O futebol costumava ser um deles; noites a fio colado no rádio escutando os jogos do Flamengo com Zico e Cia. em plena atividade. Depois do jogo, a resenha, as entrevistas etc. A madrugada chegava e eu sabia que a única coisa que poderia me manter acordado no dia seguinte seria falar e polemizar sobre o jogo da noite anterior preferencialmente com torcedores do Botafogo, Fluminense ou Vasco.
Domingo, outro jogo e os gols...os gols do Fantástico!
O supra-sumo do extrato do núcleo da polpa da nata do futebol: gols!
Uma época interessantíssima, pelo menos para mim.
A ditadura rolando solta mas sem nenhuma repercussão na minha vida.
As escolas públicas ensinavam, as ruas eram tranqüilas, a MPB produzia pérolas em profusão; Elis, Vinícius, Baden, Nélson Rodrigues, Dias Gomes, Pelé...toda esta gente em atividade!
Chico Buarque era um exemplo de compositor "popular" e Raul Seixas de "roqueiro cabeludo"
Ouvia falar de muita gente que tinha sido presa, que tinha apanhado, tinha sido morta...
Ficava a imaginar quem seriam estas pessoas e o que teriam feito.
Tudo parecia certo e ordenado. A Universidade era acadêmica e a polícia cuidava de tudo que saísse dos trilhos.
...assim, então me parecia...
O tempo passou, a ditadura acabou e nós tivemos a chance de exercer a nossa imaturidade política da pior forma possível. Hoje chego a me pegar imaginando o que seria de nós se algumas das pessoas que escaparam e vieram para o cenário político tivessem, como disse Aldir, partido definitivamente "num rabo de foguete".
Que seria de nós sem Dirceus, Genoínos, Dilmas e Luíses?
Ontem, estas lembranças foram revividas num átimo.
Só por um átimo!
Logo após eu estava assistindo Fluminense e Boca sob toda tensão típica dos grandes jogos.
Que revival!
O Fluminense vai para a final da Libertadores derrotando os nossos pernósticos hermanos numa partida eletrizante.
Uma paródia invertida da vida real:
Paixão,
Sorte,
Garra,
Nervos à flor da pele;
Tudo isto num espetáculo ritualizado, litúrgico e funcional. Começo, meio, fim. Segurança e ordem na observação das regras do futebol.
Um time, ex-terceirona, do país mais miscigenado do planeta (e que chegou um dia a maquiar seus atletas com pó-de-arroz para não sensibilizar sua aristocrática torcida) em confronto com os hexa-campeões da bombonera vindos do país que provavelmente será um dos últimos do mundo a registrar um atleta negro em sua seleção nacional de futebol.
Um Palermo oportunista e um Fernando Henrique que, sem ser filósofo, foi capaz de salvar a pátria em várias circunstâncias!
Por 90 min, o futebol e sua mágica parecem muito mais reais, previsíveis, satisfatórios que a vida, propriamente dita, real.
Nada ali lembrava, nem por paralelos, a estupidez do nosso mundo exterior: violência, iniqüidade dos políticos, a ganância dos ruralistas, a ingenuidade dos ambientalistas, a teimosia de Hillary, a imbecilidade Bushiana...
Viva o Futebol,
Viva o Maracanã,
Viva Mário Fº; este, o irmão do mitológico Nélson Rodrigues e também nome oficial do Maracanã que, se não fosse por ele, teria sido construído em Jacarépaguá onde nem mais corrida de F1 acontece.
No centenário de Mário Fº, o Fluminense nos dá um presente digno da saga desta família de pernambucanos que inventou a dramaturgia brasileira e criou o concurso de escolas de Samba.
Boa viagem, Boca!
Abaixo um extrazinho para quem quer saber um pouco sobre Mário Fº
Biografia de Mário Filho
Mário Rodrigues Filho nasceu em Recife, no dia 3 de junho de 1908, e morreu em setembro de 1966, aos 58 anos, no Rio de Janeiro. Ele veio para o Rio em 1916, aos 8 anos. Iniciou a carreira jornalística em 1926, ao lado do pai, o também jornalista Mário Rodrigues.
Por popularizar o futebol no Rio de Janeiro e no Brasil, através de suas matérias esportivas, o teatrólogo e cronista Nelson Rodrigues, irmão de Mário Filho, homenageou-o com o jargão o criador de multidões. Vem desta época também a expressão Fla-Flu, que muitos julgam ter sido criada pelo próprio Mário.
Em 1931, Mário fundou o primeiro jornal inteiramente dedicado ao esporte em todo o mundo, O Mundo Sportivo. Mario Filho trabalhou no jornal O Globo, ao lado de Roberto Marinho, seu companheiro em partidas de sinuca. Em 1936, comprou de Roberto Marinho o Jornal dos Sports. Lá, Mário criou os Jogos da Primavera, os Jogos Infantis, o Torneio de Pelada no Aterro do Flamengo e o Torneio Rio-São Paulo, que cresceu e se tornou o atual Campeonato Brasileiro.
No fim dos anos 40, Mário lutou contra o então vereador Carlos Lacerda, que desejava a construção de um estádio municipal em Jacarepaguá, para a realização da Copa do Mundo de 1950. O jornalista conseguiu convencer a opinião pública carioca de que o melhor lugar para o novo estádio seria no terreno do antigo Derby Clube, que ficava entre os bairros da Tijuca e Vila Isabel, e que o estádio deveria ser o maior do mundo, com capacidade para mais de 150 mil espectadores. Hoje, Maracanã.
Consagrado como o maior jornalista esportivo de todos os tempos, em sua homenagem, o antigo Estádio Municipal do Maracanã ganhou o nome de Estádio Jornalista Mário Filho.
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