abril 11, 2007

Stoa à toa

O filme "Gladiador" de Ridley Scott foi um blockbuster mundial e chamou atenção de muita gente sobre a antiguidade clássica e seus cacoetes. Aposto que você assistiu e que deve ter atentado para o início quando o exército romano se confronta com bárbaros sob o comando burocrático do imperador ancião Marco Aurélio. Sua participação na trama é curta mas marcante por mostrar um soberano sereno perante o fim da vida num período que coincidiu com os últimos estertores da escola estóica (século II da nossa era), a última grande corrente filosófica prevalente antes da emergência do cristianismo. Marco Aurélio, ele mesmo, era também filósofo e, ao contrário de nosso Fernandinho Cardoso, deixou uma grande contribuição para o mundo das idéias através de aforismos e raciocínios compilados sob o título de "Meditações" que reaparece nas prateleiras das livrarias como: "O guia do imperador". Trata-se de um texto clássico de leitura obrigatória, pelo seu conteúdo e atualidade, tanto para aqueles que desejam liderar como para os que desejam entender a liderança.
À parte estes pontos, o livro é um primor de concisão ideológica e raciocínio filosófico, não perca, compre, leia e deleite-se!
Break para uma ruminação: Alguns livros nos fornecem conteúdo outros, entretenimento e outros, inusitadamente, fazem papel de arrumadeira ou de decorador; no último grupo eu encaixaria com louvor o livro de Luc Ferry, recomendado há alguns posts atrás. A análise desapaixonada do curso da história das idéias é feito de forma clara e concisa ao mesmo tempo em que nos permite entender como cada ponto desta estrada influenciou o seu entorno cronológico no campo das artes, ciências, literatura e política. No campo político existe uma pequena particularidade: soberanos de plantão, futuros tiranos e anarquistas, freqüentemente recorrem ao arquivo ideológico da filosofia para buscar inspiração e estofo ideológico para seus projetos seja usando as idéias in natura ou através de interpretações distorcidas. O livro de Luc Ferry apesar de um título simplório (Aprender a viver) é um texto da mais alta recomendabilidade para quem quer se situar no mundo das idéias principalmente por ter sido escrito por um filósofo com 30 anos de estrada e de amor ao aspecto prático da filosofia. Se você é portador de uma boa cultura nesta área, o livro arrumará o quebra-cabeça e diminuirá a confusão com a cronologia, particularidades e influências no edifício das idéias. Costumo dizer que um bom livro merece no mínimo duas leituras e é justamente após a segunda que volto a abordar este texto já citado anteriormente.
Notas de esclarecimento:
Stoa: Pórtico ou varanda sob os quais os primeiros estóicos se reuniam para filosofar.
Estoicismo (in Houaiss): Doutrina fundada por Zenão de Cício (335-264a.C.), e desenvolvida por várias gerações de filósofos, que se caracteriza por uma ética em que a imperturbalidade, a estirpação das paixões e a aceitação resignada do destino, são as marcas fundamentais do homem sábio, o único apto a experimentar a verdadeira felicidade [O estoicismo exerceu profunda influência na ética cristã.]
2 Derivação: por extensão de sentido. rigidez de princípios morais
3 Derivação: por extensão de sentido. resignação diante do sofrimento, da adversidade, do infortúnio

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