julho 06, 2008

Há cinqüenta anos

Há mais ou menos 50 anos parecia que o criador só tinha olhos para nós
Lá fora o mundo vivia ameaças contínuas de se acabar
Sob a guerra fria que precedeu o efeito estufa
Mas aqui...
Pelé e Garrincha!
A copa do mundo era nossa.
Maria Esther ganhava Wimbledon
Éder Jofre batia em todo mundo
JK estava em pleno vapor
Brasília, um sonho, estava em gestação
Televisão
Carros nacionais
O Rio era lindo e tranqüilo
Três maestros haveriam de marcar definitivamente nossa MPB
Gnatalli, Jobim e Duprat!
Jacob era o tal e descobria Elizeth como um garimpeiro que acha uma pepita
O bando da Lua tinha um Garoto que reinventou o violão e lamentavelmente ainda é pouco compreendido
O petróleo era nosso
A amazônia não era de ninguém
A Bahia era a Boa Terra
E Salvador era apenas e tão somente, a Cidade da Bahia
Glauber (achem o que quiserem!) e o Reitor Edgar Santos colocavam um tempero diferente na moqueca.
Carybé e Verger espelhavam nossa identidade
Jorge Amado a descrevia no papel
A lagoa do Abaeté parecia uma imensa pupila/íris de um olho telúrico enamorado da Lua cheia
João industriava a sua batida sincopada
O Carnegie Hall era só uma questão de tempo
Quanta coisa!
Nelson Rodrigues nos convocava ao auto-exorcismo do endêmico "Complexo de Vira-lata"
Seríamos a elite dos mestiços?
Darwin já tinha falado mal de nós
De Gaule também?
Dizem que ele nunca disse aquilo que se diz que ele disse!
Era o momento de contradizê-los
O mundo não nos conhecia
Nem como bons nem como maus
Mas aí veio a revolução
Que também tocou meu coração
E o do grande irmão do norte
Que se chateou com a perda de seu balneário e com o confisco de umas empresinhas
A partir de então
Como o diz o ditado,
Ditadores para todos!
Seria instituída em nosso país, a felicidade oficial
Eu era apenas uma criança e em nada via o mal
Quando vejo hoje nos jornais que Ingrid Betancourt foi resgatada por um grupo do exército colombiano que usava, como elemento de disfarce, camisas com a famosa estampa de Che...
Sem comentários!
Ainda ganharíamos a Jules Rimet, depois roubada e derretida numa cerimônia que, dizem, contou com a presença do Capeta em pessoa
A Taça e o futuro dourado de um país iam liturgicamente para o vinagre...
Há cinqüenta anos o destino parecia nos sorrir
Hoje, se é que não virou as costas, parece ao menos não se importar conosco
Gosto de imaginar que aqui e ali sob a névoa da dispersão
Talvez o Criador ligue o seu Home-Theater e assista a algum documentário que o lembre de como éramos promissores
Talvez ele sorria, reconsidere e nos promova a um papel melhor do que o de sermos o alambique do mundo!

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