fevereiro 11, 2007

Pascácios pascalismos pré-pascoais

Semaninha difícil esta que acaba não?
Quando a gente pensa que já conhece todos os absurdos possíveis em termos de violência urbana, vem um pessoal e nos mostra, que quando o assunto é maldade, nossa aptidão de país "cordial" não conhece limites.
O post começa assim mesmo, sem imagens e com referências indiretas aos fatos da semana porque entendo que nada cabe além do que foi dito para começar a falar um pouco de Pascal(1623-1662) e o que poderia ser a relação que vi entre algumas de suas posições filosóficas e os fatos da semana que acabou.
Se você estiver sem tempo de ler tudo agora, eu te adianto:
  1. O Homem é naturalmente miserável e grandioso em simultaneidade.
  2. O povo é crédulo e cego à verdade
  3. A morte é certa e só o entretenimento nos alivia da percepção da sua presença
  4. Todos precisam de entretenimento saudável e dignificante sob risco de resvalar-se no tédio e na irritação e, por quê não, no comportamento violento.
  5. Escolher o melhor governante é simplesmente impossível por não termos condições de acordarmo-nos quanto a quem seria este melhor.
  6. A força (midiática, física ou econômica) governa, sempre.
  7. Filósofos (seria o pessoal do PSDB?), subestimam o povo e suas necessidades e por isso não podem entendê-lo
  8. O povo, ou seus extratos (talvez o PT?), não se enxerga bem no espelho.
Costure a leitura destes itens com a das palavras de Pascal (depois de uma breve introdução) e entenda porque um povo alijado de dignidade, sem exemplos de justiça e enfurnado em suas casas gera elementos de violência urbana perplexizantes até mesmo para o maior dos pessimistas.

"Os homens são tão necessariamente loucos que seria ser louco, de uma outra forma de loucura, não ser louco."
Pascal, Pensées

Entendeu?
Não?
Então leia de novo!
Ok, tudo bem.

PASCAL E AS PENSÉES
(Introdução a partir de extrato da coleção Grandes Filósofos - Editora UNESP)

Blaise Pascal é lembrado por muitas razões. Ele é admirado como uma das principais figuras da revolução científica do século XVII, cujo trabalho revela uma notável combinação de ge- nialidade teórica e senso prático. É lido como o autor de uma polêmica obra-prima, Cartas provinciais, um violento ataque à corrupta teologia e moral relaxada dos jesuítas e seus aliados na Igreja Católica. Ele é lembrado pelos católicos (ou por aqueles que não se tornaram antipáticos a ele em virtude de seus ataques aos jesuítas) como o autor de uma série de sensíveis cartas de direção espiritual e o instigador de uma série de iniciativas de caridade, incluindo a fundação do primeiro serviço de transporte público de Paris -"carruagem a 5 moedas". Acima de tudo, entretanto, ele é identificado como o autor de uma coleção de fragmentos filosóficos e religiosos publicada postumamente, as Pensées.
Nascido em Auvergne em 1623, Blaise Pascal foi educado por seu pai Etienne e ainda cedo revelou sinais de sua genialidade. Quando a farnilia de Pascal se mudou para Paris em 1631 , o pai de Pascal, com o jovem Pascal ao seu lado, adentrou um círculo de importantes filósofos e cientistas que rodeavam o padre Mersenne o círculo incluía Gassendi, Hobbes (residente na França nessa época) e, mais distante, Descartes (residente na Holanda nessa época). Quando tinha 16 anos, Pascal se mudou com a família para a Normandia, e foi lá, em Rouen, que sua carreira científica decolou. Trabalhando primeiro com a geometria dos cones, Pascal então projetou e fabricou uma máquina de calcular La pascaline. Mas foram suas experiências, demonstrando a existência do vácuo, e um trabalho sobre pressão atmosférica, relacionado ao trabalho sobre o vácuo, que fizeram seu nome se tornar conhecido.
Pascal desdenhava da visão elitista que os filósofos têm de si próprios e atribuiu ao povo uma espécie de sabedoria inconsciente que não é de todo inútil.
Oscilava entre um diagnóstico de miserabilidade da condição humana e um maravlhamento com a sua capacidade de, mesmo assim seguir em frente.
Queria, talvez, achar uma posição equidistante entre o devaneio e a depressão.
Mais especificamente, a dialética de Pascal se esforça para alertar seu interlocutor agnóstico para dois elementos da condição humana em geral e para sua (do interlocutor) dificuldade em particular. Em primeiro lugar, Pascal procura mostrar que ninguém, baseando-se apenas em meios humanos, é capaz de entender ou dar conta da confusa mistura de baixas qualidades e alto potencial presente no homem. Em segundo lugar, Pascal argumenta que, a despeito de sua evidente capacidade para a felicidade, o homem é naturalmente miserável e nada do que os filósofos foram capazes de sugerir pode aliviar essa miséria.
Pascal me parece até mesmo meio escrotinho quando fala a respeito do homem:

