dezembro 02, 2006

Happy Birthday

Talvez hoje eu devesse estar contente!
Contente por estar vivo.
Contente por estar, neste momento, ao abrigo dos problemas mais humilhantes que afligem a nossa supostamente inteligente espécie
Contente por ter uma vida comum
Contente por ter ao meu redor coisas que nem cheguei a desejar
Mas não é assim!
Esse país!
Essa miséria!
Essa violência!
Essa imundície que permeia a sociedade e o estado!
Essa guerra civil não declarada que faz de nossas crianças as mais paranóicas do mundo!
Que p* de país é esse *alho?
Talvez devesse agora mesmo era estar organizando uma sociedade secreta!
Secreta como parecem ter que ser todas boas intenções neste ambiente de vale-tudo.
Talvez hoje eu devesse celebrar entre muitos ou quando nada,
pelo menos, entre alguns poucos, compartilhar meus sonhos, minhas angústias, meu carinho pelo mundo e minha vontade de participar de maneira decisiva da sua história.
No entanto não consigo ver tais pessoas
Estaria cego ou atrás de lentes imprestáveis!
Quem as colocou em mim?
Hoje caminho só e sozinho sobre um deserto de pessoas desejáveis e sob o sol inclemente da solidão.
A lucidez aumenta ainda mais este calor ofuscante que não é amenizado em nada por um cerrar, ainda que prolongado, de olhos.
Ora, ora, deixemos de existencialismos todo mundo sabe que a vida flerta entre o ser e o nada!
Talvez hoje seja para mim, isso sim, o dia nacional da perplexidade!
Perplexidades se prestam a canções e a textos livres
Uma espécie de estrabismo afetivo paroxístico e sazonal
Criticamente prevalente, vejam só, no dia do Samba!
Mas só se for o samba de Batatinha, aquele sambista incrivelmente melancólico e baiano como eu!
Talvez sim, talvez não não são introduções para quem na minha idade certo ou errado, creio, deva ser categórico: é hora de acelerar para cima ou...para baixo, sai da frente!
Esta noite planejo conversar com minhas memórias e com todas as outras pessoas que vieram morar dentro da lucidez que ainda porto. Fazem-me boa companhia, é certo, mas preciso de muito esforço para expulsá-las quando quero entrar em transe.
Aprendi isto com Verger (que lamentava nunca tê-lo conseguido),
rico francês!
Uma soneca, um bom vinho e o auxílio de Baden, Pixinguinha e Caymmi são meus antídotos preferidos para o banzo do aniversário: estes últimos, basta invocá-los e me fazem uma faxina destas que a alma brilha de fachiar os olhos.
Enfim...
Talvez porque hoje seja sábado tenha me dado uma vontade incrível de tomar umas, escrever algo, olhar para o mar e, tocando uma canção alienada ao violão, ao final do dia, sentado no trono de um apartamento que envelhece junto comigo, dizer olhando no espelho: Feliz Aniversário

2 comentários:

Anônimo disse...

Manellis; Parabéns, belíssimo post. realmente há muito o que refletir sobre a nossa realidade! Feliz Aniversário!

Anônimo disse...

Manellis, querendo fugir dos lugares comuns, queria dizer-lhe que fico feliz em saber que existem pessoas como você, que se permite fugir da lucidez e mergulhar na perplexidade, no existencialismo (e não tem vergonha!). Nesse nosso mundo cada vez mais sem sentimento eu as vezes também me pertgunto: onde anda o sentimento do mundo? Infelizmente vejo que a evolução humana ganha moldes da revolução industrial e a vida transforma-se numa infinidades de coisas práticas, mecanizadas e padronizadas, fazendo o maldito que inventou a frase "tempo é dinheiro" gargalhar em seu leito de morte.
Onde anda a poesia? O amor às pequenas coisas? A paixão verdadeira e irrestrita? Onde anda o sonhador?
Sem delongas, queria desejar-lhe parabéns pelo seu aniversário e pelo idealista que é. Não que roubem os seus sonhos, afinal os sonhos não envelhecem, mesmo após nossos aniversários.

Alexandre Figueiredo

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