Assim segui até que comecei a ter espasmos de questionamento e, diante da sempre presente questão relativa à presença do bem e do mal no mundo, passei a me surpreender em crises de ansiedade perante a desconfianças sobre a real natureza/existência do divino.
O tempo passou e eu releguei a questão a um segundo plano até que um dia, pelas mãos de um amigo bicho-grilo, fui apresentado à "Doutrina Secreta" de Helena Blavatsky, uma mística russa de longa produção esotérica e pouca compreensibilidade (parecia uma ancestral mística dos filósofos da USP) - muita citação, muita referência e, de bom, nada!
Mas agora não tinha mais jeito, tinha sido mordido pelo bicho do questionamento teogônico!
Dei de ombros e fui ler os escritos dos místicos Gurdjief, Eliphas Levi, Papus etc. Muita leitura e pouco proveito embora, com o material apreendido, pudesse ter escrito os livros de Paulo Coelho com pelo menos 10 anos de antecedência(!), pois foi daí que me parece que ele tirou boa parte do que usa em seus livros, e de onde o saudoso Raulzito tirava inspiração para suas músicas, às vezes em parceria com o próprio Paulo Coelho.
Como único grande proveito destas leituras posso contabilizar apenas o entendimento do significado da letra de "Gita"
Bem...já é alguma coisa!
O tempo passou e sutilmente, como quem não quer nada, à despeito das minhas ainda mais intensas desconfianças sobre a existência/natureza do divino, coincidências cada vez mais notáveis envolvendo Santo Antônio começaram a se insinuar na minha vida. O Santinho lisboeta foi aparecendo sob a forma de números "13's" (ou 31's): conta de banco, endereço, número de passagem aérea, ticket de incrição em sorteios que ganhei, números de inscrição em concursos que passei e o que mais você possa imaginar. Amigos, e mesmo desconhecidos, chamados "Antonio" foram aparecendo e me ajudando sob as mais variadas maneiras.
Uma verdadeira invasão de privacidade!
Os mini-fenômenos não pararam de acontecer e aumentaram bastante em freqüencia e intensidade.
Há dois anos atrás, me dirigia ao trabalho quando tive que, imediatamente após chegar à frente do meu prédio, parar e pegar algo no porta-malas do carro; saí me espremendo pois a porta do motorista dava para a via que, naquela hora, estava muito movimentada.
Há dois anos atrás, me dirigia ao trabalho quando tive que, imediatamente após chegar à frente do meu prédio, parar e pegar algo no porta-malas do carro; saí me espremendo pois a porta do motorista dava para a via que, naquela hora, estava muito movimentada.
Foi quando o bolso de trás da minha calça resvalou no ressalto da porta e expulsou minha carteira que continha tudo o que você possa imaginar que eu não gostaria de perder.
Uma betoneira estacionada em frente ao meu prédio assistia uma construção e obrigava os carros a passarem ainda mais rentes ao meu. Apressei-me e peguei o que precisava sem me dar conta de ter perdido a carteira.
Antes de chegar ao trabalho, o telefone tocou com alguém que dizia ter minha carteira e que queria devolvê-la a mim.
Conferi o meu bolso e imaginei o momento em que a carteira tinha caído. Voltei ao local e recebi minha carteira de um funcionário da obra que se desenrolava em frente ao meu prédio. Não faltava nada!
Pelo contrário, uma oração de Santo Antônio estava solta entre as divisões da carteira sem que ninguém soubesse de onde tinha vindo!
Estiquei a mão para agradecer ao honesto funcionário e outra surpresa: chamava-se Antônio!
Não precisa dizer que eu já tinha sofrido uma conversão dramática de agnóstico hesitante em devoto entusiasta do lisboeta; foi quando olhei para o calendário do relógio de pulso e vi:
Não precisa dizer que eu já tinha sofrido uma conversão dramática de agnóstico hesitante em devoto entusiasta do lisboeta; foi quando olhei para o calendário do relógio de pulso e vi:
13 de junho!
Disse-me em tom de brincadeira e espanto:
Chega!
Passei as semanas seguintes meditando sobre todas as formas nihilistas possíveis de encadear as coincidências e me negar àquela "conversão" forçada!
Revi meu Darwinismo, meu Spinozismo, meu vacilante agnosticismo e, depois de muito pensar, deixei-os onde estavam (junto ao meu taoísmo e meus conceitos de Qi Gong!).
Chega!
Passei as semanas seguintes meditando sobre todas as formas nihilistas possíveis de encadear as coincidências e me negar àquela "conversão" forçada!
Revi meu Darwinismo, meu Spinozismo, meu vacilante agnosticismo e, depois de muito pensar, deixei-os onde estavam (junto ao meu taoísmo e meus conceitos de Qi Gong!).
Que é que eu fiz?
Simplesmente, criei uma prateleira hors concours para Santo Antônio de onde nos contemplamos acumpliciada e descaradamente sob os olhares desdenhosos dos meus alter's egos racionais!
