agosto 29, 2007

Cartas Chilenas n° 03 - Epílogo

O outdoor na saída do aeroporto de Santiago não podia ser mais peculiar:
Companhia telefônica X, ligando o Chile de norte a sul (?!)
Parece coisa de José Simão!
Ora, e quem é que vai ligar o Chile de leste a oeste?
Não precisa, basta um moleque de recados!
Brincadeiras à parte, considero o Chile um ótimo destino para suas milhas que não são suficientes para levá-lo à Europa.
Desde o deserto, surpreendentemente interessante ao norte, passando pelo centro sul até as geleiras, há paisagem para todos os gostos, aptidões e orçamentos.
Algumas limitações são facilmente notáveis mas nada de incontornável.
Para o bom gourmand (gourmet era o sommelier dos nobres, bem entendido!), a carência de bons brancos (só agora começam a aparecer) contrasta com a fartura de frutos do mar de excelente qualidade e, paradoxalmente, os bons tintos não contam com uma tradição nacional no setor de carnes.
O cara tem que ter jogo de cintura para se dar bem uma vez que encontrar uma carta com vinhos importados não é uma tarefa fácil nem mesmo em Santiago.
Voltando para casa desta vez, tive que me contentar em esperar até segunda-feira quando haveria o próximo vôo disponível dentro daquele que foi o meu cronograma de viagem.
Bem...nada mal, uma vez que o orçamento ainda cabia uma paradinha no Hyatt de Santiago que após uma reforma de alguns milhões de dólares entrou para a categoria Regency.
A cidade, no meio de uma depressão entre montanhas, é continuamente coberta por fumaça e o hotel, na parte mais oriental permite um pouco de alívio e até mesmo uma eventual e magnífica vista da codilheira.
Os serviços estão muito bons e os quartos idem: menu de travesseiros, lençóis de algodão egípcio super convidativos e eletrônicos Bang & Olufsen.
Infelizmente, o chef do restaurante italiano/toscano do hotel não estava muito inspirado no dia que decidi jantar lá e a impressão foi ruim (Sal demais e ingredientes fora do ponto); mas pode ter sido apenas um dia infeliz (ou um cliente!).
Há ainda mais dois restaurantes: um japonês (Matsuri) e um tailandês que não tive tempo de conferir.
O domingo chegou e, na véspera de voltar ao Brasil, descobri que a grande oferta de bons restaurantes de Santiago encolhe, neste dia, para uma meia dúzia de três ou quatro.
Para minha sorte, o concierge do hotel, um gordinho simpático com uma caaara de semita, nos indicou uma preciosidade: o restaurante Da Carla, comida internacional com viés italiano com apresentação e sabor indefectíveis.
Anote o nome e visite o site se quiser reservar via internet pelo site: http://www.dacarla.cl/


Morpheus e family caíram matando em alguns itens do cardápio (relacionados abaixo) que podem muito bem levar o selo Morfético de qualidade:


MINESTRONE GENOVESE Sopa de verduras y legumbres con un toque de pesto genovés.Light broth with fresh vegetables, beans and pasta.
MACHAS DA CARLA Machas en 4 sabores: parmesana, pesto, pomodoro, queso de cabra, y provenzal.Four flavours of pink clams: tomato and goat cheeese, pesto, provençal and parmesan cheese.
CANNELLONI BONAPARTE Cannelloni rellenos de mariscos servidos con salsa de verdura de la temporada.Cannelloni stuffed with selected fish and seafood, served with a sauce of vegetables of the season.
SPAGHETTI DEL PESCATORE Spaghetti con mariscos salteados al vino blanco, ajo, perejil y tomate cóctel.Spaghetti with fresh seafood, sautéed in white wine, with garlic, parsley and cherry tomato.
SANTA MARGHERITA Trufa de chocolate bitter aromatizada al whisky en láminas crocantes de sésamo y helado de café.Whisky flavoured bitter chocolate truffle with coffee ice cream.
CRÈME BRÛLÉE BOMBAY Suave crema horneada y aromatizada a la canela.Crème brûlée flavoured with cinnamon.
O jantar foi acompanhado por aquele que para mim é um dos melhores brancos chilenos de todos os tempos e um dos poucos a honrar, no campo dos brancos, o prestígio vinícola chileno sem ressalvas nem concessões:

Sol de Sol (Chardonnay)

Produzido em pequenas quantidades pela Viña Aquitania. Branco particular, começou a nascer quando Felipe de Solminihac, um dos sócios da vinícola, verificou que as terras de sua família, em Traiguem, muito mais ao sul que qualquer outra zona vinícola do país, ficava no mesmo paralelo de regiões da Nova Zelândia. Plantou alguns poucos hectares de Chardonnay e fez um branco excepcional, fermentado e envelhecido na madeira, à maneira dos grandes da Bourgogne, que chega a evocar. O vinho de 2001 consegue aliar potência, elegância, concentração de sabor e frescor. (Está chegando ao Brasil, importado pela Zahil)

Bom, chega de Chile e voltemos à rotina!


P.S. Imagine a situação: um grupo de vagabundos resolve controlar uma associação de bairro e elegem o mais idiota para líder do bando. Lançam-no para candidato e, efetivamente, o elegem; empossados nos bastidores, começam a perpetrar todos os seus devaneios de controle sobre o local indo cada vez mais fundo até que um dia....
Ops!
São denunciados por um maluco das redondezas à corregedoria da associação; lutam ferozmente como um grupo coeso para escapar das acusações e possíveis penas previstas até que o presidente, o mais idiota, descobre que a sua popularidade é indesgastável; resolve então sair de fininho da defesa dos espertos e propicia um espetáculo até então inédito naquela redondezas: Ali Babá aclamado como intocável, se descola dos 40 ladrões que agora vão a julgamento.
É amigos, acometido pela vaidade (a mesma que jogou Fernandinho Cardoso na oubliette) de uma possível passagem (com grifo positivo) para a história, Ali Babá promove o inédito:
"Nunca na história deste..."
Justamente por isso passou a ser ironizado no bas-fond das gangues como Ali Teflon - aquele em quem nada gruda.
Qualquer semelhança com a realidade ou com presidentes que defendem o caju (isso mesmo, a fruta!) de injustiças gastronômicas simultaneamente ao calvário dos colegas de gangue terá sido mera coincidência.
O caos às vezes escreve certo por linhas tortas.
Enquanto isto, o "Cansei" insiste e está preste a se tornar o primeiro movimento Bovarysta neste que é o sesquicentenário do romance do magistral Flaubert.

PPS E agora para aliviar, se você, que já foi criança um dia, ainda se lembra de umas histórias gravadas em compactos coloridos chamados de Coleção Disquinho
e gostaria de matar saudade e, ou mostrar para alguma criança que você considera inteligente, vá ao site do Opus666 e baixe a coleção. Clique na imagem que morpheus te leva lá.Bom proveito e flashbacks!
PPPS. Finalmente me lembrei de adicionar à barra lateral o link para o blog de Antônio Cícero (Irmão de Marina Lima, Poeta e Filósofo); não deixe de conferir.

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