Etimologicamente temos lat. liber,bri 'livro'; ver 2livr-; f.hist.1013 [?] liuros, sXIII livro, sXIII lyvro, sXIII liuros, sXV libros;
Temos em "Livro" o mesmo radical latino de "Liberdade" e não deixa de ser interessante que uma forma de vida (as idéias) não só esteja viva (ao contrário da expressão "letra fria" e "letra morta") como também livre ainda que presa e morfologicamente imutável sobre uma folha de papel. Gosto muito de pensar em idéias como formas de vida: memes, unidades de informação ideativa. Tais formas competem entre si em mecanismo Darwiniano explícito e adaptam sucessos às limitações do substrato por onde seguem no tempo: a mente humana!
Nos livros, as idéias estão como que na forma de esporos aguardando uma mente interessada para progredir no tempo e no espaço ou uma mente interessada e inteligente para evoluir em direção à verdade.
Nas mentes pervertidas, as idéias podem igualmente sobreviver mudadas tentando perseverar (esquisito: perseverar significa perseguir a verdade!) uma vez que prezam pela vida tanto quanto qualquer um de nós.
Mas então... no livro a informação se libertou do "Volume", aquela forma de escrever em rolos e cuja etimologia vem de "volus" (lat. volúmen,ìnis 'rotação, movimento giratório, rodeio; rolo de folhas manuscritas; volume, livro'; ver volum(in)-; f.hist. sXIV bulume, sXV vellume).
A informação podia então ser acessada de forma catalogável ainda que o interesse do leitor fosse o de ler páginas saltadas ou aleatórias.
Do ponto de vista do seu conteúdo: o livro é uma obra de cunho literário, artístico, científico, técnico, documentativo etc. que constitui um volume [Segundo as normas de documentação da ABNT e organismos internacionais, o livro é a publicação com mais de 48 páginas, além da capa.]
Por outro lado, "bouc" em françês é bode; isto mesmo bode! e os bodes que são sátiros vivos e fedorentos, também nos davam a pele para as capas dos livros que assim podiam envelhecer protegidos. Tais livros eram vendidos por bouquinistas ou seja, vendedores de livros velhos que muitos gostam de chamar, em português, de alfarrábios (antr. ár. al-Fárábi, nome de célebre filósofo nascido no Turquestão (872- 950), que viveu no sX e glosou Aristóteles (384a.C.-322aC, filósofo grego); JM explica que "a vulgaridade de citação de sua pessoa acabou por depreciar a sua obra, juntando-lhe os conceitos de antiguidade, falta de interesse").
Quanta conversa fiada hein!
Lamento, isto é um vício para mim!
Este blog é um intrumento de vazão de tal vício.
Não desligue ainda;
seguem abaixo alguns lançamentos que garimpei como interessantes estes dias:
O primeiro é sobre um ser humano que considero completo: Churchill.
Os ingleses são um pouco esquisitos mas com Chaplin, Darwin e Churchill (Shakespeare é hors-concours nesta lista) eles conseguiram a minha indulgência; isto para não falar que eles foram os descobridores práticos do valor do Vinho do Porto, da Champagne Brut e do chocolate com leite. Criaram os EUA, é verdade, que por não poderem ter um Shakespeare inventaram o milk shake e a obesidade epidêmica. Ainda assim os perdôo (he, he, he!).
Churchill bebia bastante, fumava muitos charutos , pintava e escrevia como ninguém (Prêmio Nobel de Literatura em 1953) além de ser portador de um grande senso de humor!
Xingado de bêbado por uma mulher a quem tinha qualificado como muito feia ele retrucou com a seguinte facada: Amanhã estarei curado, a senhora não!
Genial hein?
Vidas Históricas - Winston Churchill
STUART BALL
Editora: Nova Fronteira; Tradução: Gleuber Vieira; Quanto: R$ 49,90 (256 págs.)
Neste livro você vai ler sobre o papel desempenhado por Winston Churchill na Segunda Guerra Mundial onde garantiu renome internacional, além da chancela de figura mais importante da história inglesa do século XX. Esta concisa biografia de Winston Churchill, escrita por Stuart Ball, é ilustrada com fotografias, pinturas, cartuns e documentos, incluindo a correspondência pessoal. Um livro que reflete a dedicação de Churchill à literatura, à arte e à família ao longo de sua formidável vida pública.
O autor é specialista em história política inglesa, Ball já publicou vários livros sobre o assunto e é membro da Real Sociedade Histórica.
O livro seguinte me chamou muita atenção pela entrevista de Henri Salvador, um compositor martiniquês maravilhoso autor de "Dans mon île" (cantada por Caetano) e que segundo seu autor teria sido o motivo de uma confidência de Jobim a Sérgio Mendes de seguinte conteúdo: O cantor, nascido na Guiana Francesa, conta a história, atribuída a Sérgio Mendes, de que teria sido inspirador da bossa nova. Tom Jobim teria ouvido "Dans Mon Île" e dito: "Isso que é preciso fazer, reduzir o tempo do samba e criar algo novo". O episódio -não mencionado em "Chega de Saudade", embora Ruy Castro dê crédito à influência da música- é uma mostra das pérolas encontradas em "Entre Aspas".
