo Rebelo (!!!!!!).
Um show de memória e de brasilidade sadia e erudita!
Esta aula ocorreu em novembro do ano passado e eu não assisti simplesmente por causa do meu (pré) conceito contra tudo que emana desta que deveria ser "A" casa do povo.
Busquei no site mas não encontrei o link para o vídeo. No entanto encontrei-o no portal da Globo online dividido em cinco partes.
Não deixe de ver este julgamento (auto) feito por um compadecido brasileiro que do alto de sua existência e erudição, encontra argumentos convincentementes indulgentes para atenuar nossa irritação e desespero para com o nosso país!
Assista, principalmente se você é um recém incorporado membro ao grupo dos brasileiros cultos nihilistas!
Segue abaixo alguns aspectos da apresentação e, mais abaixo os links para o portal da Globo Online. Faça o cadastro básico no site para ter acesso aos vídeos, é bem simples.
Os vídeos são curtos mas ilustrativos.
Se alguns dos passantes descobrir onde está a aula integral no site da TV Câmara, me informe!

Ariano Suassuna dá aula-espetáculo aberta ao público
16/11/2006
O escritor é o primeiro convidado de série de entrevistas com grandes nomes do pensamento nacional. Lançamento, dia 21, terá aula-espetáculo na Câmara.
A Câmara dos Deputados lança na próxima terça-feira (21) o projeto Personalidade, uma grande entrevista com brasileiros de destaque cujo conteúdo será reproduzido pela TV Câmara, Agência Câmara, Jornal da Câmara e Rádio Câmara. O primeiro entrevistado da série é o dramaturgo e escritor Ariano Suassuna. Para marcar o lançamento, o próprio Ariano vai ministrar uma de suas famosas aulas-espetáculo no auditório Nereu Ramos, às 19h. A aula-espetáculo é gratuita e aberta ao público.
A entrevista rendeu um programa de uma hora de duração, que estréia na TV Câmara domingo (26), às 20h. A íntegra da conversa do escritor com os jornalistas Cláudio Ferreira e Amneres Pereira e com a antropóloga Aparecida Nogueira estará disponível no dia seguinte (segunda-feira, 27) na Agência Câmara. Os melhores momentos serão veiculados ainda pela Rádio Câmara e publicados pelo Jornal da Câmara.
As próximas edições do Personalidade terão como convidados o iatista Lars Grael, o antropólogo Roberto DaMatta e o economista Luciano Coutinho.
A proposta do Personalidade é discutir a sociedade brasileira a partir de personalidades de renome nacional. Artistas, diretores, professores universitários, pensadores, quaisquer pessoas que se destaquem em suas áreas de atuação vão expor suas idéias em relação ao Brasil, seu diagnóstico de nossa realidade e sua reflexão sobre os melhores caminhos a tomar.
Cultura popular
Ariano Suassuna, dramaturgo, romancista, poeta, ensaísta, defensor incansável da cultura popular, das raízes brasileiras, especialmente a nordestina, tem 79 anos e nasceu em João Pessoa (PB). Em 1946, aos 19 anos, entrou para a Faculdade de Direito do Recife, onde conheceu um grupo de escritores, atores, poetas, romancistas e pessoas interessadas em arte e literatura, entre os quais Hermilo Borba Filho, com o qual fundou o Teatro de Estudantes de Pernambuco.
Em 1947, escreveu sua primeira peça de teatro, Uma mulher vestida de sol, baseada no romanceiro popular do Nordeste. Com ela ganhou o prêmio Nicolau Carlos Magno, em 1948. Em outubro de 1970 lançou o Movimento Armorial, com o concerto Três séculos de música nordestina: do barroco ao armorial, na Igreja de São Pedro dos Clérigos e uma exposição de gravura, pintura e escultura.
De 1975 a 1978 foi Secretário de Educação e Cultura do Recife. Doutorou-se em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em 1976. Foi professor UFPE, onde ensinou Estética e Teoria do Teatro, Literatura Brasileira e História da Cultura Brasileira, por 32 anos.
Em agosto de 1989 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, na cadeira número 32, que pertenceu ao escritor Genolino Amado. É autor, entre outras obras, de Auto da Compadecida (1955); O santo e a porca (1957); O casamento suspeitoso (1957); A pena e a lei (1959); Farsa da boa preguiça (1960); A caseira e a Catarina (1962); Romance d′a pedra do reino e o príncipe de Sangue do Vai-e-Volta (1971, traduzida para o inglês, alemão, francês, espanhol, polonês e holandês).
De política à cultura
A equipe dos veículos de comunicação da Câmara dos Deputados foi até Recife entrevistar o escritor na casa dele, no tradicional bairro de Casa Forte. Ariano Suassuna falou de política, da cultura brasileira, da influência estrangeira, de sua obra, da formação política do país, da América Latina e de diversos outros temas. Leia alguns trechos:
Sobre Lula:
"Pela primeira vez, um homem do povo do Brasil real atingiu a Presidência da República"
Sobre a América Latina:
"Acho que é uma coisa fundamental o fato de (Hugo) Chávez partir de Bolívar, que, para mim, é o maior homem da América Latina. O meu sonho de união latino-americana segue a linha do sonho de Bolívar"
Sobre a Língua Portuguesa:
"Traduzir goalkeeper por goleiro eu acho que foi um progresso, uma aquisição. Com isso, a língua se enriquece e não se deturpa, não se vulgariza, não se corrompe"
Sobre a influência cultural estrangeira:
"A boa arte estrangeira, eu não tenho nada contra ela. Eu falo mal é contra o lixo cultural que querem nos apresentar como modelo, como parâmetro. Querem a uniformização da cultura e querem que eu ache que uniformização da cultura é universalização da cultura. Não é"
Sobre a formação do país:
"A América de fala hispânica se fragmentou toda. E o Brasil ficou nessa unidade. O Brasil se tornou essa unidade entusiasmadora de contrastes que é hoje graças a uma jogada política habilíssima, uma jogada de Sancho, de um misto de Sancho e Dom Quixote que era José Bonifácio, que, contrariando os radicais da época, deu um estalo e disse: "A independência do Brasil deve ser feita pelo herdeiro da Coroa Portuguesa".
Sobre a influência da cultura popular em sua obra:
"Eu me baseei em três folhetos da literatura da cordel (para escrever o Auto da Compadecida). O primeiro ato é baseado num folheto chamado O Enterro do Cachorro. O segundo ato é baseado noutro folheto, chamado O Cavalo que Defecava Dinheiro. Na peça, eu transformei num gato por motivos óbvios, porque era muito difícil você botar um cavalo no palco. E o terceiro ato é baseado num terceiro folheto, chamado O Castigo da Soberba."

