Ao escrever “Uma Breve História do Tempo”, Stephen Hawking foi advertido por amigos que a cada equação de física escrita no livro a quantidade de leitores potenciais se reduziria pela metade e afinal de contas, como tratava-se de um livro de divulgação científica sobre cosmologia, certamente a coisa menos desejável que poderia acontecer seria a perda de leitores por desânimo interpretativo. O conselho foi aceito e o livro foi escrito sem equações complexas, exceção aberta apenas para a famosa "E = mc²".
Mesmo que você já o tenha lido, se tiver tempo, volte ao texto e superponha as cogitações e conhecimentos lá expostos ao seus; pode ser que ocorra um inesperado neo-sinergismo ou um verdadeiro estranhamento!
Não fosse pela complexidade dos cálculos (não mostrados) que subsidiaram os capítulos do livro, não seria absurdo considerá-lo um verdadeiro tratado filosófico tal é a profundidade dos temas apresentados à guisa de complementação dos raciocínios que levam às conclusões de cada parte. Ao final do livro, Hawking lamenta que o crescente volume e extensão do conhecimento humano, mesmo na mais particular dentre as mais particulares das áreas, tenha inviabializado praticamente a possibilidade de vermos surgir congêneres contemporâneos de Isaac Newton, Da Vinci ou Voltaire. Complementando seu lamento, cita o desalento de Wittgenstein expressado pela declaração: “Após todo este crescimento e complexificação da ciência, talvez o único prazer que reste aos filósofos seja o estudo da linguagem!”
Melancólico não?
Os filósofos terão que decidir se vão embarcar numa jornada de aquisição e sistematização do conhecimento atual, se vão ficar presos à lingüística ou se vão reinventar a filosofia.
Enquanto isto não acontece, uma febre pela busca de rudimentos filosóficos pode ser sentida e medida nas livrarias de todo mundo. Títulos, em número crescente, vão se espalhando pelas prateleiras das livrarias em resposta à ânsia de jovens, adultos e velhos cansados dos livros de auto-ajuda, dos manuais de ioga, das dietas, dos livros de fundo psicanalítico e dos manuais esotéricos e assemelhados.
Não tenho elementos para analisar se a vanguarda filosófica está realmente num momento de catatonia ou não enquanto busca novos horizontes, mas uma coisa é certa: a velha guarda e os textos clássicos ainda têem muito a oferecer à humanidade.
Montaigne, o célebre autor dos “Ensaios”, declarou que filosofar era, sobretudo, “um jeito de aprender a morrer”. Parece um pouco pesado, mas Montaigne fala sobretudo das pequenas mortes que vão acontecendo ao longo da vida: a perda da juventude, dos amigos, da habilidades, as pequenas e grandes decepções ou traições etc.
Todas estas pequenas mortes aceleram o envelhecimento do corpo e promovem a deterioração do espírito e do pensamento claro além de serem os verdadeiros tutores da rabugice, da depressão e da velhacaria, que apropriadamente referida a suia raiz etimológica, são epidêmicas a partir de uma certa idade.
Em verdade vos digo, a aquisição bem administrada de bases filosóficas é fator de tranquilização do espírito e clarificação perceptiva. Uma vez atingido um patamar mínimo de formação, você será capaz de olhar o mundo, ao seu bel prazer em situações específicas, como melhor lhe convier: como um artista, como um naturalista ou...como um filósofo!
O período de busca efetiva, devo dizer, é um pouco sombrio e funciona como uma espécie de iniciação auto-conduzida pois a filosofia, retirada dos currículos pelos generais, não fez parte da formação básica da maioria dos brasileiros mas, uma vez que você identifique o seu autor favorito (sinal de que você já conhece vários – e não vale falar aqui em amor a primeira vista!), tudo será diferente; falo aqui de TODAS as possiblidades: de Platão ao Dalai Lama!
Enfim, o status felix é uma presa caprichosa que pode se esvair por entre os dedos num piscar de olhos; se você o tinha capturado por intermédio da filosofia, com toda certeza, não se inquietará com estas fugas pois sabe como capturá-lo de novo.