Simplesmente, criei uma prateleira hors concours para Santo Antônio de onde nos contemplamos acumpliciada e descaradamente sob os olhares desdenhosos dos meus alter's egos racionais!
A vida é uma traição.
Traia antes!
A partir daí, passei a contar com sua ajuda, não sem antes deixar de fazer a minha parte!
Nunca tinha pensado em escrever nada sobre a nossa amizade mas hoje pela manhã, lembrei-me dele e, meio na galhofa, já adentrando o meu local de trabalho (um hospital), disse-me mudamente:
- Eh Toinho, hoje é seu dia! quero ver quanto tempo você vai demorar para falar comigo.
Ato contínuo, entrei no elevador e, na iminência do fechamento da porta, um assobio e um som de passos apressados motivaram a ascensorista a abrir a porta novamente. Eis que adentra o elevador, na mão de uma paciente grávida, um enorme adereço de isopor onde se destacava o nome do bebê que ia nascer naquela manhã.
Adivinhem o nome do menino...
Isso mesmo!
E a cor do adereço...
As mesmas do background do Morpheus!
Isso mesmo!
E a cor do adereço...
As mesmas do background do Morpheus!
Detalhe: Antônio escrito em branco!
Perdi o fôlego por alguns instantes e prometi-me escrever algo sobre nossa amizade no seu dia, uma vez que tenha me parecido ser este seu desejo.
Que mais posso dizer?
Perdi o fôlego por alguns instantes e prometi-me escrever algo sobre nossa amizade no seu dia, uma vez que tenha me parecido ser este seu desejo.
Que mais posso dizer?
...
Feliz 13 de junho!
P.S. (sempre) : Segue abaixo um pequeno resumo hagiológico sobre o meu, o seu, o nosso Tonhinho!
(Ogum no sincretismo afro-baiano)
Desde 1140 que D. Afonso Henriques, o nosso primeiro rei, tentava a conquista de Lisboa aos Mouros, feito que só teve êxito sete anos depois, em 1147, depois de prolongado cerco imposto aos aguerridos Almóadas e com o oportuno apoio dos Cruzados, em número treze mil (grande exército de homens cristãos que vieram do Norte da Europa, rumo à Terra Santa, para expulsarem os Muçulmanos. Usavam uma cruz de pano como insígnia, daí o seu nome. Houve oito Cruzadas desde 1096 a 1270).
Lisboa era pois uma cidade recém-cristã, quando na sua catedral foi a baptizar o menino Fernando Martins de Bulhões – Santo António, filho da fidalga D. Teresa Tavera, descendente de Fruela, rei das Astúrias e de seu marido Martinho ou Martins de Bulhões. Há dúvidas quanto ao apelido do pai, bem como se era ou não descendentes de cavaleiros celtas. Sabe-se sim que D. Teresa nascera em Castelo de Paiva e o marido numa terra próxima. Viviam em casa própria no bairro da Sé quando o recém-nascido veio a este mundo, no ano de 1145, embora alguns apontem como data de nascimento 1190 ou 1191.
Fernando frequentou a escola da Sé e até aos 15 anos viveu com os pais e com uma irmã de nome Maria. Aos 20 anos professou nos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho em Lisboa, no Mosteiro de São Vicente de Fora. Nesta ordem monástica prosseguirá os seus estudos teológicos.
Rumou a Coimbra ao mosteiro de Santa Cruz, onde tinha à sua disposição a melhor biblioteca monacal do País. Nesse tempo era a abadia de Cluny, em França, que possuía uma das maiores bibliotecas da Europa, com um total de 570 volumes manuscritos, porque ainda não tinha sido inventada a imprensa. Aqui em Coimbra, sendo já sacerdote toma o hábito de franciscano, em 1220. Segundo os seus biógrafos, Santo António terá lido muito, e não foi por acaso que se tornaria pregador.
O mundo cristão vivia intensamente a época das Cruzadas. A chamada «guerra santa» desencadeada contra o Islão. E da parte dos Muçulmanos dava-se a inversa, luta contra os cristãos. Ambos acreditavam que a fé os levaria à vitória. De Oriente a Ocidente os exércitos batalham, e neste turbilhão surgem novas formas de espiritualidade. Em 1209 Francisco de Assis (S. Francisco) abandona o conforto e luxo da casa paterna, para, com outros companheiros, se recolher numa pequena comunidade, dando origem a uma nova reflexão sobre a vivência do Evangelho. É a aproximação à Natureza, à vida simples e à redescoberta da dignidade da pobreza preconizada pelos primeiros cristãos. Em poucos anos, homens e mulheres, alguns ainda bem jovens e filhos de famílias abastadas e poderosas sentem-se atraídos por esta vida de despojamento e sacrifício, com os olhos postos no exemplo de Cristo. A Portugal também chegaram ecos deste novo misticismo.