Links:

A mulher e a verdadeira música sertaneja

O cangaceiro Jesuíno Brilhante

Capiba e o filé da cultura

Ariano, poeta

A música armorial

Entrevistas na TV Câmara (ao lado do player existe um link para baixar o arquivo de vídeo que você pode armazenar no seu computador ou mesmo gravar em DVD com o auxílio de programas como o AVI converter)

Bloco 01

Bloco 02

Bloco 03

Para completar a fatura escute com atenção este álbum de 1977. O autor é um legítimo herdeiro da tradição regional. Acentos mouros e aboios escondidos num disco marcante que fundou uma renascença na atenção aos ritmos nordestinos e, na minha opinião, iniciou a virada que culminou na volta triunfal da música brasileira na preferência dos ouvintes de rádio.
Pouco tempo depois seria lançado "Frevo Mulher", canção que catalisou o expurgo do chorinho e das escalas clássicas do som dos trios elétricos e representou a primeira plástica estética no som do carnaval da Bahia.
Bem...
Um dia, por falta de instrumentistas à altura de Armandinho, o carnaval trieletrizado da Bahia se simplificou e depois de um período de "rusticidade" melódica/harmônica chegamos à era "Ivetiana" e aí já é outra história...

Clique na imagem para ir até ao post do álbum no blog Um que tenha.

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