A felicidade é calma e a calma é o sintoma mais definitivo da felicidade assim como o bom-humor está para a inteligência.
Break
A cada visita semanal que faço às livrarias da cidade me surpreende o crescimento da disponibilidade de títulos; este crescimento tem ocorrido nos dois sentidos: no bom e no mau. Do lado bom, poderia citar as republicações dos clássicos em traduções cada vez melhores e alinhadas com iniciativas de editoras estrangeiras notadamente as universitárias inglesas a preços acessibilíssimos. Pelo lado ruim, uma enxurrada de novos autores tentando surfar na nova onda editorial: auto-ajuda reciclada com verniz filosófico.
Você quer?
Eis que então após ter visto algumas indicações em fontes diversas, topei com o livro "Aprendendo a viver"do ex-ministro da cultura da França, Luc Ferry, filósofo de formação e palestrante experiente.
Seu livro anterior tinha sido bastante criticado pelo hermetismo da escrita e Luc resolveu se valer então da mesma receita de Stephen Hawking ao escrever uma "Breve história do tempo": falar tudo da maneira mais completa possível evitando citações e explicações complexas e desestimulantes; aqui ele recontará a história da filosofia da mesma forma que o fez em um curso anteriormente dado para leigos. Luc pega o leitor pela mão e sai da Grécia para chegar aos contemporâneos com ênfase constante no viés prático do conhecimento filosófico. Uma excelente opção dentre as novidades nas prateleiras; comprei um prá mim e alguns para presentear.
Outra excelente opção disponível, agora entre os clássicos reeditados, é: "A arte de escrever" de Schopenhauer; nesta antologia de ensaios recolhidos de Pererga e Paraliponema, você encontrará textos que trazem as mais ferinas, entusiasmadas e cômicas reflexões acerca do ofício do próprio Schopenhauer, isto é, o ato de pensar, a escrita, a leitura, a avaliação de obras de outras pessoas, o mundo erudito como um todo. Uma coletãnea de pequenos ensaios do enfezadíssimo alemão. Divertido e inteligente, lê-lo será excelente para todos que acham que os problemas atuais são novos, principalmente na área cultural e acadêmica; trata-se de um livro que me faz supor que, se estivesse entre nós, Schopenhauer certamente teria um blog!Tudo isto por míseros 12 reais!
Break
Abro espaço, novamente, para o blog indexed onde pequenas pérolas de filosofia gráfica (isso mesmo, gráfica!) aparecem de vez em quando para deleite dos frequentadores. O post abaixo é simples, óbvio e ainda assim genial; uma prova de que o pensamento filosófico pode ser inusitado, divertido sintético e elegante; tudo ao mesmo tempo e agora!
E agora, realmente pra finalizar, indicaria como trilha sonora para estas ou outras leituras, uma coletânea de Augustin Barrios Mangoré, célebre autor de Choro da Saudade e Catedral, interpretada por John Williams. O autor paraguaio encontrou no virtuoso violonista inglês um excelente intérprete de suas peças que, pelo grau de beleza e dificuldade de execução, figuram entre as preferidas pelos que querem testar seu grau de proficiência ao violão, seja como treino seja como exibição.
Até mais!
P.s. Quando eu era menor (sim, ainda espero crescer!) vez por outra me batia com algum ufólogo amador que ao fim de alguma história mirabolante suspirava desejando estar ainda vivo quando a NASA pusesse a público os seus "arquivos secretos". Não é que isto aconteceu?
Bem...
Não foi a NASA americana e sim a francesa (he,he,he!) que decidiu abrir seus arquivos ufo acumulados ao longo dos últimos 20 anos. Não precisa nem dizer que o site tá entupido de tarados que interromperam os cultos a Onan e não deixam o resto do mundo acessar o site. Uma hora vai dar prá ver o conteúdo considerado muito interessante até pelos nihilistas de plantão.
http://www.cnes-geipan.fr/geipan/
Se você conseguir vir antes, me conte!
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