Em Janeiro de 1220 são degolados em Marrocos, pelos muçulmanos, cindo frades menores (franciscanos) e todo o mundo cristão sofre um enorme abalado. A própria Clara de Assis (Santa Clara), praticamente da mesma idade que Santo António (nasceu em 1193 ou 1194) vai querer partir para Marrocos para converter os sarracenos, mas Francisco de Assis seu amigo de infância e seu orientador espiritual não lho permite.
Por cá o nosso futuro Santo António, já ordenado padre, decide mudar de Ordem religiosa e também ele passa a envergar o hábito dos franciscanos. È nesta ocasião que muda o nome de baptismo de Fernando para António e vai viver com outros frades no
ermitério de Santo Antão (ou António) dos Olivais, na altura um pouco afastado de Coimbra, nuns terrenos doados por D. Urraca, mulher do rei D. Afonso II.
Em meados de 1220 chegam, com grande pompa religiosa, ao convento de Santa Cruz de Coimbra, as relíquias dos mártires de Marrocos e esse acontecimento vai ser decisivo no rumo da vida de Santo António. Parte para Marrocos, sentindo também ele que é chamado a participar na conversão dos chamados infiéis. Porém adoece gravemente e não podendo cumprir aquilo a que se propunha, teve de embarcar de regresso a Lisboa. Só que o barco é apanhado numa tempestade e o Santo vê o seu itinerário alterado ao sabor de uma vontade superior. Acaba por aportar à Sicília num período de grandes conflitos armados entre o Papa Gregório IX e o rei da Sicília, Frederico II. Relembra-se que várias regiões do que é hoje a Itália unificada eram reinos independentes e este ambiente de guerras geradoras de insegurança e perigos.
Em Maio de 1221 os franciscanos vão reunir-se no chamado Capítulo Geral da Ordem, onde Santo António está presente. No final os frades regressam às suas comunidades de Montepaolo, perto de Bolonha, onde, a par da vida contemplativa e de oração, cabe também tratarem das tarefas domésticas do convento. Aqui os outros frades reparam na grande modéstia daquele estrangeiro (Santo António) e jamais suspeitaram dos seus profundos conhecimentos teológicos. Findo aquele período de reflexão, como que um noviciado, os frades franciscanos são chamados à cidade de Forlì para serem ordenados e Santo António é escolhido para fazer a conferência espiritual. E começa a falar. Ninguém até ali percebera até que ponto ele era conhecedor das Escrituras e como a sua fé e os seus dotes oratórios eram invulgares.
Pelo que se sabe quando começou a falar imediatamente cativou os outros frades e a sua vida seria a partir daquele dia de pragador da palavra de Cristo. Percorrerá diversas regiões da actual Itália, entre 1223 e 1225. Por sugestão do próprio São Francisco vai ser mestre de Teologia em Bolonha, Montpelier e Toulouse.
Quando S. Francisco morre, em 1226, Santo António vai viver para Pádua. Aqui vai começar por fazer sermões dominicais, mas as suas palavras tão cheias de alegorias eram de tal modo acessíveis ao povo mais ou menos crente, que passam palavra e casa vez mais se junta gente nas igrejas para o ouvir. Da igreja passa para os adros para conter as multidões que não param de engrossar. Dos adros passa a falar em campo aberto e é escutado por mais de 30 mil pessoas. É um caso raro de popularidade. A multidão segue-o e começa a fama de que faz milagres. Os rapazes de Pádua têm mesmo que fazer de guarda-costas do Santo português tal a multidão à sua volta. As mulheres tentam aproximar-se dele para cortarem uma pontinha do seu hábito de frade como uma relíquia.
O bispo de Óstia, mais tarde papa com o nome de Alexandre IV, pede-lhe que escreva sermões para os dias das principais festas religiosas que eram já muitas na época. Mais tarde seria este papa a canonizá-lo. Santo António assim faz. São hoje importantíssimos esses documentos escritos, porque Santo António com pregador escreveu pouco. Apenas lhe são atribuídos Sermones per Annum Dominicales (1227-1228) e In Festivitatibus Sanctorum Sermones (1230) .
Sentindo-se doente, o santo pediu que o levassem para Pádua onde queria morrer, mas foi na trajectória, num pequeno convento de Clarissas, em Arcela, que Santo António «emigrou felizmente para as mansões dos espíritos celestes». Era o dia 13 de Junho de 1231.
Depois, como é sabido, foi canonizado, em 1232, ainda se não completara um ano sobre a sua morte. Caso único na história da Igreja Católica. Já que nem São Francisco de Assis teve tal privilégio.
Os santos como Santo António, há muito que desceram dos altares para conviverem connosco, os simples mortais, que tomamos como nosso protector e amigo. O seu sumptuoso sepulcro, em mármore verde em Pádua, na igreja de Santo António é o tributo do povo que o amou e é muito mais do que um lugar de peregrinação e de oração. Através dos séculos, a sua fama espalhou-se por todos os continentes. No dia 13 de Junho de cada ano, Lisboa e Pádua comemoram igualmente a passagem por este mundo de um português que pregou a fé e morreu em Pádua. Como todos os santos é universal.
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