abril 05, 2007

Pequena pseudo-ficção pascalina

Vésperas da páscoa.
Pessach, como diriam os donos originais da festa.
Vamos comemorar esta colcha de retalhos alegóricos!
Momento de comemorar a fuga do Egito e o fim do cativeiro.
Ninguém, na época, poderia imaginar que aquela viagem de volta à terra prometida seria marcada pelo maravilhoso drible de evasão auxiliado pela amplitude das marés do mar vermelho.
Moses posou de mago e assistiu, pelo retrovisor, o afogamento das engravatadas tropas do faraó.
O ovo ganhava status de símbolo de renascimento, nova vida, libertação etc.
O tempo seguiu e anos após, numa sacada de marketing que entrou para história, Che Cristo, após se informar devidamente nos livros da época, escolheu a porta certa por onde estava prevista a entrada do Messias e, em cima de um jeguinho e com ramos de palmeira na mão, adentrou Jerusalém criando um link de hiperhistória entre a homepage do judaísmo e a do futuro cristianismo.
Uma pongada na fama alheia que inspira marketeiros de todos os naipes até hoje!

Voltando no tempo dentro do tema, ao escapar de Herodes, citado inclusive por Vinícius como exemplo de pedagogo, o nosso Immanuel se habilitou para viver uma infância feliz no seio da família que abandonaria aos 12 anos para, após um período de treinamento político e de marketing no atual Afeganistão (Nãoseiondistão, como era conhecido na época), voltar trintão, totalmente de cabeça feita.
Apoteose, prisão, condenação e execução; tudo em menos de uma semana!
Trama dos vendedores de oferendas em lobby comercial.
Aqui, "Homo, lobby homini!"
A crucifixão ocorreria na sexta-feira seguinte ao domingo da estréia. Uma livre opção pela martirização fundadora do que viria a ser conhecido como sua "Paixão".
Há algo de engraçado sobre o fato de usarmos o termo paixão para nos referirmos ao caminho (trajetória) de Jesus. A paixão, no caso, vem de "pathos", termo grego para caminho e que está na origem de palavras como o nosso "passeio" (pateo). Hoje em dia, quando se vai muito pouco aos cultos católicos, imagino quantas pessoas se perguntam sobre o sentido do termo "Paixão", tão repetido nesta época do ano.
No curto espaço de tempo que teve entre o levantamento da cruz e a morte por asfixia, típica do método, num exemplo que deveria ser seguido por presidentes em segundo mandato, Jesus nomeou seu ministério e escalou as regiões de atuação. João, o apocalíptico, foi encarregado de cuidar de sua Mãe e pregar na anatólia, Tiago foi despachado para a Espanha, Pedro foi nomeado sucessor e por aí vai. O amigo Judas foi escolhido e posou de traidor levantando 30 moedas para a fundação do primeiro comitê que foi organizado após uma simulação de enforcamento que Hollywood copia até hoje.
O que porém ninguém sabia era que Jesus era craque no mergulho de apnéia (era esta a sua modalidade de pesca) e os romanos foram enganados no teste do espelhinho debaixo do nariz que era o único teste de morte cerebral da época. Seus órgãos não foram aproveitados para transplante porque ele não tinha carteirinha de doador.
Três dias em jejum, um balde de tinta vermelha e uma vela foi tudo que foi necessário para pintar o santo sudário na escuridão da tumba que deveria guardar seu corpo. Quando o sudário ficou pronto, ele tocou a campanhia e a porta da tumba foi aberta pelo pessoal de apoio. O sudário foi xerocado com uma tinta vagabunda (que se apagaria em alguns anos) e vendido aos milhares em feiras por todo oriente criando a figura mercadológica da camiseta promocional.
Relatos de testemunhas dão conta que ele saiu da tumba, passou na barbearia mais próxima, raspou a barba e cortou o cabelo; após algum tempo desaparecido e bem mais gordo, voltou a Jerusalém onde fundou a marcenaria "Pau Santo" que prosperou tendo como "hit" de vendas um modelo de mesa de jantar para treze pessoas.
Acabava de ser criada a 2ª das religiões monoteístas do deserto ( a terceira seria o islamismo).
Um sucesso que há dois mil anos toca nas rádios do ocidente!
A receita não é muito complicada: pegue um pouco de imortalidade da alma (hindu) e some a um pouco de monoteísmo local, adapte alguns rituais consagrados pelo público e crítica, reduza custos eliminando oferendas caras, apague qualquer vestígio de fatalismo para dar a ilusão de livre arbítrio, crie o pecado a partir de recomendações claras mas que deixem também uma certa margem para o mal-entendido, semeie algum material para polêmica como por exemplo, a associação entre virgindade e gravidez e por fim, coloque a fé acima da razão aproveitando-se do fato de que é muito mais fácil acreditar do que entender e pronto, nasce uma religião!
