fevereiro 14, 2010

Ricardo e as baleias!

Olhaí...
Nunca imaginei que cumpriria uma das declarações mais sem sentido que já fiz.
Sabe quando vc diz para aquela pessoa que com ela vc iria até o fim do mundo?
Todos fazem isto imaginando estar usando uma linguagem figurada sem levar em conta que se, um dia, trouxerem a esposa até a Patagônia a promessa está cumprida!
Poisé...
Peguei a galera no show de Ivetão/Beyonça e me piquei para a Península Valdés - mais precisamente, Puerto Madryn - via Sampa e Buenos Aires.
Virote total com 48h de vigília intervalada para pequenos ensaios catalépticos durante os voos.
A família Morpheus e mais 8 amigos chegaram arrasados a Puerto Madryn mas nem assim fomos poupados, durante o trajeto de 50 minutos entre o aeroporto de Trelew (colônia Galesa dos primórdios da Patagônia) e nosso hotel, do entusiasmo ambiental do chefe do nosso receptivo (Tito) que, mal iniciado o translado, começou a nos falar da programação do dia seguinte quando sairíamos de Puerto Madryn para Punta Norte a fim de conferirmos a fauna local: focas, leões marinhos, elefantes marinhos, pinguins, guanacos, orcas e baleias.
Não sei se por predileção ou por limitação de conhecimentos, Tito passou rapidamente pelos textos referentes aos outros animais para se deter entusiastica e emocionadamente sobre as baleias - que se escreve ballenas em espanhol e pronuncia-se bachenas em castelhano argentino.
De acordo com Tito, mal chegaríamos à praia e as bachenas já estariam lá.
Em grupos mais ou menos numerosos, as bachenas seriam amigáveis.
Por certo, as bachenas se aproximariam da praia e do barco que nos conduziria
Era possivel que as bachenas se deixassem tocar e que eventualmente trouxessem uma bachenita para que pudéssemos ver.
Seria muito provável que víssemos bachenas e bachenitas passando daqui prá lá ao nosso redor ou mesmo saltando e largando jatos úmidos e salgados em quem estivesse mais perto
E lá ia Tito: bachenas isto, bachenas aquilo outro, bachenitas assim, bachenitas assado...
Cá prá nós, dispensando o trocadilho com o peso do cetáceo...
Tito pegou pesado!
Pesado prá mim que tava no virote e prá todos os outros exceto para o querido Ricardinho que dormiu desde o começo da fúria deste Cousteau argentino até a chegada ao hotel.
Ricardo dormiu, dormiu, dormiu e acordou com um sorriso incompatível com a qualidade do sono que deve ter tido durante o trajeto naquela Van sacolejante e com Tito de ruído de fundo.
Perguntei-lhe como tinha conseguido aquele semblante tão feliz e descansado após tamanho tormento e ele me disse sorrindo:
- Sabe Manellis, eu sou aquele tipo de sujeito que não encontra o menor problema para fundir os ruídos da vida real com os meus sonhos e acho que isto aconteceu durante este translado. Enquanto Tito falava e falava, eu arrumei um jeito inconsciente de colocá-lo no sonho que estava tendo.
Indaguei-o então:
- Ué...Vc sonhou com baleias durante todo este tempo?
Ele disse-me:
- Bem... eu não entendo muito bem o espanhol desses caras e acho que meu cérebro monoglota, por não achar nada melhor para processar como substantivo no lugar da palavra bachena (ballena), substituiu a figura do cetáceo pela do fonograma mais próximo encontrado na minha mente pervertida: bachina/vagina! Foram 50 minutos de genitálias pulando, esguichando, se deixando tocar em bandos de dezenas! Alegres, amistosas, interativas... E eu lá no meio daquelas coisas quentes...Uma loucura! Certamente um dos melhores sonhos da minha vida!
P.Q.P, pensei eu, deve ter sido fan-tás-ti-co!

Descarregamos as malas e jantamos no Ambigu (restaurante bonzinho mesmo perto do hotel).
Despedi-me de Ricardo e notei que ele ainda sustentava o sorriso do recente despertar!
Voltei ao hotel, tomei um banho e fui dormir me amaldiçoando por não ter gravado a palestra de Tito na memória do meu celular!

P.S. Já cheguei em Calafate onde farei trekking e encherei a cara de vinhos de 1ª a custo de banana, chocolates, sorvetes assados de cordeiro patagônico, meu favorito!
P.P.S. Algumas notas:
  • É dificílimo usar cartão de crédito em Puerto Madryn: faça câmbio!
  • Punta norte é o lugar onde as orcas aparecem invadindo a praia para comer os filhotes de leão-marinho nos documentários da BBC. Se vc é um cara ágil pode ser um bom local para ver sua sogra pela última vez!
  • Puerto Piramide fica no istmo que conecta a península Valdés ao continente e separa o Golfo San José (norte) do Golfo Novo (sul) - Por capricho da progressão da onda de marés, quando é maré alta no golfo norte, ainda é maré baixa no golfo sul e vice-versa!
  • Os outros dois restaurantes que fomos foram: Taska Beltza e Mariscos do Atlântico. Frutos do mar de primeira e carta de vinhos sofrível! Não o condenaria se vc fosse lá e bebesse cerveja.
  • Os programas locais são distantes e extenuantes para quem não tem afinidade com a vida selvagem.
  • O museu dos dinossauros em Trelew e o Ecocentro em Puerto Madryn são visitas recomendáveis
  • A lojinha da Família Zucardi merece uma visita
  • A Calheta Valdez é a restinga mais exótica que eu já vi

  • A pinguineira de Punta Tombo com milhões de pinguins é visita obrigatória. Lá vc poderá caminhar entre eles na maior colonia continental de pinguins de Magalhães do mundo (aqueles mesmos que vieram bater na Bahia no verão passado atrasados para o enterro ACM!)





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