O livro reúne 27 entrevistas feitas por Fernando Eichenberg para revistas e jornais brasileiros, inclusive a Folha, pode ser um painel da cultura contemporânea. É um painel com viés antiamericano, o que talvez seja natural, dado que o jornalista, baseado em Paris, conversa sobretudo com artistas e intelectuais formados na tradição francesa.
Os pensadores Jean Baudrillard, Tzvetan Todorov e Paul Virilio dão o tom ao denunciar a política dos EUA. Jean Baudrillard, ao comentar a atitude dos americanos após o 11 de Setembro, afirma que os valores universais foram aniquilados.
"Valores como a democracia ou direitos humanos são instrumentalizados a serviço da própria superpotência, que age em contraponto ou mesmo em contradição com seus próprios valores."
Um antiamericanismo bem-temperado permeia o livro mas não chega a inviabilizá-lo.
O último disco de Henri Salvador (Reverence) foi postado no blog francófilo Lavoixdesonmaitre.blogspot.com que anda meio abandonado estes tempos; espero sinceramente ver a volta das postagens regulares pelo bom gosto da autora.
E por fim:
Para quem como eu que sempre quis entender os truques de selagem de um filé, das reações de Maillard, dos bouillons e fumets e das proporções entre ingredientes, trata-se de um livro de referência:
"Segredos de Chefs"- Mais de 80 renomados mestres da gastronomia mundial revelam dicas e preciosas técnicas, explicadas passo a passo, fundamentais para quem quer cozinhar bem. São inúmeras sugestões de famosos chefs de restaurantes consagrados do Brasil e do mundo. Entre eles, destacam-se François Payard, Jennifer Newburry, William Bradford Gates, Flávia Quaresma, Laurent Suaudeau e Sergio Arno. O livro traz entrevistas com cada um dos chefs, nas quais eles revelam seus gostos e realizações. As dicas são úteis a todos os cozinheiros: dos iniciantes aos mais sofisticados. "Segredos de Chefs" é uma referência essencial para todo amante da culinária!
Quarteto Brasileiro de Violões grava Albéniz em grande estilo.
Albeníz é conhecidíssimo entre os violonistas por sua peça Astúrias que foi transcrita por Segóvia para violão solo e já postada neste blog com John Williams em vídeo do Youtube. É uma espécie de vestibular para violonistas que freqüentemente entram no mundo de Albeniz por esta peça. Se você não conhece o compositor, vai aí uma boa porta de entrada: "Suíte Ibéria", de Albéniz (1860-1909), pelo Quarteto Brasileiro de Violões, recém-lançada pelo selo americano Delos, passa a ser uma das gravações de referência da obra-prima do compositor catalão.
Um registro de interesse geral, não só para os amantes do violão.
Composta para piano, "Ibéria" tem por dentro uma espécie de violão ideal, sonhado, uma espantosa guitarra espanhola que vai se dividindo em outras à medida que a música progride, com suas mil fantasias timbrísticas e contrapuntísticas. Transcrita para um quartetoa composição, mesmo em violões, volta a sua origem.
A gravação coroa a trajetória do grupo, mais conhecido hoje como Brazilian Guitar Quartet.
De 2000 para cá, eles fizeram mais de 200 concertos mundo afora: EUA, Europa, Japão, Hong Kong, Porto Rico. Onde menos tocaram foi no Brasil -só quatro ou cinco vezes-, o que precisa ser reparado.
Da formação original participavam Everton Gloeden (do Centro Tom Jobim) e Tadeu do Amaral (principal responsável pelas transcrições), Edson Lopes (Conservatório de Tatuí) e Luiz Mantovani (Universidade Estadual de Santa Catarina).
Galbraith, inspirado no arcaico "orpharium", desenvolveu um novo violão de oito cordas, uma mais aguda que a primeira corda do violão clássico, outra mais grave que a mais grave. Tocado em pé, como um violoncelo, esse violão, ou melhor, um par desses violões, foi crucial para a elaboração do repertório do Quarteto.
Sonoramente, os violões juntos se aproximam, assim, da gama de um quarteto de cordas, só faltando as notas mais agudas do violino (acima do dó 5).
A tessitura estava resolvida, faltava criar o repertório. A experiência acumulada convergia para essas transcrições de Albéniz, numa interpretação de tirar o fôlego, não só pelo virtuosismo mais exuberante, em passagens rápidas e ritmos sincopados, mas também pelo virtuosismo de outra ordem, no controle muito fino dos tempos e na qualidade especial dos timbres, em planos sobrepostos.
Boa audição e até mais!
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