Trata-se de uma palavra alemã cuja definição poderia incluir uma nota de rodapé maior que poema épico em sânscrito (Upanishads). Esta palavrinha, sem equivalente em português, significa: prazer provocado pela desgraça alheia!
Estes germânicos são fantásticos!
Uma palavra seguida de um tratado implícito de antropologia.
Pois então... o Brasil, sobretudo o Brasil canalha, entrou em Schadenfreude coletivo (ou seria SchadenJung?) ao saber que o rabino de cabelo Chanel vai compartilhar com a bispa In-sônia um registro fotográfico na polícia da Flórida.
Dia de sorriso e regozijo para padres pedófilos, políticos corruptos e anti-semitas de plantão.
A natureza humana se expressa então em negrito, sublinhada e coberta de marca-texto fluorescente.
Conheço muita gente que admite explicitamente não conseguir conter o riso quando vê alguém levar um tombo; gente que vai mais além e diz: quanto mais velho, mais bem-vestido, mais posudo e mais sujo for o tombo melhor!
O tombo do rabino, no meu entender, se constitui num delicioso ponto de reflexão sobre temas que vão muito além do aspecto factual do ocorrido:
- A tecnologia x o engodo da palavra empenhada
- A obsessão contida x efeito liberador de drogas psicoativas
- Memória x percepção
- Drogas psicoativas x lucidez
- Lucidez x felicidade
- O homem como conjunto de suas obsessões (Nelson Rodrigues)
Você achou o seu preferido?
Analise o episódio das gravatas com cuidado, se possível com o auxílio do pequeno texto “Somente o necessário” publicado a alguns dias.
Diagnostique-se!
Você é humano ou sobre-humano?
Você se considera realmente livre quando está escolhendo algo sobre o que pensar?
Que peso terão a vaidade, o orgulho, e eventuais drogas consumidas, o tédio, a falta de sono, da ignorância, as frustrações e os seus esqueletos no armário sobre o seu pensamento imediatamente a seguir?
Pois é, quando todo este zoológico (me desculpe se não incluí algum bicho exclusivo do seu!) percebe que o vigia cochilou, é só assistir à fuga dos pingüins (DVD Madagascar) para saber o que vai acontecer! Reputações ilibadas vão ao chão num piscar de olhos e a galeria de exemplos de conduta sofre mais uma baixa neste mundo tão carente de paredes brancas. Na esteira desta onda, oportunistas opiniáticos proporão mal-entendidos disfarçados de análises profundas numa inegável contribuição à entropia do universo.
Lamento pelo rabino e pela comunidade que ele representa; mais ainda por ele não ter contado com um diagnóstico preciso de sua condição, propensa que estava, ao tipo de imbróglio no qual se envolveu.
O português não tem correlato para Schadenfreude mas dois exemplos muito bons são: a frase de Tom Jobim, que dizia que no Brasil, o sucesso é ofensa pessoal! e o que me foi contado por um amigo mineiro numa piada mais ou menos assim:
Se se descobre que um vizinho da rua comprou uma Mercedes zero, o paulista diz logo: putz meu! vou comprar uma também! o carioca diz: Ih! cara, vou ver se descolo uma emprestadinha deste mané! e o mineirinho diz rangendo os dentes: Tomara que bata!
Cê já pensou se mineiro fosse bom de macumba?
Ainda bem que os pelés do assunto são os baianos que freqüentemente estão com muita preguiça, até mesmo para querer algo dos outros!
Uma reflexão final: o consumo drogas psicoativas é, sem exceção, uma renúncia, à autodeterminação. Se você praticar esta renúncia em favor de um tratamento sério, tudo bem, do contrário considere-se um infeliz prisioneiro.
O nosso rabino não percebeu a evasão da liberdade, que ocorria debaixo dos seu nariz, promovida pelas medicações/problemas neuropsiquícos e enforcou sua biografia com gravatas não pagas num episódio cuja compreensão exige muito mais que um paroxismo de perplexidade.
Schadenfreude para vocês!
2 comentários:
Manellis,
Você que é um cara por demais sábio, será que o nosso tão conhecido termo ESCAFEDEU-SE tem origem a partir daí?
O termo infelizmente não comporta etimologia descrita em nenhum cânone!
Scaf: Ôco
Feder: exalar
Proporia: fugir vaporosamente por um buraco deixando para trás um mau-cheiro!
Postar um comentário