dezembro 27, 2006

Funarius Rufius

Bragueado em baianês significa atordoado e só uma bragueada da minha parte prá deixar de falar de Braguinha imediatamente após o seu passamento no último domingo de Natal.
O nosso João de Barro adotou este nome para fugir da recriminação da família à associação do nome Braga com a vida boêmia vindo também a adotar o heterônimo latino do título do post, que é o nome científico do passarinho, para fugir de recriminações moralistas depois de compor "O que é que há" (com sua baratinha que não quer funcionar)".
O mais longevo dos compositores brasileiros nos deixou no domingo de natal como se o criador quisesse ouvi-lo mais de perto, junto com Pixinguinha é claro.
De pensar que Pixinguinha chegou a cultivar preocupações pelo fato de Carinhoso só ter duas partes quando como todo choro deveria ter três (é um rondó: A-B-A-C-A)...imagine.
Braguinha contradizia os nihilistas que teorizam que as contribuições artísticas significativas à MPB só acontecem na juventude dos compositores e mostra que a criatividade não é incompatível com o envelhecimento, nem na MPB.
Leia o trecho abaixo compilado da s letras de Braguinha e se ache dentro da obra daquele que foi uma vez cumprimentado por Ziraldo como "O" Cancioneiro Nacional:
O Rio amanheceu cantando, toda a cidade amanheceu em flor, os namorados vão para a rua em bando porque a primavera é a estação do amor.
A estrela-d'alva no céu desponta e a lua anda tonta com tamanho esplendor e as pastorinhas, para consolo da lua, vão cantando na rua lindos versos de amor.
Branca é branca, preta é preta, mas a mulata é a tal, quando ela passa todo mundo grita: estou aí nessa marmita.
Yes, nós temos bananas, bananas para dar e vender, banana menina, tem vitamina, banana engorda e faz crescer.
Cadê Mimi, que fugiu para Xangai e do meu pensamento não sai.
Conheci uma espanhola natural da Catalunha, queria que eu tocasse castanhola e pegasse touro a unha.
Copacabana princesinha do mar, pelas manhãs tu és a vida a cantar e à tardinha ao sol poente deixa sempre uma saudade na gente.
Pela estrada afora eu vou bem sozinha, levar esses doces para a vovozinha.
Ela mora longe, o caminho é deserto e o lobo mau passeia aqui por perto.Eu sou o lobo mau, eu pego as criancinhas para fazer mingau, hoje estou contente vai haver festança tenho um bom petisco para encher a minha pança.
Vai, com jeito vai, senão um dia a casa cai.
Nós somos as cantoras do rádio, levamos a vida a cantar, de noite embalamos seus sonhos, de manhã nós vamos te acordar.
Meu coração, não sei por que, bate feliz quando te vê e os meus olhos ficam sorrindo e pelas ruas vão te seguindo, mas, mesmo assim, foges de mim.
O povo invade a barca e lentamente, a velha barca deixa o velho cais, fim de semana que transforma a gente em bando alegre de colegiais.
Pois é, Braguinha é isso aí, imagem paisagem sob os arcos da Lapa ou sobre o padrão gráfico da calçada de Copacabana, um brasileiro exemplar.
O natal lá em cima teve um grande convidado de honra!

Saudades!

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