julho 19, 2007

World Wide (Love) Web

Ufa, mais uma catástrofe nacional no meio do filme de nossas vidas que vai ter que seguir com mais um ferimento, na alma, na mente e no corpo.
O corpo balança e tudo ameaça desabar, é preciso buscar um apoio.
Uma muleta!
Morpheus tem muitas muletas, mas a filosófica é a preferida e é de cima dela que vou falar um pouco hoje; de cima de minha muleta Spinoziana.
Spinoza, o filósofo preferido de Morpheus (não o ex-técnico do Botafogo!), concebia a natureza como um todo: nós, as coisas inanimadas, o mundo mental e a mente de Deus; tudo uma coisa só, eterna e indestrutível. Ele nunca poderia ter assistido a um acidente aéreo, no entanto, suas idéias se encaixaram perfeitamente no modo que escolhi para meditar sobre a repercussão do acidente nas vidas das pessoas que “restaram”.

Ao ver o desespero dos familiares das vítimas do acidente com o Airbus, a concepção Spinoziana acima referida, ganha ares de grande confirmação aos meus olhos. São comoventes as expressões de dor da qual, se não se soubéssemos a origem, poderíamos jurar se tratar de origem física; parecem mesmo nos dar a impressão (e a certeza) de que eles ( os familiares) foram vítimas de amputação, sem anestesia, de uma parte do corpo; com todo sofrimento físico inerente a estas situações.
Nestas horas revela-se a natureza ao mesmo tempo imaterial e física do amor que une a tudo com sua teia, ora mais forte, ora mais tênue.
A morte, suas conseqüências e um eventual "após" sempre foram “o” enigma filosófico e a razão indireta da existência estrutural da concepção do divino em praticamente todo e qualquer agrupamento humano que já apareceu ou que aparecerá sobre a superfície do planeta bem como da origem da nossa confusão à respeito do sentido da vida e da melhor maneira de conduzí-la.
O fato é que, embora tenha havido um tempo em que não existíamos, não conseguimos nos imaginar não-existindo (num futuro) e é por isso que morte segue como mistério insondável ou pelo menos ininteligível mesmo a morte de outrem, a quem amamos.

É assim que o Amor entra como substância e explicação de tudo.

O amor verdadeiro, puro, inteligente, incondicional, Spinoziano, para mim (e uma porção de gente tb!) é o elo entre seu portador e o objeto do seu sentimento: pessoas, parentes, amigos, desconhecidos, a natureza etc.
Por menos que queiram os maus, foi este sentimento que trouxe a humanidade, bem ou mal, ao ponto onde está; é a única força cosmogênica, cosmogônica.
O verdadeiro amor e suas aptidões nos ligam à mônada divina e são as cordas da transcendência, believe me, or die burning!

Sem ele, com perdão da pieguice, beatice etc, somos ovelhas desgarradas, peças isoladas do contexto cósmico.
Pelé disse: love, love, love!
Lennon: Love is all you need!

Foi com este pastiche de flashes na cabeça, que assisti também, com perplexidade filosófica, às lágrimas que afloraram aos olhos das pessoas realmente boas, realmente consternadas com as imagens e desdobramentos do acidente com o Airbus da TAM.
Pessoas nem mesmo remotamente conectadas a quaisquer das vítimas. Simplesmente bons brasileiros.

A verdadeira empatia/simpatia à qual são susceptíveis os bons corações.

Mas o tempo não pára e a semana seguiu em frente chegando ao fim com a reação escrota de um funcionário público, que deveria manter decoro, comemorando com um gesto obsceno, flagrado por uma câmera indiscreta, uma notícia que poderia aliviar a responsabilidade do governo frente às etiologias do acidente: um possível erro humano e, ou falha mecânica (posteriormente, a empresa aérea confirmaria a inativação do reverso da turbina préviamente). Logo a seguir várias empresas (clientes e usuárias) anunciaram a intenção de não utilizar o aeroporto de Congonhas em suas rotinas empresariais: um fechamento de porta após o roubo!

Ah sim, ainda dentre as providências tardias, decidiu-se desafogar a agenda de pousos e decolagens de Congonhas e revogar o seu status de aeroporto de conexão.

Tarde, tudo sempre muito tarde.

O chinesinho reaça do Confúcio etabelecia três vias possíveis para o aprendizado e aquisição da sabedoria:

1ª - Meditar sobre os problemas, ainda não aparentes, mas prováveis diante de uma situação; simulá-los e resolvê-los no plano mental adquirindo maestria para livrarmo-nos deles quando aparecerem (esta é a via mais evoluída, a via dos transcendentes).

2ª - Observar os problemas alheios e resolvê-los como se fossem nossos (esta seria a via intermediária).

3ª - Esperar que os problemas apareçam, sofrê-los na pele, engalfinharmo-nos com eles e aprender na prática...se conseguirmos sobreviver; esta é a via menos evoluída e compõe sua população com mortos, mutilados e burros que ainda esperam integrar um dos 2 primeiros grupos.

Qualquer semelhança entre o Brasil e os participantes do 3º grupo talvez não seja mera coincidência.

Daí conclui-se que: O grande sábio não ostenta cicatrizes, não manca mantendo sempre seu corpo e mente em grande forma com o mínimo esforço.
Mas enfim, hoje é sexta-feira e como bem poderia dizer Robert Smith do The Cure:
It's friday, I'm in love!
Hoje é o dia do amigo, o Brasil tomou o 3º lugar do Canadá no quadro de medalhas do Pan e... Salvador bateu o recorde anual de vendas de garrafas de Champangne e assemelhados num único dia: um espasmo de felicidade que só posso atribuir às comemorações pelo dia do amigo!
Se você conhece outra razão que explique, comente!

P.S. Impressionante mesmo é que só após toda uma série de manifestações mundiais de solidariedade às vítimas, só agora, o nosso governo emitiu a sua.
Não é a toa que se diz que eles (vocês sabem quem!) comem criancinhas!

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