O ano era 2006 e a então Compahia de Petróleo do Sul do Brasil engendrou um projeto no mínimo, muito interessante: um ciclo de palestras semanais a ocorrerem ao longo de 2007 contando com a presença de eminentes nomes da cultura mundial. Os temas seriam os mais diversos possíveis: filosofia, arte, arquitetura, educação etc.
Foi um sucesso!
Referendado pelas principais universidades gaúchas e com enorme repercussão na sociedade do estado.
Compreensivelmente (!), o evento não foi convenientemente destacado pela imprensa do eixo Rio-São Paulo, apesar de alguns palestrantes convidados terem sido entrevistados por um ou outro jornal.
Gente do peso de Luc Ferry (o Mick Jagger da filosofia) e Camile Paglia (o Pit Bull feminista) marcaram presença com palestras instigantes num programa que ao custo de R$ 3 milhões fermentou a inteligência da audiência num evento cujas repercussões mais visíveis ainda estão, agora após o fim deste 1º ano, ainda nos seus estágios iniciais de gestação. Como se diz na Bahia, o pessoal foi "emprenhado" pelos ouvidos, agora resta esperar o parto!
A excelente notícia é que a Copesul foi comprada pela Braskem que resolveu trazer, neste alvissareiro 2008, o ciclo de palestras para sua terra natal: Salvador
Neste 2008, dois dos pólos de maior identidade cultural do país (Bahia e Rio Grande do Sul)serão privilegiados por uma programação com alto potencial de estímulo intelectual.
Tudo isto a partir de março, quando já estaremos sóbrios após a narcose do carnaval!
Veja abaixo o comercial da edição 2008 do Fronteiras do Pensamento e cogite seriamente a possibilidade de compor, com mais 1499 pessoas, a audiência deste ciclo de palestras que promete ser uma verdadeira lufada de oxigênio puro no (in)consciente coletivo da baianidade.
Abaixo do vídeo, um pequeno texto (textículo!) sobre a assagem de Luc Ferry pelo ciclo de palestras do ano passado
Luc Ferry encanta o público na abertura do Fronteiras
por Elmar Bones
O filósofo Luc Ferry encantou o público na abertura do seminário Fronteiras do Pensamento, na noite desta terça, 20, no salão de atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre.
Ele dividiu a cena com o ex-ministro da Educação do Brasil, Paulo Renato de Souza, o outro palestrante da noite. O francês falou pouco mais de uma hora para um auditório com mais de 1.200 pessoas, de tal maneira atentas e concentradas que se podia ouvir a respiração do vizinho ao lado.
O ex-ministro da Educação da França demonstrou seu talento de professor, falando de filosofia de um modo tão articulado e simples que qualquer um podia entender. Não disse novidade para quem leu, pelo menos, o mais famoso de seus livros (Aprender a Viver – Filosofia para os Novos Tempos) mas atendeu plenamente ao que se espera desse ciclo de altos estudos que se iniciou com sua palestra. Foi claro, didático, sem deixar de ser instigante. Foi entusiasticamente aplaudido ao final.
Ferry fugiu ao tema que lhe foi proposto – As transformações no mundo contemporâneo os novos significados da educação - e recusou também os rótulos convencionais atribuídos à filosofia. "Nas escolas secundárias da França ainda se diz que a filosofia serve para aprender a pensar, para reflexões, mas a filosofia não tem nada a ver com isso", disse na introdução. Para ele, a filosofia, assim como a religião, tem a ver com a salvação dos homens, com a libertação dos medos que os impedem de ter uma "vida boa", livre e serena. "Todas as grandes filosofias, como as grandes religiões, são doutrinas de salvação", afirmou. Hoje, segundo ele, nenhuma delas dá respostas adequadas aos desafios do presente, marcado pelo individualismo e pelo desgaste dos valores humanistas. Daí a necessidade de um novo caminho, uma "espiritualidade laica", equidistante das ilusões metafísicas da religião e do niilismo radical a que levou o racionalismo. Um "humanismo secular", em outras palavras. Enfim, uma bela introdução para a leitura de seus livros.
Eis uma síntese de sua conferência:
Filosofias, como religiões, são doutrinas da salvação. A religião busca a salvação em Deus, no outro, o ente superior. A filosofia é arrogante: eu posso me salvar. Por isso Santo Agostinho dizia que os filósofos são soberbos, confiam em si para salvar-se.
Tanto num quanto noutro caminho, trata-se de vencer os medos que impedem que vivamos livres e serenos.
Como superar os medos? É a primeira pergunta da filosofia. Ajudar o homem a salvar-se dos medos, é o seu sentido. São muitos os medos, desde os medos sociais (medo de falar em público), os medos fóbicos (de ratos, de lugares fechados) até o fundamental: o medo da morte. Os outros podemos evitar, contornar. A morte é incontornável, sem superar o medo dela, não há vida boa. Não é só o medo da própria morte. É a morte do filho, da mãe, é o cuidado com o filho deficiente o que mais preocupa. O medo da morte não é egoísta. A morte é tudo o que não volta, o irremediável. O escritor Edgar Allan Poe disse melhor isso num poema, O Corvo. O corvo é a morte e ele só repete:"Nunca mais, nunca mais".