Se a liberdade é uma condenação, como sugeriu Sartre, a culpa e o remorso são a libertação!
Esta equação, que de tão óbvia parece uma lei da natureza, foi o mote mais poderosoj á imaginado. A culpa imaginada e as providências a serem tomadas no processo de expiação dos pecados ocupariam o tempo dos fiéis de modo efetivo deixando um pequeno espaço para a caça a novos adeptos. Uma mão na roda para soberanos incompetentes.
O tempo passou e anos após apareceria Paulo, que convertido (o cara era um gentio pouco gentil), adentra a Grécia e, após escapar de vários linchamentos, galvaniza o "caminho" da nova religião (religare, religação). Os gregos, que tinham a filosofia por religião, aderiram aos poucos à nova moda e fizeram de filósofos à margem do mercado de trabalho, os primeiros sacerdotes; estes "padres" trouxeram seu léxico para o cristianismo: igreja significa assembléia e católico, universal, em grego. Cristo quer dizer ungido, paixão quer dizer caminho e so on.
Reunidos em catacumbas, disputando com leões ou crucificados de cabeça para baixo, a nova turma seguia em frente mesmo com numerosas baixas.
Os cristãos pareciam tão estranhos aos romanos que estes pensavam ser aqueles uma destas imandades mórbidas que temos hoje em dia tal era ênfase na "outra vida".
A vida passava rápido numa época em que 100% das otites viravam meningites fatais! Poderia ser um bom negócio investir então na "próxima vida".
A moda seguiu marginalizada mas, não sem percalços, começou a pegar prá valer 300 e tantos anos depois quando Constantino, que não estava nada satisfeito com a idéia de compartilhar o vastíssimo império romano com mais 3 associados, caiu na lábia de Lactâncio, um velhinho beato que fazia vezes de conselheiro, e assumiu o slogan "Um só Deus, Um só imperador". Derrotou seus parceiros em guerras seguidas e começou a construir igrejas, unificou o império e costurou definitivamente o cristianismo na história do ocidente.
Numa espécie de plástica biográfica para desvilanizar a nova Roma católica, Pilatos foi transformado em juiz imparcial e a culpa da morte de Jesus passou a recair sobre os judeus que afinal de contas, do ponto de vista mercadológico, são concorrentes.
Um pouco mais de duzentos anos após Constantino, Roma caía aos pés de Alarico e a gente entrou com o pé esquerdo na da idade mérdia da qual só saímos vencedores com um gol na prorrogação marcado pelos mouros andaluzes. Tudo parecia ir bem quando, previsivelmente, os mouros entraram numa dilaceração interna típica de civilizações que já chegaram ao apogeu. A falência do império mouro por sua vez, acabou permitindo um golden goal de Fernando e Isabela no cerco a Granada no final da partida que o catolicismo obscurantista estava para perder de lavada para o protestantismo. A idade mérdia morreu pouco tempo depois mas permaneceu entre nós sob a forma do fantasma da inquisição.
E aí... mais porcaria: tome-lhe fogueira, queimava-se livros, mulheres, vizinhos chatos, judeus e gatos pretos. Tudo de ruim não fosse a volta de Colombo com a batata, o tomate, o amendoim, o tabaco e...o chocolate!
O mesmo Colombo que um dia botou o ovo em pé!
O ovo simbólico da libertação, que em nossos dias passa a ser feito de chocolate
O chocolate que um dia recebeu o nome de "teobroma": o alimento dos deuses!

Exatamente neste ponto do post o ovo encontra o chocolate e toda a baboseira acima escrita deságua na experiência gustativa que preenche as reminiscências de tantos quantos tiveram infâncias felizes.

Os caminhos e associações poderiam nos levar onde quer que quiséssemos ir mas, infelizmente, o post tem que terminar e, creia-me, é melhor terminar algo em chocolate do que em pizza como eu já estou enjoado de ver acontecer!
Morpheus se ausentará pelo breve recesso que se aproxima aproveitando para deixar os melhores votos de uma feliz páscoa a todos habitués deste despretensioso blog.
Que a felicidade vos abençoe com bons vinhos, maravilhosos carneiros, bacalhaus devidamente dessalgados e muito, muito chocolate!

P.S. segue anexa ao link a receita do Bolo Búlgaro testada e aprovada pela MAGRO (Morpheus association for gastronomic research and orientation)

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