agosto 03, 2012

O inquilino primordial

Tantas vidas neste mundo para serem vividas...
E coube justo a mim viver a "minha".
Olhando para o passado e para o futuro próximo, a sensação é a de que eu dei uma tremenda "cagada" de sorte de meu corpo não ter sido "montado" numa Síria, África ou Afeganistão da vida!
Se ele tivesse montado com perfeição num deste lugares...
Eu certamente "estaria" lá!
Ou não?
Acho que sim!
Faça uma garrafa perfeita e ela se encherá automaticamente do melhor líquido que existe!
A sorte de ter uma boa vida num mundo tão precário deve ser motivo diário de celebração.
Por que justo mim coube tanta sorte?
Seria a tal da graça, dada de graça aos agraciados?
Muito me parece!
Seria nosso corpo uma roupa "perfeita" para um substrato imaterial capaz de conciliar a vida física, o bóson de Higgs e o livre-arbítrio?
Seria que tal roupa, de tão bem-feita para o que contém, capaz de animar-se por si só ao mesmo tempo em cria o mistério da própria idéia de si?
Tendo meu corpo o poder de gerar minha mente/consciência acho justo que tenha um status divino.
Por outro lado (o lado de fora, rsrsrsrs), o mundo externo que se me dá a perceber é o que está lá aos meus sentidos num vetor conjunto com minhas memórias e projeções. Aqui miha mente ganha o status de fundadora e mantenedora do "meu" mundo.
Matriz de minha consciência, do meu mundo e da minha (e da sua) morte, meu corpo é, inescapável e simultaneamente, templo e divindade.
Um templo "habitado"!
A eventual percepção deste "habitante" provoca comichões místicos em quem quer que mantenha o seu templo limpo e iluminado o bastante para perceber seus movimentos sutis e até mesmo sua voz.
Às vezes ele fala nossa língua e quando está satisfeito com o cuidado que temos com sua casa e com as responsabilidades que nossos potenciais nos trouxeram nos deixa ouvir sua voz musical.
Sua primeira frase sempre se fará ouvir de forma clara:
"Olá, sou Eu; estou aqui!"
Ou qualquer variação sobre o tema.
Nunca houve e nunca haverá jamais alguém como vc; isto é um sinal, para mim, inequívoco, do  respeito impessoal do universo para com nossa individualidade.
O entendimento do exposto é sempre intuitivo; o que foi escrito acima serve apenas para que os que leiam saibam que se acontecer consigo não se trata, digamos, de um absurdo cognitivo mas tão somente de um "despertar".
Para muita gente, o envelhecimento é um processo de desconforto somático crescente. Absolvido que somos, na juventude, da responsabilidade de manter o corpo limpo, se envelhecermos, seremos chamados a cuidados intensivos com "nossa casa" e com a mobília que acumulamos!
Quando se entende isto, o envelhecer é suave e confortável: uma casa grande e antiga, limpa e arrumada para vc e seu inquilino!
Ah, não se esqueça!
Quando chegar a hora, vcs serão despejados juntos!
Abx

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