Os estóicos por exemplo diziam que para vencer o medo da morte é preciso ajustar-se à ordem natural. O cosmos é um todo harmônico onde cada coisa, por ínfima que seja, tem o seu lugar. Encontrar o seu lugar é o que basta para a serenidade, a liberdade. O mestre de Zenão mandava que ele arrastasse um peixe morto pelas ruas, para que ele se libertasse dos preconceitos e aprendesse a enxergar a ordem natural do cosmos. Se você se tornar um pequeno pedaço do cosmos, perfeitamente integrado à sua ordem que é divina e perfeita, estará vencido não só o medo, como a própria morte.
Os gregos tinham outras formas de tentar vencer a morte. Ter filhos era uma delas, não muito eficiente, pois além de não evitar a própria morte, acrescentava o medo da morte do filho. A busca da glória na morte heróica foi outro caminho. Perpetuar-se na história como Aquiles na Guerra de Tróia.
O estoicismo foi uma filosofia popular e tem pontos em comum com o budismo. Ambos consideravam as duas fontes principais de medo o apego ao passado e a ânsia do futuro. Elas impedem que se viva o presente, que é a verdadeira eternidade.
A religião católica venceu os gregos com a idéia da encarnação. O logos tornou-se carne. Um homem, Cristo, indicando o caminho da salvação. Já não é mais a razão, é questão de fé. E o caminho é extremamente atraente: quem o seguir vai reencontrar em corpo e alma todos o seus entes queridos e ele próprio terá vencido a morte, porque a vida é só uma passagem.
Hoje nem as respostas dos estóicos nem da religião católica são as de que precisamos. Precisamos de uma "espiritualidade laica" para encontrar as respostas que a filosofia pode dar.
Luc Ferry: Amor, lei e cultura
por Naira Hofmeister
Partindo da tradição estóica – uma das vertentes da filosofia grega – Luc Ferry transitou por temas caros aos clássicos, como o Cosmos, o Logos e o Divino, contextualizando sua afirmação de que a filosofia é mais eficiente para a 'salvação' do que a própria religião. Em comum as duas têm como objeto de contemplação, o divino.
"Mas no caso dos gregos, esse divino era a ordem harmônica e perfeita do cosmos, algo que jamais poderia ser personificado em alguém, como fizeram os cristãos". E como paradigma maior, a vitória sobre a morte para atingir uma existência feliz, para atingir a salvação.
Ferry explicou que é o medo da morte que nos afasta da Boa Vida, e ambas as correntes – religião e filosofia – têm como objetivo atingir a salvação, superando esse temor. "Só com serenidade podemos combater o pânico da morte, do deixar de existir".
Segundo a tradição clássica, essa vitória sobre a morte se daria através de exercícios cotidianos de ajustamento com esse divino, algo muito similar, segundo o próprio filósofo, com o que pregam os ecologistas: "entrar em sintonia com a natureza".
Essa perfeita harmonia possibilitaria que, ao morrer, o homem figurasse como um "pequeno fragmento do cosmos", eliminando a idéia da ausência.
No entanto, com o advento do cristianismo, o divino, que antes era irredutível, tornou-se carne, com a vinda de Cristo à Terra. E a proposta de simplesmente pertencer ao universo depois da morte "vê-se pouco tentadora diante da promessa cristã de reencontrar aqueles que amamos depois da vida".
Ou seja, a fé substituiu a razão na busca pela salvação. "O problema é que no caso da religião, nada é demonstrável, somos obrigados a confiar numa promessa e não a buscar, pela razão, uma saída". Isto é, a religião só satisfaz aqueles que, de fato, crêem em seus dogmas.
Para aqueles que não possuem uma crença ou não têm fé, Luc Ferry recomendou que busquem na doutrina filosófica essa resposta. "Desde Platão até Nietzsche, a filosofia se ocupa de como superar os medos que impedem uma vida boa".
Buscando o equivalente contemporâneo à contemplação grega, Luc Ferry acredita que a educação – e assim, finalmente e magistralmente uniu os fios da meada já no final da conferência – seria uma saída para a salvação, o que poderia servir como exercício cotidiano para a sabedoria, para a existência feliz.
A educação estaria, para o filósofo, embasada em três pilares. "O amor, elemento cristão; a Lei, contribuição judaica, e a Cultura, que provêm da tradição grega ocidental".
Agora que você já sabe um pouco, visite o site, confira os detalhes, assista os vídeos, leia o resumo das palestras e anime-se. Se puder, não deixe de participar!
Qualquer novidade será motivo de post, aqui no Morpheus!
Até mais
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