julho 01, 2008

Savana Urbana

Apartado da cena
Em atitude suspeita
O guarda-de-trânsito suspeita
Estar prestes a testemunhar
Uma previsão perfeita

O cruzamento é deserto
O sinal está fechado
Um grupo de flanelinhas crackeados pressente o momento:
Tá tudo dominado,
O sucesso é certo!

Um carro vistoso se aproxima
Dentro dele, uma madame e uma menina
O susto será o bastante
Se ela invadir o sinal, o guarda multa
Se parar, eles vão em cima

Ela vê o sinal fechado
Vê o grupo na esquina
E sem saber do guarda escondido
Checa no espelho
O sorriso da menina

O pé hesita sobre o pedal do freio
Oscila entre este e o acelerador

Enquanto isto,
O grupo se aproxima,
O guarda empunha o talão
E a menina sorri no espelho sob a aura avermelhada da luz difusa que vem das lanternas de freio

A mulher hesita...
Seu coração de dondoca ensaia uma taquicardia
Mas tudo se resolve sob um jorro de fótons verdes do sinal que se abre...

Entretanto...
Um sorriso nervoso denuncia:
O perigo a assusta
O medo a excita

Aliviada, inspira, prende...
solta.
O grupo recua,
O guarda recolhe o talão,
E o carro se distancia
Em direção à multidão
Para longe da encruzilhada
E da tocaia frustrada
de famintos zumbis urbanos

Com garotos drogados
Guardas transviados
e bovinos cidadãos,
A violência urbana,
(também)
é uma droga.

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