maio 05, 2007

De Charles a Ary


Conta a lenda que, após concluir sua famosíssima "Aquarela do Brasil", Ary Barroso chamou sua esposa e mostrou-lhe aquela que viria a ser uma das mais famosas canções do repertório mundial; após ouvir atentamente, a convidada disparou curta e seca: Ora Ary, "coqueiro que dá coco"! Isso lá é coisa que se escreva? Ary não deu ouvidos e prosseguiu sem considerar o comentário objetivo e profundamente desestimulante; somos gratos de todo coração por sua firmeza sem a qual viveríamos sem nunca ter ouvido esta pérola do seu repertório!
Fato semelhante ocorreu com Charles Darwin que desagradava profundamente sua esposa Emma com suas idéias "sem pé nem cabeça"!
Tenho-o entre meus santos ingleses de cabeceira (Darwin, Chaplin, Churchil, Cook, Wilde entre muitos). Gente angustiada que se depura, depura e regurgita alguma forma de alimento para a humanidade. Assim foi com Darwin, um curso mal-fadado de medicina em Edimburgo agrediu demasiado sua sensibilidade e o jogou nos braços da incerteza existencial. Embarcou no Beagle como um tripulante anônimo de uma nau de insensatos, sofreu, angustiou-se e brigou além da conta com o Capitão do barco.
Olhou para o mundo com o olhar de um grego antigo que buscava na natureza as analogias que o permitissem entender o cosmo e decobriu o claro, o evidente: Ora, Malthus tinha escrito que em qualquer situação, na natureza, sempre haverá mais postulantes do que vagas; isso significava que uma seleção era algo inevitável: os mais fortes sobreviverão e os outros terão duas opções a saber: perecer ou achar um novo lugar para viver. Simples conclusão que consumiu nosso naturalista e que levou 20 anos sendo ruminada até ser publicada. Neste ínterim, a providência que pareceu iluminá-lo no momento da descoberta, já estava a caminho de escalar, do outro lado do mundo, um outro naturalista - Wallace - como depositário da revelação. Foi então que, entre crises psicológicas e somáticas, Darwin pôs a público o seu legado que aposentava de vez a mão de Deus como reguladora constante do mundo. Os conservadores de plantão encolerizaram-se e todo tipo de chacota e ridicularização fizeram de Darwin seu alvo preferido. Darwin, outrora um católico convicto, curvou-se às evidências de sua mente e sustentou com o auxílio de provas recolhidas ao longo de anos à bordo do Beagle e do pensamento ruminado em seu estúdio por inquietas duas décadas, as suas conclusões.

O legado Darwinista explica, sem rivais à altura, desde o cosmo infinitamente grande com suas estrelas engolidoras de estrelas à fuga química que o HIV empreende para se adaptar aos anti-virais desde que escapou do seu ciclo original no sangue de macacos.
Nietzsche tinha suas razões mas morreu louco e mal interpretado; Freud, após fracassar como oftalmologista, não enxergou a sua vocação de ficcionista e achou por bem escrever sobre o real achando que todo mundo tinha uma mãe judia; Marx ignorou Darwin (e o poder dinheiro) e vislumbrou o mundo como uma carruagem puxada por cavalos idênticos.
Restou Darwin, redescoberto continuamente em cada ramo da ciência todos os dias como se fosse uma onipresença inextrincável.
A coluna lateral deste blog possui um link (eterno) para a obra integral de Darwin diponibilizada on-line. Consulte-a, aprecie o seu conteúdo.
Se quiser uma dose mais intensa e rápida de Darwinismo, visite a exposição, com acervo do Museu de História de Nova York, sobre sua vida e obra que permanecerá no MASP até 15 de julho. Vacine seus filhos, seu(a)(s) cônjuge(s) e a si próprio contra a epidemia de obscurantismo que se anuncia no horizonte da humanidade: o remédio ainda existe e está aqui agora!
Lembre-se, Roma foi, um dia, grega por admiração, virou república (meio intelectual e meio cruel), tranformou-se em império (apenas cruel e hedonista), sucumbiu aos bárbaros e desapareceu sob um manto de misticismo ao qual se seguiram as trevas da razão. Ressuscitamos muitos anos depois e agora, após alguns séculos de progresso inquestionável, estamos prestes a mergulhar na roda da fortuna que repete os ciclos da humanidade numa espiral que terminará em duas possibilidades: redenção racional ou danação!
(Gostou do "danação"? lavra própria, obrigado!)
Enfim, visite, comente e recomende; conhecerás a verdade e a verdade vos libertará!

Post scriptum filosófico e recomendações:

O que escapou à compreensão dos pró-Darwinistas da época (inclusive ao próprio Darwin) é que a teoria da evolução é profundamente coerente com a suposição de uma inteligência perfeita no comando do universo: perfeito como o supomos, Deus não precisaria viver se corrigindo o tempo todo! como um mestre da sinuca, ele deu somente uma tacada. Todas as bolas, que no momento ainda parecem estar se batendo caoticamente contra as tabelas da mesa, um dia cairão nas suas respectivas caçapas. Não é necessário interferir, do contrário teríamos que inferir que a primeira tacada não foi perfeita!
Antes que a última bola caia, ainda desconfiaremos da perfeição da "tacada original". Não seremos muitos uma vez que as bolas cairão uma por uma e as últimas testemunhas serão, por conseguinte, muito poucas. Ao chegarmos, à bordo da última bola, na borda da caçapa, teremos enfim a ansiada certeza mas aí restará muito pouco tempo para nos deleitarmos com ela. Cairemos em êxtase e nos esqueceremos de tudo.
O mestre sorrirá para seu opositor (quem quer que seja ele!) que lhe proporá imediatamente uma nova partida prontamente aceita. Rearrumadas as bolas, a partida recomeçará sendo que a única diferença possível será quanto ao protagonista da primeira tacada!
Cabe uma certeza, não haverá mais que duas tacadas!
E aí?
Você se acha personagem de um jogo cósmico de sinuca?
Quem deu a primeira tacada desta (sua) partida?

Morpheus recomenda:

Darwin A Vida De Um Evolucionista Atormentado Adrian Desmond

ISBN: 8586028843
Editora: GERACAO DE COMUNICACAO INTEGRADA
Número de páginas: 800
Encadernação: Brochura
Edição: 2000Os autores desvendam desde a batalha que se travava na mente e na alma do Darwin estudante até suas glamurosas incursões etílicas na rua das prostitutas em Cambridge. Com vivacidade, eles recriam a viagem de cinco anos de Darwin a bordo do Beagle e reconstituem seus esforços para desenvolver a teoria da evolução. Então, acompanham Darwin em suas décadas de tormento.

Animal Moral, O
Robert Wright

ISBN: 8535200401
Editora: ELSEVIER EDITORA LTDA
Número de páginas: 460
Encadernação: Encadernado
Edição: 1996
O Animal Moral nos desafia a nos examinar, a despeito do que possamos encontrar sob a lente esclarecedora da psicologia evolucionista. Wright argumenta incisivamente que, embora muitos de nossos "sentimentos morais" possuam fundamento biológico, o mesmo se dá com a nossa tendência de nos iludirmos sobre a nossa bondade. Se quisermos levar uma vida verdadeiramente moram, precisamos primeiro compreender que tipo de animal somos.

P.S.S. Utilidade pública: Se você morre de vontade de remover o Msn do seu computador e não consegue, vá ao comando Run do menu iniciar e digite o comando: RunDll32 advpack.dll,LaunchINFSection %windir%\INF\msmsgs.inf,BLC.Remove
Voilá, está feito!

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