"Se ele exaltar a si mesmo, eu o humilho. Se ele se humilhar, eu o exalto. E eu o contradigo continuamente Até que ele compreenda que é um monstro incompreensível."
Pascal, Pensées, 130

No entanto, trata-se de uma mente poderosa. Continue!

"Os homens se ocupam em perseguir uma bola, uma lebre: este é o prazer mesmo dos reis"
Pascal, Pensées, 39

" Os laços que asseguram o respeito mútuo entre os homens são geralmente cordas de necessidade"
Pascal, Pensées, 828

"As pessoas são muito confusas para concordar acerca do que a verdadeira justiça dita - Este não é o lar da verdade, ela vaga sem ser reconhecida pelos homens"
Pascal, Pensées, 840

"As coisas menos razoáveis do mundo se tornam as mais razoáveis em razão do desregramento do homem. O que há de menos razoável do que escolher para governar um Estado o primeiro filho de uma rainha? Não escolhemos para governar um barco aquele entre os viajantes que seja mais bem-nascido. Esta lei seria ridícula e injusta; mas como os homens são e sempre serão como são, ela se torna razoável e justa, pois quem escolheriamos? O mais virtuoso e o mais hábil? Isso nos faria, prontamente, cada um pretender ser o mais virtuoso e o mais hábil. Associemos, portanto, essa qualidade a algo de incontestável. É o primogênito do rei; isto é claro, não há qualquer discussão. A razão não pode fazer melhor, pois a guerra civil é o pior dos males."
Pascal, Pensées, 977

"O homem é visivelmente feito para pensar. Essa é toda sua dignidade e todo seu mérito; e todo seu dever é pensar como se deve. Ora, a ordem do pensamento é começar por si mesmo, por seu autor e seu fim. Mas no que pensa o mundo? Jamais nisso, mas em dançar, em tocar o alaúde, em cantar, em escrever versos, em jogar argolinhas etc., e em lutar, em se tornar rei, sem pensar no que é ser rei e no que é ser homem."
Pascal, Pensées, 620

Ennui. (Termo em françês que descreve um status irritado e aporrinhado)
"Nada é mais insuportável para o homem do que ficar em pleno repouso, sem paixões, sem ocupações, sem divertimento, sem fazer esforços. Ele sente, então, seu nada, seu abandono, sua insuficiência, sua dependência, sua impotência, seu vazio. Imediatamente sairá do fundo de sua alma o tédio! o negrume, a tristeza, a aflição, o despeito, o desespero."
Pascal, Pensées, 622

"Eis tudo o que os homens conseguiram inventar para se tornarem felizes, e aqueles que fazem filosofia sobre isso e que crêem que as pessoas são bem pouco razoáveis por passarem todo seu dia correndo atrás de uma lebre que não desejariam comprar, não conhecem em nada nossa natureza. A lebre em si não nos salvaria de pensar na morte e nas misérias que nos rodeiam, mas a caça sim."
Pascal, Pensées, 136

Boas refexões

P.S. Neste post-scriptum prá lá de direcionado, quero indicar o site Anesthesia Now capitaneado por nada menos que Paul Barash e que se destina a avaliar os artigos mais importantes da literatura médica em anestesiologia. Visite e comente!
E mais um link saudosista prá você, velho amigo, que foi criança antigamente: (www.mofolandia.com.br)
Alô basco, roubaram nossa idéia!
O vídeo abaixo vai como antídoto a tanta coisa séria!

Um pouco de anarquia prá descontrair!




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