F*, agora só depois do carnaval!
Salvador parou de vez e mais do que nunca se ouve a desculpa dos sonhos de todo fornecedor incompetente: Tem! mas tá em falta.
Não adianta, a cidade não faz mais nada; num lugar em que uma morte súbita leva pelo menos três dias para acontecer, a indolência baiana chega ao auge junto com as temperaturas anuais.
Muita malemolência, balacobaco, ziriguidum e nada de trabalho.
O amadorismo chega às raias do profissionalismo enquanto nós aguardamos em silêncio apoplético a chegada do carnaval: a única oportunidade que os neurologistas da boa terra têm para fazer o diagnóstico diferencial entre as paralisias de diversas origens e o simples "baiano way of living"
Venha viver pelo menos uma semana entre nós!
A Roma negra meridional prepara-se para sua maior festa dionisíaca à mesma época em que em Delfos o culto a Apolo era interrompido para, em meio ao frio do inverno, festejar-se a brevidade da vida com muito vinho e o resto que você pode imaginar!
Venha!
Morfeu o aguardará sua chegada no saguão do aeroporto, farei um cumprimento bem espalhafatoso, como manda a coreografia local, direi-lhe como tratar-se da diarréia por excesso de dendê para em seguida (tout de suite) partir em exílio voluntário para Paris onde pretendo me refugiar da ditadura do axé.
Venha mesmo assim, ou como se diz por aqui: "renha"
Aqui não temos medianos, só gênios e o povo: indistinguíveis a caminhar pelas ruas. Cordiais e atenciosos desde que não lhe demandemos qualquer favor fatigante. Se isto acontece, aquele baiano sorridente faz o maior bico e entra num estado de nihilismo interlocutório: o nosso endêmico e misterioso "calundu"
Este status neurológico ainda não explicado pela ciência só se resolve com dengos e agrados encontrando resolução maximamente eficaz na promessa de dispensa do trabalho.
Houve um dia em que o acará, era apenas uma comida de santo, distribuída gratuitamente à meia-noite e não maior que um macaron; aí vieram os turistas e ele se Macdonaldizou assumindo o tamanho de um hambúrguer pronto para receber o que quer que se imaginasse comestível entre as duas fatias, foi a demanda dos visitantes.
Um pouco menos antigamente, Morfeu deleitava-se com a chegada do carnaval: o frevo pernambucano tinha atingido o auge da sua metamorfose em terras baianas e Armandinho, Aroldo, Dodô e Osmar eram junto com Moraes e suas letras a grande razão de ser do carnaval da Bahia que começava na quinta-feira com um show na praça municipal. Moraes iniciava com as canções mais lentas enquanto aguardava Armandinho e a restada, como se diz aqui na Bahia, chegar. Presenciei mais de uma vez o brilho no olhar de Moraes quando da chegada de Armandinho. Nessa época eles estavam encapetados, viviam o que foi para mim o auge de um tipo de música que não precisava do auxílio do álcool para dar prazer; as escalas, os temas, o ritmo avassalador do frevo trieletrizado arrancavam do chão a gente bem, o pau-de-arara, a criança e o velho babaquara. Infelizmente a família Macedo junto com Moraes, Pepeu e o pessoal dos trios autônomos como o Tapajós (sem esquecer a onipresença de Gil e Caetano) foram para música baiana uma espécie de caso autóctone de excelência musical; o som daquele tempo, compilado por Charles Gavin nas coletâneas do trio elético e da Cor do Som, é hoje uma arte perdida tal qual o encolhimento de cabeças praticado pelos Jivaros. Por falta de herdeiros, o carnaval da Bahia se simplificou em demasia deixando foliões como eu com cara de viúva.
Nessa época, o rádio executava Sultans of Swing e Hotel California de forma regular o que por sua vez veio ao encontro de Moraes, Pepeu e Armandinho saindo do desbunde da era pós-hippie: inspiração + maturidade + técnica; a combinação era perfeita para criar o guitar hero com sotaque tropical!
Você poderia pular se quisesse mas também era possível ficar lá admirando o transe musical do pessoal.
Bem,
um amigo nosso costuma dizer que o macho verdadeiro só dança espontaneamente, ou em período de acasalamento, ou se estiver drogado; o frevo trieletrizado era uma digníssima exceção a esta regra que agora vigora por aqui sem exceções.
Agora, bebe-se muito da insossa e onipresente cerveja em lata como tentativa de despertar artificialmente uma espontaneidade perdida e dançar sem inibições ao som repetitivo de gente que não sabe sequer fazer um improviso sobre uma seqüencia de acordes.
Ficou tudo muito igual: o sabor da cerveja, as músicas, os camarotes e as mulheres com suas bolinhas de silicone na frente e os cabelinhos chapeados; cada vez mais profissionais por fora e cada vez mais amadoras por dentro.
Tudo muito igual o tempo todo.
Em meio a dificuldades para escolher uma Zebra, um leão ansioso e angustiado pode terminar comendo gazelas.
Cuidado!
Mudou o carnaval e mudaram os baianos, gente muito legal que muda a pintura da casa para agradar às visitas.
Velhos Morfeus como eu não passam de gente ressentida e que não sabe se divertir!
Será?
Corta/
Fiquei realmente emocionado ao conhecer recentemente o frevo irresistível de Spok (procure nas boas casas do ramo).
Recomendo a todos que, como eu, ficam com cara de viúva esta época do ano.
Carnaval que vem, se me faltar coisa melhor para falar, voltarei ao tema e contarei mais sobre uma época em que o transe era acústico e não etílico.
Armandinho teria gravado recentemente um DVD na Casa da Bossa em Salvador tocando o som daquele tempo a ser lançado por agora; vamos aguardar para conferir.
Attendez-moi, Paris!
P.S. como estou com muito medo de desenvolver uma preguiça imobilizante nos dias que antecedem o carnaval, resolvi escrever mais um pouco para me isentar do perigo de esquecer;
confira então:
DVD - Maestro soberano, sobre Tom Jobim pela Biscoito Fino
Os sites de armazenamento de conteúdo:
www.futureme.org: agenda d e-mails
www.dropsend.com: Anexos de 1 giga 5x por mês na versão gratuita
Teoria musical na rede:
www.musimediane.com
www.societymusictheory.org/mto
Hobbies na rede:
www.cellartracker.com: adega virtual
www.shelfari.com: biblioteca virtual
www.weendure.com: maníacos por atividade física
Conversor PDF online:
www.pdfonline.com: Grátis e eficaz em 3 passos
Chega,
Traz o meu xaxará!
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